Por Lara Vascouto
Tenha medo, muito medo de si mesmo.
Muito se fala sobre como somos seres superiores aos animais “irracionais”. Você pode se achar muito evoluído quando assiste o seu cachorrinho perseguindo o próprio rabo, mas a realidade é que uma boa quantidade de estudos provam que as suas ações são tão motivadas por fatores biológicos quanto eram as dos selvagens que marretavam a cabeça das mulheres e as arrastavam pelos cabelos há milhares de anos.
Muitos desses estudos chegaram a conclusão que, dependendo da situação, você seria capaz de fazer coisas dignas de campo de um concentração nazista. Coisas como…
Você seria capaz de torturar pessoas por um “bem maior”
Se um pesquisador respeitado de Harvard te pedisse para aplicar perigosos choques elétricos em outras pessoas para provar uma teoria, você o faria? A maioria das pessoas responderia não, mas não foi isso que o experimento de Stanley Milgram demonstrou na prática em meados da década de 60.
Interessado no argumento de que muitos nazistas estavam apenas cumprindo ordens quando mataram milhares de pessoas, Milgram armou um grande teatro em que voluntários do experimento teriam que aplicar choques elétricos em outros voluntários se estes não respondessem algumas perguntas corretamente. No entanto, os voluntários que deveriam ser eletrocutados não eram voluntários coisa nenhuma, e sim atores, que, apesar de não receberem choque nenhum, foram instruídos a gritar de dor, pedir para que os voluntários parassem e se queixar de problemas cardíacos ao longo do experimento. Os torturados – isto é, os reais voluntários e objetos da pesquisa – foram posicionados em outra sala frente a uma grande máquina causadora de dor, com vários botões que indicavam choques de 30V a 450V (dose letal) e que possuía indicações como Choque Moderado, Choque Severo, Perigo e XXX.
A ideia era que, a cada resposta errada, o voluntário teria que aplicar choques cada vez mais potentes no ator que, livre e escondido em outra sala, choque após choque implorava para que o liberassem. Na sala da tortura estava presente o pesquisador responsável pelo estudo (também um ator) que, séria e calmamente, reafirmava aos voluntários que era extremamente importante ou essencial que eles continuassem o experimento até o fim. Apesar de claramente estressados, ansiosos e preocupados, 65% dos voluntários prosseguiram até o último e letal choque de 450V – mesmo quando o indivíduo que estava supostamente sendo eletrocutado ficou mudo e parou de responder às perguntas 3 choques antes.
O experimento de Milgram foi replicado muitas vezes depois disso e ficou conhecido como o Experimento da Obediência, por demonstrar os efeitos que uma figura de autoridade produz em todos nós. O fato de o dono do experimento ser um respeitado pesquisador de uma respeitada universidade (no caso, Yale) deu a confiança que os voluntários precisavam para prosseguir, pois, em seu raciocínio, estavam fazendo aquilo por um bem maior – a ciência. Mais assustador ainda, a presença da autoridade na sala reafirmando a necessidade de o voluntário prosseguir até o fim acabou também fazendo com que ele não sentisse que era inteiramente responsável pela dor que estava infligindo.
A ideia era que, a cada resposta errada, o voluntário teria que aplicar choques cada vez mais potentes no ator que, livre e escondido em outra sala, choque após choque, implorava para que o liberassem. Na sala da tortura estava presente o pesquisador responsável pelo estudo (também um ator) que, séria e calmamente, reafirmava aos voluntários que era extremamente importante ou essencial que eles continuassem o experimento até o fim. Apesar de claramente estressados, ansiosos e preocupados, 65% dos voluntários prosseguiram até o último e letal choque de 450V – mesmo quando o indivíduo que estava supostamente sendo eletrocutado ficou mudo e parou de responder as perguntas 3 choques antes.
O experimento de Milgram foi replicado muitas vezes depois disso e ficou conhecido como o Experimento da Obediência, por demonstrar os efeitos que uma figura de autoridade produz em todos nós. O fato de o dono do experimento ser um respeitado pesquisador de uma respeitada universidade (no caso, Yale) deu a confiança que os voluntários precisavam para prosseguir, pois, em seu raciocínio, estavam fazendo aquilo por um bem maior – a ciência. Mais assustador ainda, a presença da autoridade na sala reafirmando a necessidade de o voluntário prosseguir até o fim acabou também fazendo com que ele não sentisse que era inteiramente responsável pela dor que estava infligindo.
Você prefere estar errado com todo mundo a estar certo sozinho
Você se considera uma criatura bem informada, certo? É razoavelmente inteligente e confiante o suficiente para expressar suas próprias ideias e opiniões. Será mesmo? De acordo com o Experimento da Conformidade de Asch você é muito mais conformista às normas de um grupo do que imaginava. Nesse famoso experimento, o participante é informado de que vai participar de um teste de visão junto com outros quatro ou cinco voluntários. No teste, dois cartazes são mostrados: o cartaz 1 contém três linhas verticais de tamanhos diferentes, enquanto o cartaz 2 contém uma linha vertical idêntica a uma das linhas do cartaz 1. Os voluntários, então, devem responder em voz alta qual entre as três linhas do cartaz 1 é igual a linha do cartaz 2.
