Josie Conti

7 informações vitais sobre o que fazer se você conhece alguém que tem depressão

Dedico esse texto ao meu colega de profissão Diego Calori, que com sua palestra sobre o tema depressão da última semana, me fez refletir sobre dezenas de exemplos vividos durante meus anos de atendimento clínico. 

Vamos lá: 

Primeiro passo para quem quer ajudar: leia esse artigo com atenção.

A depressão é uma doença séria e que vem aumentando ano após ano em praticamente todo o mundo. A lógica do aumento prova que nós não estamos sabendo como lidar com ela e que nossas atitude em relação a doença também não tem sido as mais acertadas.

É muito importante deixar claro que, para qualquer caso de depressão, quanto mais rápido a pessoa iniciar o tratamento, melhor serão as perspectivas de melhora e menos graves se tornarão os casos ao longo do tempo.

Informação, aceitação, consciencialização e diminuição do preconceito são fundamentais para o processo de melhora individual e da sociedade como um todo.

Abaixo listo 5 erros comuns quanto falamos com uma pessoa que tem depressão e, em seguida, qual seria uma sugestão de postura mais acertada a ser tomada.

 

1- Não ouvir o que o outro tem para dizer:

 

ERRO: As pessoas têm muita dificuldade em ouvir o que o outro fala. Muitas vezes nós até pensamos que estamos ouvindo nossos amigos e colegas, mas, na verdade estamos apenas esperando uma chance de falar sobre nós mesmos. Ouvir verdadeiramente significa permitir que o outro diga o que pensa e o que sente antes que tentemos oferecer soluções, comparações ou exemplos de nós mesmos. Ouvir ao outro é deixar ele ser ele mesmo, com tudo de bom ou ruim que ele estiver sentindo naquele momento.

O QUE FAZER: Manter-se em silêncio, em escuta atenta e gentil, é uma das grandes demonstrações de afeto que podemos oferecem às pessoas que amamos. É preciso treino para calar, é preciso humildade para não oferecer ao outro soluções imediatas que, muitas vezes, não servem nem para nós mesmos. Quando ouvimos atentamente, nós permitimos que todo um pensamento seja construído e, só assim, tanto a pessoa que fala quanto aquela que escuta poderá formular uma ideia que depois será melhor explorada. Ouvir, ainda, mostra para pessoa que nós “aguentamos” a sua dor, que nós a “respeitamos” mesmo nesse lado não tão bonito. Ouvir mostra que entendemos que ela não tem que ser forte e nem perfeita o tempo todo. Ouvir é estar lá para e com a pessoa antes de qualquer julgamento ou ação.

2- Julgar, tentar mensurar ou mesmo invalidar a sua dor.

 

ERRO: Existe uma tendência, frente a qualquer problema apresentado, a compará-lo com nossos próprios problemas ou com outras questões da humanidade que, na teoria, seriam mais graves. O erro se encontra em presumir que você pode julgar a dor do outro ou mesmo que, por já ter passado por uma situação pareceria, você tem todas as respostas que essa pessoa precisa.

Outro problema relacionado a depressão é que, muitas vezes, a pessoa nem sabe ao certo o que a está incomodando. Frases como “Vocês não tem do que reclamar”, “Veja a situação de fulano que é muito pior que a sua”, “No dia em que você tiver um problema de verdade, aí sim terá motivos para reclamar”, além de pouco empáticas, são cruéis e desrespeitosas com a dor do outro. Afinal, se você não autoriza a pessoa a sentir, como acha que poderá ajudá-la a melhorar? Com julgamentos como os exemplificados acima, a única coisa que conseguimos é criar constrangimento e pessoas que tentam esconder o seu adoecimento porque sabem que não serão entendidas. Ajudar nunca será fazer uma pessoa sentir vergonha por estar doente.

O QUE FAZER: Reconheça o sofrimento do outro sem compará-lo ou desvalorizá-lo, mesmo que coisas assim passem pela sua cabeça! Quem quer ajudar deve entender que falar das “crianças que passam fome na África” não diz nada para essa pessoa nesse momento. A pessoa adoecida não consegue perceber essas comparações.

