Em geral, nós tendemos a valorizar pessoas genuínas e pensar mal daquelas que percebemos como falsas.
É quase impossível escapar da falsidade em toda e qualquer circunstância, pois, no âmago de sua motivação, há um esforço consciente para se parecer mais capaz, inteligente, atraente ou impressionante e, por isso, é mais difícil encontrar pessoas que se preocupam realmente com nossas opiniões além das aparências.
Somos mais propensos a confiar em uma pessoa genuína do que falsa, pois acreditamos que aqueles que são fiéis a si mesmos são mais suscetíveis de ser verdadeiros com outras pessoas. Essa não deveria ser uma associação óbvia, visto que a crença fervorosa na genuinidade de alguém diminui a sensibilidade para perceber manifestações de falsidade desta pessoa, por mais genuína que ela possa parecer. De acordo com o escritor escocês Oscar Wilde:
“A verdade pura e simples é raramente pura e nunca simples.”
Todos nós mentimos, por múltiplas razões, mas isso não infere que devamos aceitar um status de mentirosos, pois não há alguém totalmente verdadeiro nem falso.
Costumamos associar a genuinidade com características positivas e qualificantes, tais como força de caráter e personalidade, resiliência emocional, fidelidade, tenacidade e, muitas vezes, até a coragem e bravura. Muitas jornadas de autodescoberta envolvem esforços para ser mais autêntico. Autoengano não combina com autenticidade.
Genuinidade, o que faz ser tão atraente, demanda sinceridade, naturalidade. Uma pessoa genuína não precisa esconder sua própria realidade.
Há uma beleza peculiar e irresistível na singularidade de cada pessoa, a qual notamos somente se ela for autêntica e, mais ainda, se for genuína.
O problema é que todas as relações humanas são relativas. Elas estão todas em função de como percebemos uns aos outros através de nossas lentes subjetivas. O nosso foco determina a nossa realidade.
Nós somos bons julgadores das aparências de alguém, mas críticos pobres de seu caráter e de sua personalidade verdadeira. Somos rápidos para julgar alguém a partir de seu comportamento exterior, ao invés de analisar as razões intrínsecas desse agir. Como disse Nicolau Maquiavel em seu magnífico livro O Príncipe:
“Pessoas julgam muito mais pelo que veem do que pelo que percebem. Todos podem ver e ouvir, porém, poucos são capazes de perceber para além das aparências. Veem o que você aparenta ser, mas poucos sabem o que você realmente é.”
Não é fácil diferenciar o ato do pensamento julgador, porque uma impressão é subjacente à ação, e também, há uma linha tênue entre ser genuinamente agradável e magnanimamente falso.
Alguns argumentam que, para se viver relacionamentos mais saudáveis, é essencial se cercar de pessoas genuínas, pois estas exteriorizam suas verdadeiras intenções e atitudes, e agem com uma consistência que as torna previsivelmente familiares e, portanto, são mais passíveis de ser assimiladas, o que facilita o convívio. Outros preferem pessoas mais imprevisíveis e misteriosas, o que também lhes confere um misto de curiosidade e fascinação, apesar da avariada inconsistência praticada.
Voltando a falar sobre integridade, talvez esse seja o traço comportamental mais diretamente relacionado com a genuinidade.
Todos sabem que é louvável alguém conseguir manter sua palavra rotineiramente, mas a experiência mostra que a maioria das pessoas dá uma importância mínima ao cumprimento de suas promessas.
Manter a palavra torna-se um desafio maior na medida em que isso vá contra às exigências e necessidades pessoais. Segundo Nicolau Maquiavel:
“As pessoas se distraem com coisas tão simples e se ocupam tanto com as necessidades diárias, que aquele que estiver disposto a enganar encontrará sempre a quem enganar e, não raras vezes, logo em seguida, encontrará também o perdão ou o esquecimento de quem o enganou.”
Vivemos num mundo composto por uma atmosfera de ilusões que turva nossa visão para as coisas realmente genuínas. As pessoas se deixam levar pelas aparências, porque não querem se dar ao luxo de compreender uma pessoa em toda sua subjetividade e interioridade, uma vez que é mais fácil categorizá-las.
Essa dificuldade de genuinidade tem raízes no aprendizado de que clareza e transparência podem revelar fraquezas e vulnerabilidades ou, ainda, despertar inveja, raiva, mesquinharia ou ganância dos demais. Como consequência dessa atribuição comum, muitas vezes evitamos nos abrir completamente. Evitamos falar toda a verdade, omitindo-a, ou então contando pequenas mentiras para nos proteger.
O escritor George R.R Martin sempre diz que “o homem mais depressa nega uma verdade dura do que a enfrenta”. É o que costuma acontecer.
É claro que a grande massa dos seres humanos ainda se esforça para parecer honesta, íntegra, decente, generosa e justa. Mas sabemos que levar isso ao pé da letra é ingênuo e equivocado, por mais que se possa conhecer pessoas leais e saber que elas praticam essas virtudes com regularidade.
