Nem cobremos do cinema que ele tenha sempre representações fiéis da realidade. Um filme pode fantasiar sobre diversos aspectos da vida. Ainda assim é muito importante que estejamos atentos para características das obras que pretendem contar histórias sem a pretensão de estarem corretas do ponto de vista científico, principalmente quando o assunto é Saúde Mental. Tema que tem ainda pouca propagação de conceitos.
Então é melhor ler este artigo para não cair nas boas pegadinhas de cinema.
Clube da Luta
Jack e Tyler fundam juntos um clube onde homens se reúnem para lutar, disto formam um baita exército que pretende destruir as empresas de cartão de crédito ( quem nunca quis fazer isso após a mensagem “saldo insuficiente” aparecer na maquininha, hein?). Tyler desaparece e Jack tenta encontrá-lo. No caminho, com todo mundo dizendo que ele mesmo é Tyler, descobre a sua alucinação, eles são a mesma pessoa.
Poderíamos pensar que Jack sofresse de um transtorno dissociativo de identidade, mas nesse transtorno as personalidades de uma mesma pessoa se alternam no mesmo corpo, enquanto que no filme os dois chegam a lutar, ou seja, estão presentes ao mesmo tempo. Jack aparece em algumas cenas brigando sozinho, pensando que está sendo atracado por Jack. Mas nada disso se parece com um transtorno psicótico, por exemplo, pois as alucinações envolvem mais de uma modalidade sensorial ao mesmo tempo. Num transtorno psicótico Jack veria Tyler ou ele ouvira sua voz.
O filme não tem como ser uma obra elucidativa sobre transtornos mentais, mas cumpre o seu papel como metáfora. Afinal, todos travamos batalhas contra nós mesmos, não é?
O Iluminado
Outro Jack aqui, o Jack Torrance foi contratado para trabalhar como zelador, durante o inverno, em um hotel que abre apenas nas outras estações do ano, onde ficara com a esposa e o filho. Neste hotel, outro zelador matou a família com um machado e depois suicidou-se. O que acontece é que Jack Torrance e sua família, ficam enlouquecidos, ou melhor, enfantasmados. Passam a alucinar com pessoas que só aparecem para eles e participam de eventos que acontecem apenas em suas cabeças. O filho de Jack é um “iluminado” que enxerga coisas que aconteceram no passado nos lugares que agora se encontra.
Tudo isso deu um filme amado por muita gente, mas, outra vez, o erro para caracterizar um transtorno é o mesmo. Combinar alucinações auditivas, visuais e táteis.
Ou seja, melhor mesmo ter O Iluminado como um filme sobre fantasmas do que saúde mental.
Taxi driver
Travis não tem nenhum delírio ou alucinação evidente, querer limpar a moral da cidade não trata-se de uma distorção da realidade, como também o comportamento de fazer “justiça com as próprias forças” não estava associado a nenhuma mística. A “loucura” de Travis é muito mais um fenômeno cultural do que um transtorno mental.
Nas próximas vezes que você assistir um filme, fica liberado se divertir e depois perguntar para profissionais de saúde mental se aquela “doidera” daquele personagem realmente é coisa de louco ou de roteirista.
Ao escrever este artigo me baseei no livro Cinema e Loucura, conhecendo os transtornos mentais através dos filmes, da editora Artmed e escrito por J. Landeira-Fernandez e Elie Cheniaux. Recomendo para quem deseja conhecer um pouco mais sobre como transtornos mentais são retratados em diversos filmes.
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