Abuso verbal ocorre sempre quando um agressor faz observações ofensivas sobre outra pessoa, no caso, a vítima. As formas mais comuns desse tipo de violência são: questionar a capacidade intelectual da pessoa e zombar de sua constituição física e moral. A principal vítima é a mulher.
As palavras são incrivelmente poderosas: elas podem nos levantar ou nos derrubar, acalmar-nos ou ferir-nos. Pessoas se esquecem disso.
O abuso verbal faz parte de praticamente todos os relacionamentos íntimos e sociais. A convivência acarreta em conflitos, os quais são naturais e, até certo ponto, positivos. Mas a convivência também pode acarretar em confrontos, os quais são sempre esmagadores, negativos. O abuso verbal é um subproduto do confronto.
Abusar verbalmente é diferente de repreender. O abuso verbal tem o objetivo de ofender; a repreensão, de corrigir.
É muito fácil identificar sinais de abuso verbal, uma vez que eles afetam claramente os pensamentos, crenças e emoções da vítima. O difícil é controlar as consequências desses sinais, que indicarão os possíveis sintomas e efeitos colaterais.
Em geral, abusadores usam táticas de intimidação para impor sua força e dominação sobre uma vítima. Durante a experiência de agressão verbal, o abusador costuma implantar ideias e suposições na mente da vítima de tal forma que esta chega a duvidar de seus próprios pensamentos, ou até desacreditar de suas percepções.
Gritos, xingamentos, insultos, julgamentos. Algumas manifestações de abuso verbal são óbvias, mas muitas delas são encobertas e, portanto, menos reconhecíveis.
Existem casos em que pessoas até recebem abusos verbais, mas não chegam a sofrer por eles (pelo menos não conscientemente), assim como há situações – a maioria delas – em que pessoas se sentem extremamente tristes e inferiorizadas por conta disso.
Os agressores desejam que a vítima reaja aos seus ataques, pois essa é a maneira mais evidente de saber que a agressão surtiu efeito. Quando a vítima reage a um abuso verbal, está recompensando quem o praticou.
Muitos seguranças de festas e bares, por exemplo, reagem de forma violenta e agridem clientes que praticaram comportamentos inadequados, sejam eles quais forem, porque esses profissionais aproveitam da posição de autoridade para validar suas reprimendas, mesmo quando são injustas. Esses seguranças querem mostrar serviço, havendo ou não necessidade para isso. Situação semelhante ocorre com policiais em resposta agressiva a criminosos e infratores. Na verdade, esse dilema de justiça existe sempre quando o nível de força e/ou influência é determinado por uma hierarquia.
O abuso verbal pode ser tão doloroso quanto o físico e emocional. Todo mundo já sofreu, sofre e com certeza sofrerá por isso, fato que implica na necessidade de proteção contra esse tipo de violência.
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Em seu livro Como Enfrentar a Violência Verbal, publicado no meio da década de 90, a autora americana Patricia Evans escreve sobre a natureza dos relacionamentos abusivos e esclarece como responder positivamente em casos de crise. Ela diz:
“Desde que este livro foi lançado, há mais de 20 anos, a incidência de violência verbal só cresceu. Por exemplo, uma em cada três adolescentes americanas é vítima de abuso.”
Tendo em vista o frequente e crescente número de ocorrências de abuso verbal, e considerando todas as suas consequências negativas, torna-se importante compreender os sinais que originam tal agressão. Segundo Evans:
“Se você foi vítima de abuso verbal, certamente já escutou de maneira sutil, e de outras nem tão sutis assim, que a sua percepção da realidade e os seus sentimentos estão errados. A vítima de violência verbal vive num mundo que fica cada vez mais confuso. Muitas vezes, ela não tem testemunha nem conta com alguém que entenda sua experiência. Como consequência, você pode duvidar de sua própria experiência e ao mesmo tempo não perceber que está fazendo isso.”
No livro, Evans lista os 14 sinais que acusam um abuso verbal. Esses sinais são descritos sob as perspectivas da vítima e do agressor, papeis que todos já cumpriram ao menos uma vez na vida, e provavelmente ainda cumprirão outras vezes. Os sinais são:
Xingar é uma das formas mais evidentes de abuso verbal, praticada pelo agressor para ferir ou prejudicar sua vítima.
