Por Nara Rúbia Ribeiro
Somos convidados, a cada dia, ao progresso, à evolução de toda a ordem. Contudo, muitas vezes, reiteramos algumas posturas que, em si mesmas, guardam a âncora do nosso atraso, fazendo-nos estagnados. O pior de tudo é que é tamanho o nosso despreparo existencial que raro conseguimos perceber que estamos ancorados.
Ser ignorante é algo natural. Nunca saberemos tudo sobre todas a s coisas. O que traz obstáculo à vida não é a ignorância, é a pseudossapiência. A pessoa ignora o não saber, e age, não sabendo, como se soubesse. Este indivíduo, não raro, mesmo nada sabendo, quer ensinar. Muitos deles fundam partidos, seitas, religiões, e se tornam o que alguns denominam de “cegos guias de outros cegos”, perpetuando, assim, a ignorância.
A palavra “orgulho” pode denotar um sentimento até nobre de autorrealização pessoal. Contudo, na maioria das vezes, serve como sinônimo de soberba e arrogância, quando o homem necessita ostentar sua “grandeza” para fazer com que o seu próximo se sinta menor. Esse orgulho, esse sentir-se mais, achar-se certo e pleno, pode ter por objeto a constatação do próprio orgulho. Nada pior que a pessoa que se orgulha de ser orgulhosa. “Eu sou assim, mesmo. Tenho gênio forte. Não peço desculpa, não volto atrás, sou orgulhoso mesmo. Nasci assim e vou morrer assim”.
Outros que se ancoram são aqueles que já se mostram capazes de constatar que a maledicência em nada contribui para o progresso do homem, mas não é capaz de perceber que aquele que fala mal de um fofoqueiro por ser fofoqueiro já está inquinado à mesma conduta.
Não tolerar os intolerantes é outra âncora do atraso. Sei o quanto é difícil conviver com aquele que se acha dono de determinada verdade e ostenta o seu “título de proprietário” contra tudo e todos que tenham verdades divergentes. Contudo, é de suma importância dissociar o intolerante da sua própria conduta e tolerá-lo. Possivelmente seja a única forma de fazer, em longo prazo, com que o outro compreenda a insensatez da própria conduta, além de servir para que não nos ancoremos junto dele.
São inúmeras as posturas que nos fazem fixos em águas interiores que não deveríamos mais navegar. É preciso olhar para as nossas mentes, analisar as nossas almas, desvendar o que em nós habita. Neste mundo de recorrentes e inovadoras descobertas, cabe-nos o exercício de conhecer a nossa própria essência. Fazer a distinção entre aquilo que nos move e aquilo que nos estagna.
Não existe maior exercício de Amor que o autoconhecimento. Aquele que se conhece, sabe-se centelha eterna da Luz Maior e não se permite, nunca, ancorar-se em atraso algum.
Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
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