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10 dicas importantes para escolher a escola onde nossos filhos estudam

A escola adequada aos nossos filhos

Por Talita Rosetti Souza Mendes – Mestre em Estudos de Linguagem pela PUC-Rio 

Dicas importantes para escolher uma instituição de ensino interessante

A escola assume e desempenha um importante papel em nossa sociedade. Nela, crianças e adolescentes passam boa parte do tempo produzindo conhecimento e dividindo experiências sociais fora do âmbito familiar. É normal, por isso, que haja expectativas e preocupações em relação à escolha de uma escola que traga contribuições importantes para o cotidiano e para o futuro de nossos filhos. Essa decisão, entretanto, deve ser racional e fruto de muita pesquisa e de muito esclarecimento – não deve ser pautada por nenhum outro critério que não seja o conhecimento ou a clareza diante de metodologias, das filosofias e das práticas oferecidas pelas instituições de ensino. Abaixo, listo algumas dicas para pais que trabalham em outras áreas e precisam de orientações básicas sobre a educação e sobre o funcionamento escolar. Antes de matricular crianças em escolas, é preciso estar informado.  A informação, como sempre, evita uma série de desgastes e futuros problemas.

1-Entre os projetos pedagógicos e o comprometimento com o ensino proposto

Toda escola tem um documento chamado “Projeto Político Pedagógico” – conhecido também entre os educadores como PPP. Nele, constam as principais diretrizes seguidas pela instituição. Deve, portanto, ser de fácil acesso aos pais e aos professores. Em algumas escolas, ele é a orientação de todos os processos educacionais. Em outras, infelizmente, é apenas um papel guardado na gaveta. Ao visitar uma escola, é possível pedir esclarecimentos sobre esse projeto. É uma forma de entender como são conduzidas as questões dentro do ambiente escolar e de cobrar, futuramente, caso a conduta da instituição não seja compatível com a proposta apresentada. Escolas sérias esclarecem, ainda em um primeiro contato, suas filosofias e seus objetivos a partir do PPP. Em seguida, cumprem a palavra que estabeleceram através do documento. Se uma escola não tiver o PPP em mãos ou o coordenador não souber falar sobre ele, desconfie. Uma escola sem questões norteadoras pode ser desorganizada frente ao ensino.2

2- Entre o ritmo da escola e o compasso dos alunos

Escolas – assim como crianças – têm ritmos e características diferentes, por isso a escola perfeita para o seu filho pode não ser a mesma do filho do vizinho ou de alguém da sua família. Antes de matricular em uma escola, é preciso verificar, racionalmente, quais são as reais necessidades e as particularidades da criança que se tem em casa. Alguns pais, levados por propagandas ou indicações de pessoas próximas, matriculam seus filhos em escolas cujos métodos não atendem suas necessidades, gerando frustrações e desconfortos. Reitero aqui a necessidade de reconhecer o Projeto Político Pedagógico ou a “missão” da escola  como ferramenta para descobrir se a instituição em questão é apropriada para o ritmo de estudo e de vida dos filhos. Algumas crianças precisam de metodologias mais flexíveis ao passo que outras se desenvolvem mais em ambientes desafiadores e com ritmo um mais acelerado. Antes de escolher, é preciso reconhecer – sem ilusões – os próprios filhos. Depois disso, investigar, entre muitíssimas opções, uma escola bacana para eles.

3- Entre os conteúdos selecionados e as avaliações propostas

Há, no senso comum, a crença de que uma escola que trabalha muitos conteúdos por ano é mais “forte” do que outras. Frente a esse discurso, cabe ressaltar que quantidade e qualidade são questões, absolutamente, distintas. Uma escola que ensina e cobra diversos capítulos ou aplica um número dobrado de avaliações não necessariamente ensina com qualidade e proporciona ao aluno uma visão diferenciada daquilo que aprende. O mesmo acontece com deveres de casa. Um aluno pode fazer 15 exercícios com mais atenção e visão crítica do que 100 exercícios semanais. Alguns pais gostam de números, mas é preciso ter cuidado com eles. O excesso, assim como a ausência de tarefas, pode ser um mau sinal. Vale ressaltar que a natureza dos exercícios e das avaliações é muito importante. Elas são contextualizadas ou isoladas da realidade? Qual crescimento intelectual está sendo oferecido por meio dos materiais da escola? Ao estudar com seu filho, reflita sobre isso. A escola precisa oferecer e desenvolver reflexões. É importante formar pessoas que pensam e não robôs que fazem exercícios mecânicos de forma automática, sem propósitos ou apenas para elaborar provas ou obter resultados em vestibulares. A educação reune um conglomerado de funções. Seu objetivo social deve ser maior que isso.

