Por Josie Conti
É claro que, na teoria, ninguém escolhe estar presente em uma catástrofe, ficar doente ou ser muito pobre a ponto de não ter o mínimo. Não é dessa falta de escolhas que falo. Mas, mesmo nas catástrofes, na miséria e nas doenças, a vida exige de nós que nos posicionemos de alguma forma.
Podemos lutar ou nos entregar, podemos enfrentar a realidade ou ignorá-la. Podemos ajudar, sermos ajudados ou tentar continuar sozinhos.
É sobre essas escolhas que tomamos frente à realidade já apresentada que falo, sobre as escolhas possíveis, sobre as escolhas que cada um, de sua própria forma, consegue fazer e, mais além, sobre o tempo necessário para que elas sejam feitas.
Optei por 6 títulos que podem ser encontrados na Netflix e que, nas últimas semanas, invadiram minha sala e meus pensamentos. São todos filmes de conteúdo emocional intenso e que realmente levam quem os assiste a refletir.
Não estão em ordem de relevância ou preferência. As opiniões e seleção são pessoais e não tecnicas.
Sinopse:
Maruge lutou pela liberdade de seu país, foi preso e torturado. Aos 83 anos, se fazendo valer de um discurso do Presidente do Quênia que garante educação para todos, Maruge decide se matricular numa escola primária. Como a escola possui mais crianças do que sua estrutura precária suporta, sua matrícula é negada e ele precisa insistir muito até ser aceito. Porém, ao começar a estudar, a atitude de Maruge gera revolta e indignação na comunidade, colocando sua segurança em risco.
Opinião:
Um dos primeiros fatores a nos emocionar no filme é sabê-lo inspirado em fatos reais. O desejo de Maruge pela educação é algo que se sobrepõe a qualquer obstáculo que possa se apresentar e quem assite sua história fica tocado por sua perseverança. Além dos obstáculos políticos, vemos um vilarejo que questiona culturalmente sua presença na escola. A história nos deixa apreensivos a cada instante, mas nos inspira pela força e pela vida que apresenta. Marube brilha assim como brilham os olhos que veem o filme.
Título original: Night Train to Lisbon
Nacionalidade: Eua, Suiça, Alemanha
Ano: 2013
Direção: Bille August
Sinopse: Raimund Gregorius, um professor suíço, que abandona suas palestras e sua vida conservadora para embarcar em uma emocionante aventura que o levará em uma jornada ao seu próprio coração.
Opinião: A sinopse oficial do filme está longe de descrever o grau de complexidade existential que é apresentada. O filme é bastante fiel às memórias que guardo do livro que li há alguns anos. Após salvar uma jovem portuguesa de um suicídio, o professor encontra um livro deixado por ela dentro de um sobretudo. Fascinado pelo livro, ele decide ir à Lisboa e começa a percorrer os caminhos e conhecer os personagens descritos na história. Das reflexões e desses conhecimentos, surge um novo olhar do mundo.
Título original: Shelter
Nacionalidade: EUA
Ano: 2015
Direção: Paul Bettany
Sinopse: Dois moradores de rua, Tahir (Anthony Mackie) e Hannah (Jennifer Connelly) de Nova York vivem rodeados por desespero, perigos e incertezas. Eles acabam se conhecendo e se apaixonando. Tahir e Hannah encontram consolo e força e, aos poucos, contam um ao outro como foram parar nesta situação de dificuldade, e percebem que juntos podem tentar construir uma vida melhor.
Opinião: O filme traz uma reflexão sobre o quanto uma pessoa pode suportar sem perder o contato com a realidade e com o convívio social. A dor indescritível de suas histórias é a mesma que, gradativamente, os une nas ruas. Desse amor e na luta pela sobrevicência, surgem novos sonhos e esperanças.
Nota: Na busca do Netflix eu só o consegui localizar quando digitei seu título em inglês “Shelter”.
Título original: Blue Jasmine
Nacionalidade: EUA
Ano: 2013
Direção: Woody Allen
Sinopse: Uma milionária mulher (Cate Blanchett) perde todo seu dinheiro e é obrigada a morar em São Francisco com sua irmã (Sally Hawkins) e os sobrinhos em uma casa bem modesta. Ela acaba encontrando um refinado homem (Peter Sarsgaard) que pode resolver seus problemas financeiros, mas antes precisa descobrir quem é e aceitar sua nova condição de vida.
Opinião: É impossível não sentir empatia pela situação da protagonista do filme que se mantém alheia a todas as realidades que a desagradam até que seu mundo desaba e ela é obrigada a enfrentar a vida, fato que a leva a um colapso nervoso. Woody Allen, como sempre, conduz com maestria a complexidade psicológica da personagem e o peso de suas escolhas e omissões. Será que Jasmine conseguirá superar a realidade? Essa é a pergunta que deixo para quem ainda não assistiu.
Título original: Un cuento chino
Nacionalidade: Espanha, Argentina
Ano: 2011
Direção: Sebastián Borensztein
Sinopse: Roberto (Ricardo Darín) é um argentino recluso e mau humorado. Ele leva a vida cuidando de uma pequena loja e tem o hobbie de colecionar notícias incomuns. A comodidade de sua vida é interrompida quando ele encontra um chinês (Ignacio Huang) que não fala uma palavra de espanhol. O imigrante acabara de ser assaltado e não tem lugar para ficar em Buenos Aires. Inicialmente relutante, Roberto acaba deixando o asiático viver com ele e aos poucos vai descobrindo fatos sobre o chinês.
Opinião: O filme fala da ilusão de controle que as pessoas, como o protagonista, desenvolvem por medo de perder o rumo de suas vidas. Lidar com o total desconhecido inicia um processo de abertura de perspectivas de vida e de possíveis mudanças.
Título original: Twice Born
Nacionalidade: Itália
Ano: 2012
Direção: Sergio Castellitto
Sinopse: Uma mulher retorna com seu filho dezesseis anos depois de deixar a Bósnia, mas sua visita traz à tona lembranças que a fazem lidar com verdades dolorosas.
Opinião: Uma história de amor que segue um enredo de lembranças da protagonista (Penélope Cruz) e que surpreende por seu desfecho. Após terminado, o filme continua ecoando e as cenas se justapondo como se nós, tando quando a protagonista, estivessemos assimilando a realidade.
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