Segundo o horóscopo chinês, 2017 será o ano do galo. Entre outras coisas isso quer dizer que estaremos todos mais impacientes, uma vez que o penoso é um bicho arisco.
Que coisa boa poder culpar um simples galo imaginário pela minha total falta de paciência para com algumas coisas. Chineses, seu fofos, hashtag gratidão para vocês!
Pois bem, o ano ainda nem começou direito e a ave já ciscou no meu terreiro: paciência zero para o infantiloidismo.
São características do infantiloidismo:
O infantiloidismo é um mecanismo de defesa do ego. Para preservar-se de uma possível dissolução, o ego cria uma capa impermeável que impede a entrada da luz: a realidade.
O problema é que assim como as crianças não ficam invisíveis debaixo da mesa da sala de jantar – como elas imaginam – quem veste a capa do infantiloidismo a mando do ego também não. Pelo contrário! Quanto mais um infantiloide nega sua dura realidade na tentativa de ocultar seus medos e faltas, mais esses medos e faltas se tornam evidentes tanto para ele quanto para o interlocutor.
Ninguém está imune ao infantiloidismo. Vez ou outra, caímos na esparrela da capa impermeável da invisibilidade e da salvação eterna. Mas fazer disso um estilo de vida é outra história – lembrando que tudo o que passa de três meses deixa de ser fase para se tornar um estilo de vida.
Outro probleminha trazido por essa capinha nada fashion? O pensamento mágico. Ao vestirmos o presente de grego do ego somos invadidos pelo sentimento de que algo mágico vai nos acontecer porque somos especiais, escolhidos, sortudos; porque temos bom coração. Vestidos com a tal capa impermeável nos sentimos capazes de tudo: de mudar de emprego, de morar fora do país, de emagrecer dezenas de quilos, de abrir um novo negócio, comprar um apartamento, casar, ter filhos, mandar todo mundo à merda, etc, etc, etc.
Mas de repente, não mais que de repente, eis que vaza um fiozinho de realidade por entre os furinhos dos botões da indumentária e pronto. Esse fiozinho é o suficiente para fazer um estrago gigantesco. Se vestidos com a capa somos invencíveis, diante de um fio de luz de nossa parca realidade nos sentimos um zero à esquerda, um fracasso, uma ameba sem energia para ir daqui à padaria.
E por que aceitamos esse presente amaldiçoado, essa capa diabólica que serve apenas para nos enganar? Porque ela confere conforto, o conforto de não precisarmos agir, de não precisarmos nos responsabilizar por nada, ou melhor, o pseudo-conforto da fantasia e da inércia – só quem chuta perde (ou acerta) o gol, certo?
Ao dizermos “não, obrigada”, para o presentinho, estamos automaticamente assumindo que cabe somente a nós mudarmos nossas vidas e que ninguém é culpado pelas escolhas que fizemos e que nos trouxeram para o lugar aonde chegamos.
Nesse caso não tem astrologia chinesa, hindu, galo, galinha, arara rosa ou preta, papagaio ou hipopótamo para culpar.
Que tal observar em que momento o ego está ofertando o regalo e qual a sua motivação para aceitá-lo antes de vesti-lo?
Nossas mães nos ensinaram a não aceitarmos balas de estranhos, né? O ego é um estranho se fingindo de amigo e sua case pode ser tão perigosa quanto uma bala alucinógena. Pense nisso! E bom banho de chuva, porque a vida foi feita para a gente se molhar…
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