Roman Krznaric é um pensador cultural e autor do livro Sobre a Arte de Viver.
É fundador e professor da The School of Life. Na Oxfam e na ONU já atuou como conselheiro sobre como usar a empatia e a conversação para criar mudanças sociais.
Foi eleito pela Observer como um dos melhores filósofos de “lifestyle” do Reino Unido.
“Primeiro, eu achava que só poderíamos mudar a sociedade por meio de partidos políticos. Mas então eu comecei a entender que a melhor forma de transformar a sociedade era mudando a maneira como as pessoas se relacionam”
Roman Krznaric
Abaixo, trechos de entrevistas de Roman Krznaric via“Colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução”
Como você começou a se interessar por empatia?
RK: Três coisas aconteceram. A primeira é que quando eu tinha 25 anos eu fui para a Guatemala e trabalhei com refugiados na selva indígena. Eu vi o sofrimento, a pobreza e a violência. Eles tinham que lidar com isso diariamente. Havia uma Guerra civil acontecendo. E eu percebi que precisava entender vidas que eram diferentes da minha. Isso me abriu completamente para a empatia, ver a pobreza e o sofrimento deles.
A segunda coisa foi na época em que eu era Professor Universitária de Ciências Políticas. Há 10 anos eu, de repente percebi, que a maneira que você muda uma sociedade não é mudando a política, ou partidos, ou leis, é mudando relacionamentos. É através de empatia, através de uma conversa por vez, com as pessoas entendendo as outras.
A terceira coisa que aconteceu comigo, foi que um dia, uns 6 ou 7 anos atrás eu estava pensando em como a morte da minha mãe, quando eu tinha 10 anos de idade, me afetou. Eu percebi que depois que ela morreu, eu perdi a minha vida emocional. Eu não conseguia chorar ou amar, ou me preocupar com as pessoas. Então eu percebi que o meu interesse em empatia vinha de eu tentar recuperar o meu eu empático que perdi quando era criança.
Como você começou a trabalhar com isso? Foi depois da Guatemala?
RK: O que aconteceu é que quando eu percebi que a sociedade muda através da empatia, e não da política, eu parei de dar aulas na Universidade e decidi me dedicar a estudar empatia. E eu comecei a dirigir uma organização para a OxfordMuse e comecei a fazer projetos práticos para fazer a empatia acontecer, projetos de massa.
Eu organizei refeições de conversas, comecei a colocar 100 empresários sentados diante de 100 sem-tetos, coloquei menus de conversação diante deles com perguntas como: – Que tipos de amor você vivenciou? – Como você gostaria de ser mais corajoso? E eram conversas de 2 horas, não aquelas de “speed dating” de 2 minutos.
Foi assim que eu comecei a fazer a empatia acontecer, entre pobres e ricos, jovens e velhos, gente de diferentes religiões. Fiz diferentes projetos para testar a empatia no mundo real.
Você acredita muito que empatia também é uma questão de hábito. Pode descrever pra gente quais são os principais hábitos?
RK:
1) Cultive a curiosidade diante dos estranhos.
As pessoas altamente empáticas têm uma curiosidade enorme sobre o outro. Eles conversam, por exemplo, com a pessoa sentada ao lado deles no ônibus, como se tivessem aquela curiosidade de criança, aquela curiosidade que a sociedade é tão boa em tirar da gente. Eles acham as outras pessoas mais interessantes do que eles mesmos. O historiador oral Studs Terkel diz: “Não seja um examinador, faça perguntas e mostre interesse”
2) Desafie preconceitos e procure coisas em comum
Nós todos temos “achismos” e sempre colocamos rótulos nas pessoas: “fundamentalista islâmico” “do lar”, entre outros. Isso nos faz deixar de apreciar a particularidade de cada pessoa. As pessoas altamente empáticas procuram passar por cima dos preconceitos e tentam encontrar algo em comum com outros, em vez de segregá-los.
3) Tente viver a vida de outra pessoa
As pessoa altamente empáticas desenvolvem a empatia tentando viver a vida de outra pessoa. Como diz o provérbio americano “ande uma milha com o mocassim de uma pessoa, antes de criticar a vida dela”
O George Orwell é a maior inspiração para isso. Ele se vestiu de mendigo e morou junto a eles em Londres, para depois escrever “Down and Out in Paris and London” e mudar suas crenças, prioridades e relacionamentos.
4) Ouça muito e se abra
É necessário, para que você seja uma pessoa altamente empática, que consiga ouvir o outro e tentar entender o que ele está sentindo naquele exato momento, seja um amigo que acabou de ser diagnosticado com câncer, ou o seu companheiro que está bravo por ter que trabalhar até tarde de novo.
Mas, ouvir apenas não é suficiente. Temos que nos fazer vulneráveis, remover as nossas máscaras e revelar os nossos sentimentos para criar um laço com as pessoas.
5) Inspirar ações de massa e a mudança social
A empatia também pode ser um fenômeno de massa e pode trazer a mudança social.
As redes sociais tem que aprender a espalhar não apenas informação, mas também conexão empática.
6) Desenvolva uma imaginação ambiciosa
Precisamos desenvolver empatia não apenas com pessoas marginalizadas, mas também com pessoas com crenças diferentes das nossas, ou com os nossos “inimigos”.
Se você faz campanha para diminuir o aquecimento global, que tal tentar se colocar no lugar de um executivo de uma petrolífera?
Empatizar com a adversidade também é um caminho para a tolerância social. Foi isso que Ghandi passou durante os conflitos entre muçulmanos e hindus, que levou à independência da Índia, em 1947, quando ele declarou: “eu sou um muçulmano, eu sou um hindu, eu sou um cristão, eu sou um judeu.”
Segundo Roman Krznaric em seu artigo Empathy Heroes: 5 People Who Changed the World By Taking Compassion to the Extreme, São Francisco de Assis foi um dos 5 grandes nomes de pessoas que mudaram o mundo através de atos de extrema compaixão derivados da verdadeira empatia