Ainda há outro ponto: não somos sempre genuínos porque sabemos que a verdade pode ofender; sendo assim, fingimos ou disfarçamos. Vivemos em duplicidade. Como disse o jornalista e filósofo brasileiro Jacob Petry:
“Em vez de dizer o que verdadeiramente pensamos, falamos o que o outro quer ouvir, criando um enorme faz de conta, um teatro de aparências. No palco, tudo parece calmo e sob controle, perfeitamente em ordem. Mas no palco, as pessoas deixam de lado quem de fato são para representar determinados papeis. É quando as cortinas se fecham que as emoções negativas emergem. Na escuridão dos bastidores é onde os dramas são armados e a ganância, inveja, o ódio e o desejo de domínio e manipulação reinam quase absolutas.”
Estudos apontam que, num processo de comunicação regular, menos de 20% do que na realidade importa é dito de forma direta, através de palavras. Esse é o reflexo de se perder em distrações e aparências.
É preciso ir além das palavras. Tentar estabelecer empatia e compreender as reais necessidades das pessoas. Mas, na maioria das vezes, ouvimos apenas o que queremos ouvir. Nossa mente está confinada a um canal estreito no qual projeta nossos próprios desejos através do que ouvimos.
Ser genuíno é uma qualidade rara em um mundo cheio de virtualismos e falsificações. E detalhe: poucos querem admitir que a genuinidade está se tornando mais escassa.
A virtude da genuinidade encontra-se fortemente associada à inteligência emocional (IE). Sem dúvida, as pessoas emocionalmente inteligentes são mais inclinadas a ser bem-sucedidas no trabalho, manter relacionamentos genuínos e saudáveis com parentes, cônjuges e amigos, e ter boa performance nos estudos, entre outras vantagens. Além do mais, por compreender a fundo suas emoções e as dos outros, elas conseguem identificar facilmente as motivações humanas, usando dessa informação para guiar seus pensamentos e ações de forma mais objetiva.
Uma pesquisa americana feita pela Talent Smart testou o nível de inteligência emocional de um milhão de pessoas, e descobriu que isso explica 58% de seu sucesso em todos os tipos de trabalho.
Travis Bradberry, especialista em inteligência emocional e autor de livros sobre o tema, estudou bastante as diversas complexidades e particularidades das pessoas que possuem alto grau de inteligência emocional, e ele descobriu alguns hábitos que elas possuem em comum, de forma não totalitária, é claro, mas que são reais indicadores de sua habilidade em sentir, compreender, categorizar e externar emoções na administração de relações humanas.
Para o autor, a genuinidade é uma condição e também um requisito para que a inteligência emocional seja adequadamente desenvolvida. Segundo ele:
“Basta dizer, a inteligência emocional é uma maneira poderosa de concentrar energia em uma direção, com resultados tremendos. Mas há um porém: a inteligência emocional não vai fazer algo por você se você não for genuíno.”
Um estudo recente da Escola de Negócios Foster e Universidade de Washington descobriu que as pessoas não aceitam manifestações de inteligência emocional em valor apenas nominal. Elas ainda são muito céticas em relação a isso. Segundo Bradberry, essas pessoas não querem ver apenas sinais de inteligência emocional. Na verdade, elas querem saber se a pessoa é genuína, se suas emoções são autênticas. Há uma importância considerável sobre se as pessoas são sinceras ou manipuladoras.
Não é suficiente tentar demonstrar qualidades associadas à inteligência emocional: deve-se ser genuíno.
Alguns atributos distinguem originalidade e falsidade, os quais também ajudam a discernir o grau de genuinidade. Tais pessoas genuínas têm um conjunto de princípios assíduos que se pode perceber em seu comportamento em diferentes situações. Por que é importante identificar esses hábitos? Porque, a partir da consciência deles, conseguimos saber melhor quão genuínos e falsos estamos sendo, e também teremos essa noção sobre as pessoas com as quais nos relacionamos.
De acordo com Travis Bradberry, existem 12 hábitos comumente cultivados por pessoas genuínas:
Pessoas genuínas são o que são. Elas sabem que algumas pessoas vão gostar delas, e outras não. E elas estão muito bem com isso. Não é que elas não se importam que outras pessoas não gostem delas, mas não deixam esse fato impedir que façam a coisa certa. Elas estão dispostas a tomar decisões impopulares e assumir posições impopulares, se for isso o que precisa ser feito.
Como as pessoas genuínas não são desesperadas por atenção, afirma Bradberry, elas não ficam se exibindo sempre. Elas sabem que quando falam de forma amigável, confiante, concisa e sem precisar mostrar que são importantes, os outros ficam mais interessados e atentos em ouvirem-nas. As pessoas genuínas são mais atraídas pela atitude certa, mesmo que esta não faça parte do consenso da maioria.
Segundo Bradberry, as pessoas genuínas têm mente aberta, o que as torna mais acessíveis e interessantes para os outros. Ninguém quer ter uma conversa com alguém de opiniões formadas e que não está disposto a ouvir. Ter uma mente aberta é fundamental em qualquer lugar, pois a acessibilidade significa abertura à novas ideias e ajuda.
