Mudar-se com a pessoa que a gente ama dá sempre um frio na barriga. Todo mundo manda um monte de conselhos, falam que é o melhor dos mundos ou falam que foi a pior coisa que já fizeram. A verdade é que não existe um padrão e não tem como saber se vocês vão se unir mais ou se vão odiar cada mania rotineira do outro. Mas morar com alguém é sempre abrir mão de alguma coisa, nem que seja da sua preguiça. Seja com um amigo, um namorado ou um desconhecido, é preciso respeitar o espaço do outro, saber quais são o seus próprios limites e tentar deixar o ambiente agradável para todo mundo. Infelizmente, isso nem sempre dá certo. As pessoas são diferentes e muito complicadas dentro dos seus universos mentais, onde uma coisa pode sempre parecer outra coisa. Alguém tem que ceder e, nesse caso, os dois.
Depois de dois anos morando com meu namorado, percebi vários detalhes incríveis, ao longo do tempo, que ninguém nunca tinha me contado. Já ouvi muito que os primeiros meses são maravilhosos, mas, depois, tudo desmorona por causa da rotina. A verdade é que tudo é muito subjetivo, tudo é uma construção de vocês, e o mais legal de morar junto é poder criar o jeito como vocês querem viver. Se estiver chato, mude a rotina! Não existe uma regra para seguir, porque cada casal vai criar as suas. A nossa estratégia é sempre surpreender o outro nas pequenas coisas do dia, aí a rotina, em vez de se transformar num bicho de sete cabeças, vira um lugar de repouso.
Eu tenho acreditado também que cada um tem que ter seu objetivo pessoal. Tipo desenvolver uma habilidade nova, ganhar uma promoção no trabalho, abrir uma empresa, escrever um livro, apresentar uma peça, plantar uma árvore. Enquanto os dois estiverem se ajudando para alcançar o objetivo um do outro, fica TÃO mais fácil e divertido. E, se não tiver objetivo, dá para inventar alguma coisa nova para aprender. Não tem como ter uma vida legal a dois, se não existir troca de conhecimento diário. A sua empolgação puxa a do outro.
Fiz uma lista de coisas legais que acontecem quando você mora junto. Claro que é uma visão muito pessoal, mas eu gostaria que tivessem me falado mais coisas empolgantes antes de me mudar, então agora estou fazendo isso.
- Vocês podem fazer atividades diferentes no mesmo cômodo, sem precisar conversar, só se olhando de vez em quando, para se certificar da companhia física e momentânea. E aí vão sentir que estão caminhando juntos para algum lugar. No final da experiência, vocês podem contar um ao outro para onde a mente de cada um foi. Um pode ficar no computador, enquanto o outro pinta a unha, ou um pode tocar violão enquanto o outro lê…
- Você pode querer ficar sozinho e, às vezes, não poder por falta de espaço. Mas dá sempre para deixar isso claro e sair para ouvir uma música ou ver um filme no seu canto. Eu tenho muita necessidade de ficar sozinha, pensando com o pé na parede, ouvindo música. Sempre precisei do meu tempo para conversar comigo. Acho importante, para ponderar algumas ações e tentar entender alguns sentimentos que eu desconheço. É legal saber se dar esse tempo e não roubar o tempo do outro. Isso não quer dizer que você queira ficar com a pessoa. Só quer dizer que você precisar ficar com você. No começo, foi meio difícil, porque a gente queria ficar sempre no mesmo cômodo, mas, depois, fui sentindo muita necessidade de ficar sozinha de novo, no meu mundinho.
- Vocês podem cozinhar juntos, experimentar receitas novas. A gente já colocou Nescau no molho de tomate, porque não tinha açúcar.
- Vocês podem ficar conversando até tarde da noite, como naquela época em que você ia à casa do seu melhor amigo no dia de semana e conseguiam tirar assunto de onde nem tinha mais assunto.
- Vocês começam a ter várias piadas internas e referências engraçadas que ninguém vai entender
- Vocês podem brigar, mas não dá para não resolver o problema no mesmo dia. Pode sair, dar uma espairecida e voltar para resolver antes de dormir. O acordo de não dormir brigado foi o que salvou o casamento dos meus avós. Esse foi o conselho deles para mim, antes de eu me mudar e, cá entre nós, foi o único que realmente valeu a pena. Sua casa é um espaço para você ficar em paz e é insuportável ficar desconfortável na sua própria cama com alguém que você ama.
- Vocês vão sair separados, cada um para um canto, e amarão a ideia de que vão se encontrar de qualquer forma no final da noite, em casa, meio bêbados, comendo pão com requeijão na cozinha. Vocês vão sair juntos e vão fazer a mesma coisa (tenha sempre comidas para a madrugada).
- Esquece. Usar o mesmo par de meias é superficial. De repente, vocês vão estar usando a meia um do outro e vão se acusar sempre que tirarem os sapatos: “Ei, essa meia é minha”. As blusas básicas não têm mais dono.
- Vão disputar todas as noites quem vai apagar a luz ou pegar água na cozinha. Vão disputar a melhor posição no sofá.
- A casa fica sempre cheia de amigos dos dois.
- Você vai ficar puto quando o último pedaço de bolo que você guardou misteriosamente desaparecer, mas vai se surpreender quando descobrir que o outro guardou o último iogurte para você.
- Sair da cama vai ser mais difícil do que nos dias frios.
- Nada vai acelerar mais o seu coração do que o barulho da chave fechando a porta, quando a outra pessoa estiver chegando.
- Vocês vão gastar muito dinheiro com supermercado e jurarão que vão parar de pedir delivery e comer fora, porque está muito caro, mas vão continuar pedindo.
- Você não vai entender como consegue sentir tanta saudade da pessoa durante o dia no trabalho.
- Vocês vão viajar e voltar para a mesma casa e vai parecer que a viagem se prolongou um pouquinho
- Vocês vão criar muita intimidade (isso é quase inevitável) e, para não deixar o sexo ficar sem graça por causa disso, o legal é usar essa intimidade para fazer coisas completamente novas e malucas. Fantasias, brinquedinhos e assistir a filmes pornôs juntos são pouco para o que vocês podem fazer. Sejam criativos.
- Programas caseiros de repente começam a ser muito divertidos
- A paixão só acaba se vocês deixarem
- Você deve continuar investindo nos seus projetos pessoais. Morar junto não quer dizer deixar sua vida particular de lado ou deixar de sair com seus amigos. Enquanto você tiver interesse em você e na sua própria vida, o outro sempre vai ter também.