4- Do espaço escolar aos momentos de descontração na escola

“Escola com jeito de apartamento não é bacana” – diria uma professora de Português amiga minha. E, no fundo, concordo com a sua visão. Embora algumas crianças prefiram estudar em colégios menores, uma escola que não possui espaço adequado para descontração em momentos de intervalo, realmente, parece um local sufocante. Faz parte da socialização de crianças e de adolescentes conversarem, jogarem bola, brincarem em períodos fora da sala de aula. Escolas com corredores apertados, salas minúsculas, sem quadras esportivas, sem bibliotecas ou salas de leitura e ambientes diferenciados descaracterizam o ar escolar. Ficam, inevitavelmente, comparáveis a presídios. Algumas crianças lidarão bem com isso – outras não. Novamente, vale ressaltar que é importante reconhecer as necessidades de nossos filhos.

5- Do diálogo com os responsáveis pela escola aos profissionais que lidam com alunos

Diálogo é uma palavra que precisa ser chave em escolas. Afinal, nossos filhos devem estar lá para crescer na dialética das relações e dos pensamentos. Se não há livre acesso a coordenadores, a professores e a demais profissionais que lidam com os alunos, algo não está acertado. Alguns deles precisam reconhecer os estudantes para, tranquilamente, passar informações cotidianas necessárias aos responsáveis. Aqui, vale lembrar que o atendimento aos pais deve acontecer de forma agendada para os dois. Ao mesmo tempo em que há perdas incríveis quando pais e professores/coordenadores não dialogam, não se pode exigir que todos os profissionais da escola – com vida nitidamente corrida e com muitas demandas – estejam sempre disponíveis no horário estipulado somente pelos pais. É preciso ter um pouco de paciência e não desistir dessa troca.

6- Dos profissionais de apoio aos serviços obrigatórios

A escola não se resume às salas e às aulas dadas, visto que é também espaço para muita correria, para muito encontro e para diversos desencontros entre alunos. Dentro de um colégio, crianças também brigam, desabafam, quebram pernas e torcem braços. Ali, descarregam emoções, aprendem a lidar com pequenas e grandes frustrações. Por essa razão, profissionais como inspetores, psicopedagogos, psicólogos e enfermeiros são importantes caso aconteça alguma situação comum a crianças e a adolescentes em período escolar. Sem dúvidas, a presença de especialistas para prestar apoios psicológicos e médicos pode deixar pais mais seguros. Uma escola que investe na segurança é uma instituição que preza pelo bem estar delas. Muitas observam esses profissionais apenas como gastos e os dispensam – isso não é nada interessante.

7- Dos professores ao currículo obrigatório

Assim como cada criança e cada escola, cada professor tem o seu perfil e, no fundo, o que importa é como ele se compromete com a educação de seus filhos. Às vezes, crianças – como muitos adultos – constroem rótulos por afinidades e acabam acreditando que o professor mais engraçado ou mais liberal deve ser mais aceito ou mais confiável. O professor rígido e sério, por sua vez, fica – em muitos casos – deixado de lado ou sendo hostilizado pelos alunos e, muitas vezes, também pelos responsáveis. É interessante quando pais ajudam crianças a desconstruírem essas imagens, incentivando que alunos percebam seus professores como seres particulares. O fato de escreverem muito ou pouco no caderno também não significa algo concreto – alguns são ótimos expositores e, na fala e na dinâmica, garantem o aprendizado dos alunos. Alguns pais se apegam a cadernos – ainda que esteja tudo escrito no livro. Cabe aqui relembrar que o professor é um mediador de saberes, não um copia-e-cola de frases ou de esquemas prontos no quadro. Quanto ao currículo ou à grade escolar, é preciso verificar se a escola disponibiliza as aulas obrigatórias estipuladas pelo MEC. Algumas disciplinas  (línguas estrangeiras, educação física, história da arte, sociologia e filosofia) costumam ser desprezadas em detrimento de outras mais tradicionais como Matemática, Língua Portuguesa, História e Geografia. Antes de matricular, pergunte sobre a dinâmica das aulas e das matérias disponíveis nas escolas.