Mais uma vez, parte dos voluntários eram atores orientados a dar a mesma resposta errada. O que se observou foi que, quando todos davam a mesma resposta errada, mesmo atrapalhado e confuso, o participante preferia também seguir o resto do grupo dando a mesma resposta. Mais tarde, informados sobre o real objetivo do estudo e questionados sobre o porquê de terem respondido errado, alguns participantes responderam que sabiam que estavam errados, mas não queriam contrariar o grupo e enfrentar o ridículo; outros responderam que realmente acharam que o resto do grupo sabia mais que ele e respondeu o mesmo que os outros para não evidenciar a própria imbecilidade.
De qualquer forma, esse estudo prova a nossa necessidade de sermos aceitos pelo grupo a que pertencemos
e explica muitos comportamentos abomináveis que vemos por aí: pré-adolescentes quietos e taciturnos em casa viram macacos descontrolados e barulhentos quando juntos no cinema; torcedores de futebol tranquilos com a família tocam o terror com os colegas no metrô; e você, a imagem do bom senso, dança a macarena com a galera na festa de fim de ano da empresa.
Você deixaria de salvar uma pessoa em perigo
Sabe quando você está andando na avenida Paulista, cheia de gente em plena luz do dia, e pensa que nada de ruim pode acontecer?
Pode parar de se sentir tão seguro, pois a ciência nos mostra que, na verdade, quanto mais pessoas estiverem na rua quando aquele Bob’s que você comeu no almoço resolver fazer o caminho inverso, menor as chances de alguém parar para te ajudar. O chamado Efeito Espectador é um fenômeno psicológico e social amplamente estudado que explica inúmeros casos de negligência por parte de observadores em situações em que alguém é alvo de extrema violência ou perigo. Por exemplo, quando uma bolsa é roubada no metrô na frente de todo mundo e ninguém faz nada.
São dois os motivos principais pelos quais as pessoas se tornam, de repente, “filhos da puta” com um pedaço de gelo no lugar do coração. O primeiro deles diz respeito à difusão da responsabilidade. Você olha para aquele mendigo definhando e pensa: oras, tem mais um monte de gente aqui. Eles deviam ajudar tanto quanto eu. Compartilhando a responsabilidade pela ajuda entre vários indivíduos, você não se sente tão pressionado a tomar uma atitude. O segundo e tão importante quanto é a sua necessidade de se comportar como o resto do grupo (lembra do Asch?). Basicamente, você deixa de tomar uma atitude porque as outras pessoas também não estão tomando nenhuma atitude e você não quer destoar. Isto significa que o comportamento de pessoas completamente estranhas a você está influenciando significativamente o seu comportamento. E você achando que a “pressão dos pares” só acontecia na escola ou em eventos do trabalho.
Você seria capaz de lembrar de algo que nunca viu para agradar alguém
Não se preocupe – você pode até ser capaz de torturar, mentir ou ignorar uma pessoa em perigo para fazer parte de um grupo, mas você tem certeza de que não mudaria sua memória para agradar alguém de propósito. O que acontece é que a memória é uma coisinha complicada. Ela muitas vezes se adapta às nossas próprias expectativas para parecer mais coerente ou fazer mais sentido. Como quando você se convence de que suas férias foram incríveis, mesmo tendo ficado com “piriri” a maior parte do tempo. Claro, as fotos e um bom filtro do Instagram ajudam bastante.
Infelizmente, isso acaba fazendo com que ela não seja muito exata. Foi isso que os pesquisadores Loftus e Palmer descobriram com o experimento do acidente de carro. Nesse experimento, um grupo de pessoas teve de assistir a um vídeo de um acidente de carro e depois responder a perguntas sobre esse acidente. Cada grupo de pessoas recebeu as mesmas perguntas, mas elas foram perguntadas de forma diferente. Enquanto alguns foram interrogados sobre a velocidade dos veículos quando eles colidiram um com o outro, outros foram interrogados sobre a velocidade do veículo quando eles encostaram um no outro; ou trombaram um
com o outro; ou bateram um no outro, e assim por diante.
O que os pesquisadores descobriram é que as pessoas que receberam as perguntas com palavras que sugeriam uma batida de pouca intensidade (encostaram, por exemplo) responderam uma velocidade menor do que aqueles que foram interrogados com palavras que sugeriam uma batida mais grave (colidiram, no caso). Da mesma forma, a palavra colidir fez com que mais pessoas lembrassem de ter visto vidro quebrado no vídeo do acidente do que a palavra trombar (só para constar, o vídeo não mostrou vidro quebrado). Isso tudo indica que a sua lembrança de um acontecimento continua em construção após o ocorrido, conforme você agrega novas informações de outras fontes – seja de outra testemunha, seja pela fraseologia do seu interrogador.
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Lara Vascouto
Internacionalista, ex-Googler e fanática por ler e escrever textos bem-humorados. Optou por ser pobre e feliz na praia ao invés de rica e triste em São Paulo.
Para mais artigos da autora acesse seu blog Nó de Oito
Imagem de capa: siam.pukkato/shutterstock