Ameaças são expressões diretas de abuso verbal. Na base da submissão, o agressor amedronta ou aterroriza a vítima. As ameaças podem ser tão debilitantes quanto a violência física explícita.
É uma forma ostensiva de abuso verbal. O agressor costuma tratar sua vítima não como pessoa, mas como serva que existe para satisfazer seus desejos e necessidades. Quando o agressor ordena, é uma indicação de que ele acredita ter direito de interferir no livre-arbítrio da vítima.
Aqui, o agressor mostra plena falta de aceitação da vítima. O agressor acredita que pode julgar a vítima melhor do que ela mesma. Comentários disfarçados de críticas construtivas são, muitas vezes, críticas destrutivas. Além de criticar a vítima pessoalmente, o agressor fala mal dela para outras pessoas a fim de denegrir sua imagem e prejudicar sua reputação.
Acusações consistem de declarações ou réplicas feitas pelo agressor com o intuito de transferir a culpa e a responsabilidade para a vítima.
É quando o agressor diz, de várias maneiras, que o que a vítima faz ou pensa é ridículo ou insignificante. Agressores verbais tendem a banalizar os hábitos, interesses e hobbies das vítimas, bem como suas realizações.
Um agressor frequentemente vai negar que tenha sido abusivo com a vítima, e provavelmente irá desconsiderar o fato de que seu comportamento foi inaceitável.
Isso inclui negação e manipulação. Convenientemente, o agressor se esquece de incidentes ou promessas que foram importantes para a vítima. Negar pela simples alegação de “esquecer” pode ir além do esquecimento normal, ao ser um ato abusivo.
A retenção envolve, basicamente, reter-se da intimidade normal e necessária em um relacionamento afetivo. A vítima de abuso verbal pode sentir isso através de um silêncio prolongado, uma falta de vontade de interagir, ou simplesmente tendo a impressão de que não pode compartilhar suas experiências. Quando a vítima está retida, não há relação íntima, e pouca ou nenhuma troca de sentimentos. Assim, ela acaba se sentindo sozinha e chega a perguntar o que fez de errado para irritar a outra pessoa, no caso, seu agressor.
Neste caso, o agressor opõe-se a qualquer pensamento, opinião ou sentimento da vítima. A realidade de um relacionamento é ofuscada quando as percepções das pessoas são sempre opostas. Contrariar de forma recorrente torna qualquer discussão impossível, já que não importa o que o outro diga, a resposta virá em desacordo. Este é um motivo de briga bastante comum.
Quando o agressor, de forma abusiva, dá pouco valor aos sentimentos e ações da vítima. Caso ela se sinta magoada por isso, pode ficar mais sensível, e até pensar que suas experiências são produtos da imaginação. Qualquer declaração de desconto por parte do agressor acaba subtraindo o ímpeto da vítima de confiar nos seus próprios pensamentos, crenças e percepções.
São formas de o agressor prevenir, controlar ou mudar o tópico de uma discussão com a vítima. Um exemplo de bloqueio é quando o agressor se recusa a discutir um problema, enquanto desvia o assunto para outro que sirva aos seus próprios interesses. A vítima tenta se defender e explicar a real necessidade da conversa, mas o agressor foge do tema.
Quando o abuso verbal é disfarçado de uma piada, simplesmente ela não é engraçada, e ainda machuca. Pode ser um comentário depreciativo dito com um sorriso, mas que na verdade é um ataque à competência da vítima, suas habilidades ou valores. Alguns agressores assustam as vítimas e depois riem sarcasticamente, como se fossem hilários, quando na verdade essa tentativa de susto os fez agir como idiotas insensíveis.
A raiva é algo com a qual todas as vítimas e agressores estão familiarizados. A inexplicável explosão de cólera de um agressor pode deixar a vítima completamente indefesa, como costuma acontecer nos casos de abuso verbal precedido de violência física.
Muitas pessoas sofrem de abuso verbal e emocional em segredo durante anos, sem entender o que está acontecendo ou por que elas se sentem tão mal. Além disso, elas não percebem quão facilmente essas formas aparentemente leves de abuso podem ser precursoras para a violência física.
Este livro de Patricia Evans ajuda a vítima a entender como reconhecer o abuso, valida a percepção da vítima do que está acontecendo e oferece sugestões sólidas sobre o que fazer para controlar abusos e proteger-se.
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