Por Clara Baccarin
Hoje é segunda-feira, o meu dia da semana favorito! Não, nem sempre foi assim, quantos anos eu passei odiando as segundas, tomando toneladas de café sem açúcar para ver se o dia ficava mais doce. Mas hoje eu bendigo esse dia! Há algumas razões para isso, uma delas é que eu odeio domingo, para mim, domingo tem cara de TPM com sinusite aguda e enxaqueca. Eu choro horrores em quase todos eles. Tudo o que escrevo no domingo são textos pré-suicidas (exagerando só um pouquinho). Por isso segunda-feira é a calmaria pós tsunami. E para a sua sorte e também para a minha, hoje é segunda e esse é um texto sorridente! Outro motivo de hoje em dia eu amar as segundas-feiras é que eu sei que vai começar mais uma semana de muitos escritos, é que eu faço o que amo, apesar de não ser isso que paga minhas contas. Segunda é dia de me autocortejar! Por isso resolvi escrever esse texto hoje, quero compartilhar 10 motivos que me fazem me dar muito bem comigo mesma!
Só um recadinho antes de começar! Pra quem não sabe, regularmente eu escrevo textos ‘listas’ como esse! Veja esse aqui também! 😉
E pode ficar tranquilo que apesar do tom autoajuda, eu tento não ser clichê, sou no mínimo poética e engraçada.
Segue a lista do amor próprio, autoconfiante, de quem aprendeu a fazer fusquinha para aquela segunda-feira chata e intragável!
Quero começar com um item que julgo essencial para que eu possa aproveitar minha própria companhia: o desapego. Esse é um conceito extremamente amplo e eu poderia escrever um livro só sobre isso (aliás já fiz isso, é meu livro Castelos Tropicais). Mas, quero aqui apenas falar sobre algumas facetas de viver de uma forma mais desapegada e independente. Já pensou em cortar laços? Já pensou em tentar se desprender de suas raízes para ver como são seus passos fora da zona de conforto? Já pensou o que você pode ser e aonde pode chegar se você se libertar disso que te prende num solo e te dá estrutura, mas também te limita a visão? Já pensou descobrir que você pode voar se abandonar os tripés, as muletas, se se desapegar dos eternos corrimãos em forma de segurança? Você vai inclusive aprender a se desfazer de fantasias que são tão velhas que parecem terem sido costuradas em sua pele. Vai aprender a se despir dessa camuflagem que te iguala à paisagens tantas vezes cinzas. Desapegar não significa necessariamente dizer adeus, muitas vezes significa apenas dizer ‘não’, ‘minha visão é outra’, ‘eu quero mais’, ‘eu sou diferente’… Ao se despir, ao se diferenciar, pode ser que você se encontre. E reencontros são sempre motivos de comemoração.
Esse número dois tem a ver também com desconstruir. Parece que desde criança aprendemos que importante mesmo é construir uma bolha forte e segura para que possamos morar dentro. A velha moral da história dos três porquinhos. Com muito trabalho, construímos nossas casinhas de tijolos, de preferência uma casinha cheia de paredes e com poucas portas e janelas para que lobo mau nenhum se atreva a entrar. Temos que nos proteger! Mas você já parou para imaginar o que há atrás de tantas paredes? Essas paredes que eu chamo de verdades, construídas com tijolos antigos, com uma receita ultrapassada, que sim, te protege, mas também te resguarda da vida, da imaginação, de um universo com diversas possibilidades. Atrás dessas paredes existe um quintal, uma floresta, um oceano. Existem também lobos maus, abismos e labirintos, mas até eles podem ser bem divertidos. Demolir paredes leva tempo, desmoronar as próprias verdades exige que você use como ferramenta o auto diálogo, a coragem e a vontade de ver lados seus que quase viraram a última bonequinha russa, quieta e fechadinha dentro de tantas outras. Mas, se há vontade, você consegue quebrar as cascas e renascer. Talvez abrir apenas grandes portas e janelas nas suas pareces já é o suficiente.
Nesse caminho de descosturar fantasias antigas da própria pele e libertar bonequinhas russas, pode acontecer que você decida enfim mudar os protagonistas de sua vida. Já pensou em colocar na frente do palco aqueles atores coadjuvantes, aquele cara que sempre fazia papel de árvore, aquela mulher estabanada que ficava sempre atrás da princesa emplastada de maquiagem? Já pensou em recuperar aquela pessoa que existia na infância quando você era mais você mesmo? Colocar esses seres desprezados como atuantes nos seus dias. Agora eles têm voz e vez e histórias novinhas e mais coerentes para serem desvendadas.