Explico:  Pense, por exemplo, em uma pessoa que tem um dedo cortado em um acidente. É necessário que ela seja socorrida e não importa se outra pessoa teve a perna cortada. O dedo, naquele momento, terá que ser tratado, serão necessários pontos, ela viverá um luto pela perda. É o seu dedo e somente ele que importa naquele momento.

É preciso que você saiba que, quando a pessoa está adoecida, ela possui muita dificuldade em ver as coisas de maneira mais global. A pessoa fica mais lentificada e mais voltada para si mesma. Ela tem dificuldade de ver ao outro e TUDO ISSO FAZ PARTE DA DOENÇA e não tem nenhuma relação com egoísmo. Dar um “choque de realidade”, como muitos gostam de chamar, terá muito mais chance de ser uma agressão do que trazer qualquer benefício a médio e longo prazo. Normalmente, esse tipo de postura só gera culpa e sentimento de inadequação na pessoa adoecida.

3- Culpar a pessoa pela sua própria dor.

Erro- procurar culpados. Depois que um problema está instalado, no momento do adoecimento, não é a hora de condenar a pessoa pelo que teriam sido “más escolhas”. Tenha certeza que, se existiram más escolhas, a própria pessoa estará se culpando e o julgamento não caberá a você. Um exemplo importante para ser dado e que merece muito cuidado é não misturar adoecimento com fé. Pessoas que têm fé e amam a Deus também têm depressão! Nunca digam que uma pessoa está doente porque se afastou da igreja. Isso só gera perseguição e, mais uma vez, culpa.

O que Fazer- Ouça, não julgue, esteja presente. Se existe algo que a pessoa gostava de fazer e não está fazendo, mesmo que ligado a religião como no exemplo acima, você pode fazer convites para pequenas ações, mas tudo de forma gradual. Lembre-se que a pessoa que está adoecida não está sentindo a vida da mesma forma que sentia antes, logo, ela precisa de estímulos, mas pode “espanar” se você insistir demais.

4- Competir com a sua dor

 

Erro: Achar que você tem que dar os seus próprios exemplos. Achar que os seus exemplos são mais graves. Medir força pela sua desgraça ou pela desgraça de outras pessoas. Exemplo: Se a pessoa perdeu um filho de 10 anos, você não tem que dizer que sua vizinha perdeu dois filhos com 3 e 5 anos. Isso não ajuda ninguém nesse momento.

O que Fazer: Se falamos da necessidade de ouvir, de não julgar e nem de competir, o que resta é estar verdadeiramente disponível para a pessoa. Muitas vezes aquele que mais ajuda não é aquele que fala e sim aquele que está presente, e que oferece um café, que disponibiliza um sorriso e, principalmente, que sabe que nas relações verdadeiras existem momentos em que uma das partes estará mais fragilizada do que a outra e, nessa hora, saberá que será o seu momento de doação. Isso é amor.

5- Achar que, pelo fato da pessoa estar bem em um dia, isso significa que ela dissimula os outros dias em que não está bem.

 

Erro: Erramos pelo excesso de julgamentos, mas também erramos pelo excesso de expectativas e falta de conhecimento. Saber mais sobre a doença e sobre como ela funciona, como você está fazendo agora ao ler esse texto, permite que você reaja melhor frente aos momentos de melhora e recaídas de quem está em tratamento.  A informação sempre será uma arma a seu favor e a favor da pessoa adoecida. O desconhecimento dá margem para atrocidades.  Lembro-me de um exemplo de uma paciente que eu acompanhava em um serviço de saúde e que estava afastada do trabalho por síndrome do pânico. Certo dia, em um momento de melhora, a jovem foi ao shopping com algumas amigas e colocou uma foto nas redes sociais. Isso era ótimo! Ela saiu e se divertiu por algumas horas. Essa foto, entretanto, foi usada pela empresa em um processo para dizer que a jovem estava simulando o adoecimento. Com isso tudo o que conseguiram foi uma cronificação ainda maior do caso onde a jovem passou a ter medo de demonstrar qualquer alegria em ambientes públicos, pois poderia ser julgada como mentirosa e punida. A ansiedade aumentou e o quadro piorou. Esse é um exemplo de como a desinformação sobre a doença (da empresa e dos advogados, nesse caso) gerou prejuízos pessoais e sociais. Agora, antes de perguntar para uma pessoa que está afastada por adoecimento sobre como estão as suas férias, recomendo que reflita sobre o peso de uma frase dessas: Ela é fruto de ingenuidade ou julgamento? Erro muito importante, também, é achar que a depressão apenas se manifesta na tristeza. É comum, principalmente em idosos, sintomas de irritabilidade. Ou seja, mais informação sempre!