8- Dos projetos extracurriculares aos serviços oferecidos como bônus

Escolas diferenciadas enxergam além-sala. Elaboram projetos e passeios escolares que consolidam o aprendizado. Além disso, valorizam ambientes culturais e práticas esportivas. Incentivam alunos através de concursos e motivam a partir de atividades inesperadas. Não medem esforços, nem cortam gastos quando o assunto é o crescimento do aluno e sua formação como ser humano. Ao matricular seu filho, pergunte sobre serviços oferecidos. Por mais que pareçam bônus, podem fazer uma grande diferença em como seu filho vai encarar o mundo. Não se aprende apenas estudando para realizar uma prova. Aliás, eu diria que se aprende menos até.

9- Das regras estabelecidas às punições aplicadas

Escolas, como muitas instituições sociais, adotam regras para que se possa garantir certa ordem e, como sabemos, crianças e adolescentes nem sempre compreendem a importância de determinadas regras. Aos pais, cabe a tarefa de não só orientar filhos, mas também buscar informações prévias sobre as normas escolares. É comum, depois de algum tempo, alguns pais questionarem algo que não leram com os filhos em manuais norteadores da escola. Levantar a questão não é o problema, porém questionar boa parte das regras de uma escola, após ter concordado em matricular o filho na instituição, não é coerente. Antes de efetivar a matrícula, veja se não há um “guia do aluno” ou um “manual da família”. Escolas cujas regras são realmente seguidas possuem tudo escrito em algum material a ser entregue aos pais. Ao longo da análise do material, os pais devem refletir se as punições são equilibradas ou abusivas – se realmente fazem o aluno e a família repensarem suas questões ou se punem de modo exagerado e insano por qualquer motivo. Aqui, vale lembrar que uma escola que preza pela assiduidade, pela pontualidade, pela democracia e pelo comprometimento está apenas faz o papel dela. Pais não devem ficar bravos com isso.

10- Do cuidado com o ambiente às situações de emergência

O cuidado com o ambiente é essencial – sobretudo em locais onde há estudantes muito jovens. É interessante, dessa forma, fazer uma visita além-secretaria para conhecer mais de perto o espaço onde os filhos estudarão. Algumas instituições fazem uma espécie de visita guiada pelas salas, pela biblioteca, pela sala de artes, entre outros. Nesse momento, é hora de observar com atenção. Um ambiente com infiltrações ou com ventilador/ar condicionado sujo, por exemplo, pode trazer prejuízos a alunos alérgicos ou com algum outro tipo de especificidade. Outra questão que precisa ser verificada é se há saídas e instrumentos de emergência em caso de situações sérias como um incêndio. Não gosto de pensar no pior, mas, desde aquela tragédia, na Boate Kiss – em Santa Maria, tenho me perguntado por que algumas escolas não contam com extintores de incêndio nos corredores e com possibilidades de saída rápida como escadas alternativas e portões mais largos. Dentro de uma escola, por menor que seja, há um número expressivo de funcionários e de crianças. É preciso que, em caso de emergência, seja possível retirar todos de modo fácil.

Para finalizar o artigo, sinto a necessidade de expressar que só pais interessados encontram, renovam e contribuem para escolas interessantes que existem aos montes em vários lugares do país. Ao contratá-las para escolarizar filhos, é preciso estabelecer parceria, união, pois a educação das crianças não se constrói de forma unilateral. Não adianta pagar e confiar em uma escola que atenda bastantes expectativas se pais estiverem ausentes do processo escolar e da aliança que deveria ser construída com os profissionais da escola. Antes de lançar sobre as instituições olhares desconfiados e exigentes, é preciso também analisar se as funções familiares estão sendo exercidas de modo a propiciar à escola o seu papel fundamental: informar, formar e reformar cidadãos. Boa sorte em suas pesquisas!

Sobre a autora:

Talita Rosetti é brasileira – nascida  em Niterói, cidade do Rio de Janeiro. Atua como professora de Redação de, aproximadamente, 380 jovens e é Mestre em Estudos de Linguagem pela PUC-Rio. Atualmente, pesquisa sobre políticas públicas de inclusão relacionadas à educação básica e sobre distúrbios de aprendizagem como Dislexia.  Acredita que o processo de ensino-aprendizado pode e deve ser refletido e aprimorado, de forma contínua, não só pelos profissionais da educação, mas pelos demais membros da sociedade.”

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As publicações do CONTI outra são desenvolvidas e selecionadas tendo em vista o conteúdo, a delicadeza e a simplicidade na transmissão das informações. Objetivamos a promoção de verdadeiras reflexões e o despertar de sentimentos.

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