Daí então seu olhar muda. Daí então você começa a querer estar perto do que combina com esses novos protagonistas. Daí então você começa a querer o que te faz rir, começa a prestar atenção em coisas que normalmente seriam ignoradas. Seus olhos ficam afiados, agora você consegue distinguir melhor entre um diamante falso e um verdadeiro. Nem sempre dá certo, é verdade. Mas mesmo quando acontece o engano, você já está tão livre que consegue fugir rapidinho do que não interessa.
Ao quebrar verdades o que sobra? Nada e tudo. Você tem um mundo aberto para ser e criar. Acho que vivemos apegados à definições, à nomenclaturas, à receitas. Tenho que ter um nome, uma forma, senão quem serei eu? E se você perceber que não existe manual do autoconhecimento, que não existe uma loja que venda personalidades prontas, redondinhas e bem definidas? Estereótipos são muletas falsas. Se dar bem consigo mesmo tem a ver também com aceitar seu lado bipolar, sua esquizofrenia, sua múltipla personalidade, sua inconstância, as diferentes vozes falando dentro de você. Tudo na vida é movimento, porque sua personalidade não seria? Deixe-se ter estações, dias de sol, dias de dilúvio. As verdades são efêmeras, então não crie uma bíblia de si mesmo.
Sem querer querendo, ao começar a me divertir mais comigo mesma, meus sonhos mudaram. Parece que meus sonhos são uma festa vip, para entrar tem que saber a senha, e ela geralmente começa com olhos nos olhos. Claro que muitos penetras curiosos ainda continuam a invadir meus sonhos, esses que chegam de mãos abanando e vêm apenas para comer o bolo, beber a cerveja e deixar minha alma bagunçada. Um penetra de vez em quando até anima a festa. Mas gosto de continuar dizendo que meus sonhos são festas vip, assim posso comemorar em paz, com convidados que trazem presentes e se embebedam junto comigo.
Daí quando surge um penetra, ou quando a festa vip está muito boa que até nos dias de labuta ela fica existindo no pensamento, também quando a festa acaba e deixa aquela vontade imensa de quero mais ou então uma mega ressaca. Ainda é possível se divertir sozinho. Qualquer sobra, qualquer bagunça, qualquer lembrança pode ser reciclada, pode virar música, pintura ou poema. Os excessos e sobras da alma são obras de arte.
Depois de ter feito muita arte, muitos poemas, escrito textos como esse e ainda perceber os velhos rabugentos insistindo em palestrar por dentro. Essas falas velhas e ranzinzas em forma de mágoa, em forma de desgosto podem ser ofuscadas com música. Lembra quando éramos crianças e quando não queríamos ouvir aquele amigo chato, tampávamos os ouvidos e cantávamos alto ‘Lá lá lá lá’? É praticamente a mesma coisa, mas hoje em dia geralmente eu tomo um banho e canto alto um Chico Buarque (talvez não seja a melhor escolha, por causa de alguma mulheres sofridas, mas mesmo assim comigo dá certo).
Voltando a falar de mudança no foco de atenção e também sobre mudança de protagonistas, penso que existem aquelas mini nuvenzinhas falando coisas em meus ouvidos. Mas hoje quem faz o papel do anjinho é a intuição, e o diabinho são os conselhos. Claro, pode ser que nem todos os conselhos sejam ruins ou mal intencionados, mas quem vai decidir se um conselho é válido ou não é o meu anjinho. Escuto um conselho, depois escuto a minha intuição e filtro. A intuição conhece mais a minha felicidade. Estou aprendendo a ouvi-la mais e mais.
Vou terminar com uma coisa que ando tentando ter a humildade de aprender. Essa coisa de muitas vezes me sentir afundando nesse mar de lama que muitas vezes a vida parece ser, e eu me debato e grito e quero sair, quero ser resgatada, brado aos sete ventos ‘Socorro! Ajuda! Me tirem daqui!’ E acontece que vez ou outra passam barcos me jogando boias salva vidas, e eu geralmente furo todas. Deve ser só para continuar me debatendo e chamando a atenção. Quero ter a humidade de aceitar ajudas e conseguir sair desse mar que ao mesmo tempo que me engole me seduz. Acho que aprender a boiar também me fará curtir mais as paisagens dessa trajetória.
Por enquanto é isso! Que sua semana tenha muitas festas vip! 😉
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