O que fazer: Os momentos em que a pessoa está melhor são grandes oportunidades para que ela comece a se lembrar de como era a vida antes do adoecimento e volte a ter uma melhor expectativa referente ao seu futuro. Os dias melhores são a prova de que vale a pena continuar!

6- Ter expectativas irrealistas

Erro: Existe uma grande expectativa relacionada a qualquer adoecimento porque nós tendemos a relacionar doenças a coisas que devemos tratar por um tempo e, depois disso, o problema acaba. Isso acontece com uma dor de ouvido, com uma inflamação de garganta. Mesmo com um braço quebrado que, após o uso do gesso, mais uma vez se calcifica. Na depressão, entretanto, nunca sabemos exatamente qual será a evolução da doença e, para piorar, ainda temos a questão de não existir um osso quebrado, ou uma ferida aparente para indicar uma evolução da cicatrização. Muitas vezes o tratamento levará meses ou até anos. Algumas pessoas se mantem em tratamento ao longo de toda a vida. O que é mais importante aqui não é o tempo de tratamento porque isso não importa, o que temos que ter em mente é que qualquer pessoa viva quer e procura qualidade de vida. Logo, se para que essa pessoa tenha mais qualidade de vida ela deve ser medicada em algum momento, devemos abrir nossos olhos e nos despirmos de preconceitos. Nunca incentive uma pessoa que toma medicação para depressão (ou qualquer outra patologia) a parar com uma medicação sem o consentimento de seu médico.

O que fazer: Incentivar ações de cuidado. Seja o acompanhamento com psicólogo e/ou com médico psiquiatra. Seja a prática de alguma atividade física, seja a retomada de algo que gosta de fazer, mas sempre tome muito cuidado para não misturar as coisas. Cada atividade tem a sua função e uma coisa não substitui a outra.

7- Abandonar ou dar a ausência pedida

Erro: Se você percebe que o seu amigo, conjuge ou familiar está adoecido por uma doença que afeta o seu humor em diversos momentos, você também tem que levar em consideração que essa doença também pode afetar a sua capacidade de julgamento do que são as melhores escolhas para si. Isso não quer dizer que a pessoa não esteja lúcida ou que esteja “louca”, não é isso, mas ela pode não estar suficientemente apta para tomada de diversas de decisões que afetam diretamente o seu bem estar. Uma pessoa com depressão moderada ou grave pode passar dias sem tomar banho ou se alimentar, por exemplo. Ou seja, estamos falando de alguém querido que pode precisar de uma ajuda que, naquele momento, ela pode dizer que não quer.

O que fazer: Esteja presente da forma que for possível. Ligue, passe na casa para dar uma olhada se está tudo bem, observe se tem algo faltando, alerte outras pessoas próximas se for preciso. Veja se a pessoa está se cuidando e fazendo tratamento (indo as consultas, tomando os remédios, etc). Um dos grandes problemas da depressão é que a pessoa, por estar sem energia, abandona o tratamento, logo, uma das grandes demonstrações de afeto que você poderá dar é não abandoná-la nesse momento.

Esteja presente.

Segundo passo para ajudar.  Compartilhe esse texto com o maior número possível de pessoas.


Nota: as informações acima trazem conteúdos escritos de forma informal e visam apenas a informação pública preventiva. Nenhuma informação publicada em meios de comunicação substitui a avaliação, diagnóstico e acompanhamento de um profissional.

Imagem de capa: Africa Studio/shutterstock

Josie Conti

JOSIE CONTI é psicóloga com enfoque em psicoterapia online, idealizadora, administradora e responsável editorial do site CONTI outra e de suas redes sociais. Sua empresa ainda faz a gestão de sites como A Soma de Todos os Afetos e Psicologias do Brasil. Contato para Atendimento Psicoterápico Online com Josie Conti pelo WhatsApp: (55) 19 9 9950 6332

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