Para eliminar (ou ao menos evitar) preconceitos e julgamentos, deve-se praticar a empatia: ver o mundo através dos olhos das outras pessoas. Essa habilidade crucial é tão socialmente difundida quanto essencialmente rara. Pessoas genuínas nem sempre acreditam ou toleram quaisquer comportamentos alheios; elas simplesmente param de julgar pelo tempo suficiente, durante o qual possam realmente entender o que se passa com os outros.
Bradberry ressalta que as pessoas genuínas não derivam seu sentimento de prazer e satisfação das opiniões dos outros (embora isso possa parecer inviável). Elas costumam seguir suas próprias bússolas internas. Elas sabem quem são e não fingem ser outra pessoa. Sua direção vem de dentro, a partir de princípios e valores pessoais. Elas geralmente fazem o que acreditam ser o certo, e não estão seduzidas pelo fato de que alguém possa desaprovar suas ações.
Todos nós já lidamos com pessoas que preferem manter tudo para si mesmas: conhecimento, recursos e amores. As pessoas genuínas não são desse tipo. Elas compartilham e repartem suas coisas com os outros, quando percebem que senso de fraternidade e espírito de equipe podem contribuir decisivamente para o bem-estar comum. Elas acreditam que seu sucesso também pode ser derivado do sucesso alheio.
Na opinião de Bradberry, as pessoas genuínas são invariavelmente educadas e respeitosas. Não importa o quão desagradáveis ou injustos os outros forem, elas não copiam esses maus comportamentos e mantêm seu nível de educação elevado. Elas tratam todos com respeito, porque sabem que não são melhores do que ninguém.
Bradberry propõe que pessoas genuínas não precisam de luxos e extravagâncias a fim de se sentir melhor. Não que elas pensem ser errado sair para comprar novos produtos e demonstrar status; basicamente, elas não precisam fazer isso para ser mais felizes. Sua felicidade vem de dentro (direto da fonte), bem como dos prazeres mais simples, tais como amigos, família e um senso de propósito – que tornam a vida rica em sentido.
Como diz Bradberry, as pessoas gravitam para aquelas que são genuínas, porque estas são, em geral, mais confiáveis. É complicado gostar de alguém quando não se sabe quem realmente é ou como se sente. Se as pessoas genuínas assumem um compromisso, tratam de cumpri-lo. Quando elas prometem com sua palavra, é porque acreditam seriamente que ela seja proveniente da verdade.
As pessoas genuínas têm um forte senso de si mesmas ao ponto de não saírem por aí vendo ofensas onde não há. E também, afirma Bradberry, se alguém critica suas ideias, elas não tratam isso como uma ofensa pessoal. Elas evitam os impulsos de tirar conclusões precipitadas. Não planejam a vingança quando são insultadas. Em suma, elas são capazes de avaliar objetivamente feedbacks negativos e positivos, críticas construtivas e destrutivas, aceitar o que funciona ou não, colocar em prática e deixar o resto para trás, sem desenvolver ressentimentos.
Pessoas genuínas não se rendem facilmente às distrações. Quando elas se comprometem em uma conversa, concentram toda sua energia nessa conversa. Elas descobrem que as conversas são mais agradáveis e eficazes quando se mergulha nelas. De acordo com Bradberry, as pessoas genuínas criam conexão e encontram profundidade mesmo em conversas curtas, todos os dias. Seu interesse genuíno em outras pessoas faz com que seja fácil para elas fazer boas perguntas e relacionar o que é dito para outras facetas importantes de quem está falando.
Embora seja extremamente difícil de acreditar – e a grande maioria será cética em relação a isso –, as pessoas genuínas não tomam decisões baseadas em seus egos, acredita Bradberry, porque elas não precisam da admiração dos outros a fim de se sentir bem consigo mesmas. Da mesma forma, elas não procuram ser o centro das atenções e nem tentam levar o crédito pelas realizações de outras pessoas. Como o autor pontua, essas pessoas costumam fazer o que deve ser feito sem dizerem ou pensarem: “Ei, olhe para mim”.
Assim como o décimo hábito acima descrito, este aqui é bem controverso. Na análise de Bradberry, entretanto, as pessoas genuínas praticam aquilo que pregam. Sem contradições. Elas não dizem uma coisa e fazem outra. Segundo o autor, isso se deve, em grande parte, à sua autoconsciência refinada. De fato, muitos hipócritas não reconhecem quando estão sendo hipócritas. São cegos para seus próprios deslizes. Pessoas genuínas, por outro lado, esforçam-se para redimir seus erros em primeiro lugar.
Quem nunca conviveu com pessoas que passam o tempo inteiro se gabando, falando sobre si mesmas e enaltecendo intermitentemente suas realizações? Por que essas pessoas agem assim? Bradberry tem uma teoria: elas se gabam dessa forma porque são inseguras e preocupadas com a possibilidade de que, se não apontarem suas obras, ninguém irá notá-las. Pessoas genuínas são menos inseguras, e não precisam obter fama por seus feitos. Consequentemente, elas não se gabam. Na realidade, elas estão propriamente satisfeitas com suas realizações. Percebem que a valorização deve advir, primacialmente, de si mesmas, independente de quantas pessoas notem ou apreciem-nas.
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