3 síndromes que parecem inventadas, mas que costumam acometer turistas

Por Lara Vascouto

Síndrome de Jerusalém

A cidade de Jerusalém recebe milhares e milhares de visitantes por ano por ser o marco central das três maiores religiões no mundo: o cristianismo, o islamismo e o judaísmo. Por esse motivo, não é nenhuma surpresa o fato de que a maior parte dos visitantes sejam crentes fiéis de suas respectivas religiões e que se sintam glorificados ao visitar o Muro das Lamentações, por exemplo, ou a Basílica do Santo Sepulcro, onde Jesus Cristo teria sido crucificado. O que não é normal, no entanto, é quando um deles surta repentinamente e começa a usar túnicas feitas de lençóis e a pregar para quem quiser ouvir sobre como agora se chama João Batista e está pronto para batizar alguns fiéis.

Jesus, Sansão, João Batista, Virgem Maria são alguns dos principais personagens que encarnam nos pobres turistas.

Parece que eu estou inventando, mas a Síndrome de Jerusalém é real e acomete algumas dezenas de turistas todos os anos. Os principais sintomas incluem ansiedade, vontade de querer vagar sozinho pela cidade e pelos lugares santos, recitar versos religiosos e, como já mencionado, vestir o lençol do hotel como se fosse uma túnica e sair pregando pelas ruas. Apesar de real, a síndrome não é, no entanto, considerada uma doença psiquiátrica específica, principalmente porque cerca de 80% dos turistas acometidos costumam apresentar histórico prévio de alguma outra doença mental.  Quanto aos 20% restantes, os médicos acreditam que a síndrome seja apenas uma reação exagerada a um lugar com um simbolismo muito forte em suas vidas, seja ele escancarado ou não. É normal, por exemplo, a síndrome acometer indivíduos que tiveram uma infância muito religiosa, mas abandonaram a religião depois de adultos. Seja como for, se em Jerusalém o seu amigo começar a se enrolar no lençol do hotel como quem não quer nada, você já sabe o que está acontecendo.

Síndrome de Paris

A síndrome de Paris não é tão maluca quanto a de Jerusalém (será?) . Ela costuma acometer somente turistas japoneses e chineses viajando pela primeira vez, obviamente, para Paris. Os sintomas costumam incluir alucinações, mania de perseguição, ansiedade extrema, tontura, taquicardia e suor excessivo e geralmente acometem em torno de vinte pessoas por ano, de acordo com a embaixada japonesa em Paris (que possui uma linha aberta 24h para atender turistas japoneses nessa situação).

De acordo com especialistas, o motivo para o transtorno é, em suma, o choque cultural e o choque de expectativas. Em primeiro lugar, existe a dificuldade de comunicação, que se agrava pelo fato de os franceses (principalmente os que trabalham no setor de serviços) não terem o hábito se esforçar muito para entender os turistas ou mesmo de se fazer entender.

É esse o nível de felicidade dos garçons franceses.

Some a isso a exaustão da viagem e o fato de que Paris e os parisienses não terem absolutamente nada a ver com o que se esperava que eles fossem, e você tem em suas mãos um japonês alucinado que só vai melhorar 100% quando voltar para casa. De fato, a grande causa da Síndrome de Paris costuma ser atribuída  às altas expectativas que os turistas japoneses têm do lugar (alimentadas por filmes, revistas e a mídia japonesa em geral) e o choque que levam quando percebem que Paris é incrível, sim, mas suja e um tanto quanto bagunçada, como qualquer outra grande cidade. A desilusão é simplesmente grande demais.

Já chega, cansei dessa bagunça! Cadê minha embaixada?

Síndrome de Stendhal (ou de Florença)

Outra síndrome que parece inventada, mas de fato acontece, a síndrome de Florença é o nome dado ao mal-estar que alguns turistas experimentam ao admirar grandes obras de arte ou mesmo muitas obras de arte em um curto espaço de tempo. O nome da síndrome vem do autor francês Stendhal (pseudônimo de Henri-Marie Beyle), o primeiro a descrever os sintomas ao visitar Florença no século XIX. Os sintomas incluem tontura, taquicardia, confusão mental, desmaios e,  às vezes, até alucinações.

Apesar de ter sido descrita por Stendhal no século XIX, foi só na década de 1970 que a psiquiatra italiana Graziella Magherini estudou e compilou mais de 100 casos similares – todos em Florença (daí o fato de o transtorno também ser conhecido como síndrome de Florença). O grande acervo artístico da cidade parece ser o responsável pelos casos de turistas que chegam ao hospital Santa Maria Nuova passando mal depois de um dia de turistagem na galeria Uffizi. Magherini concluiu que o transtorno normalmente acomete turistas apaixonados por arte ou turistas estressados que querem ver todas as obras da cidade, mas tem o tempo limitado. A recomendação dos especialistas é intercalar atividades culturais e artísticas em Florença com atividades esportivas, como uma caminhada em um parque, um jantar descontraído ou até uma tarde de compras.

Recomendações médicas!

Nota da CONTIoutra:  Nó de Oito é uma página parceiro e o texto acima foi publicado com a autorização da autora.

Lara Vascouto

Internacionalista, ex-Googler e fanática por ler e escrever textos bem-humorados. Optou por ser pobre e feliz na praia ao invés de rica e triste em São Paulo.

Para mais artigos da autora acesse seu blog Nó de Oito

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