Após inúmeras dicas de amigos, ontem, finalmente, resolvi assistir “Nada Ortodoxa”, uma minissérie recentemente lançada na Netflix e, não por acaso, fiquei apaixonada pela trama e história de libertação da personagem.
Como disse a editora Mônica Santos, para Veja São Paulo:
“Nada Ortodoxa é uma série curtinha, com apenas quatro episódios, que dá para assistir em pouco mais de três horas. Miúda, com traços delicados, mas gigante na capacidade de envolver e conduzir o espectador pelo drama de sua personagem, a atriz israelense Shira Haas interpreta Esther Shapiro. Ela é uma garota judia de 19 anos, recém-casada, que decide fugir do marido e da comunidade ultraortodoxa de Williamsburg, no bairro do Brooklyn, em Nova York. Seu destino é Berlim, onde desembarca com a roupa do corpo e alguns trocados.
1- A história é baseada nas memórias reais de Deborah Feldman, e ilustra os obstáculos de uma jovem que enfrenta frente às tradições opressivas da religião em que ela nasceu. O fatos de falarmos em “termos reais” sempre nos empresta uma sensibilidade mais apurada com relação a trama. É como se sentíssemos que qualquer um de nós poderia passar por aquilo, uma vez que, como bem mostra a personagem principal, a única coisa que ela fez para estar inserida naquele meio foi ter nascido.
2- A história é curtinha: são só 4 episódios. Isso faz com que a pessoa que assiste não se desgaste em uma espera infinita por novas temporadas. Isso também permite que a pessoa possa maratonar tudo em um mesmo dia e já compreender toda a história com começo, meio e fim. Eu gosto disso. E você?
3- A história nos faz pensar no peso que carregamos através de gerações. A luta de Esty, a protagonista interpretada por Shira Haas, mostra como a falta de escolhas pode cercear toda uma vida. É muito difícil para qualquer pessoa poder mudar, caso não conheça nenhuma outra possibilidade. Imagine uma pessoa que nasce dentro de uma comunidade ultraortodoxa então? Esty só tinha tido acesso a cultura dela, mas ela se sentia mal, ela sentia que aquilo era errado e abusivo. Ver como Esty vai percebendo tudo isso enquanto amadurece é algo triste, mas também belíssimo e emocionante.
4- A série fala também sobre como, dentro de uma comunidade ultraortodoxa, estão preservados hábitos que hoje podem ser vistos como extremamente machistas. Espera-se, na família de Esty que ela, como dito na série, ajude a repor as vidas perdidas durante o holocausto. Isso seria nobre, mas apenas se fosse uma escolha. Como disse Leonardo Granadillo: “…a série faz lembrar alguns aspectos de The Handmaid’s Tale (série distópica que também indico) por mostrar como a religião, ainda hoje, mantém uma série de ritos e “tradições” que relegam as mulheres ao papel de mães e esposas submissas.” Lembrando, é claro, que a frase anterior não se refere a todas as religiões, mas sim àquelas que mantém essas características.
5- A série mostra o poder dos exemplos positivos e poderia até mesmo ilustrar o Mito da Caverna– Esty é filha de uma mulher que abandonou a comunidade e que era estigmatizada por ela. Esty também rejeitava essa mãe pelo abandono. Entretanto, a trama mostra como apenas o tempo e maturidade podem permitir que entendamos a escolhas de alguém. Apenas através do “abandono” a mãe de Esty pode libertá-la. É preciso conhecer o mundo que existe lá fora. A mãe de Esty, no decorrer da série, ainda mostra a filha que seu “abandono” também não foi exatamente como a filha foi induzida a acreditar.
6- Em dados técnicos, a série obteve 8.3 / 10 na IMDb, apenas 0,2 pontos abaixo do Inacreditável (mais uma série super indicável que também está na Netflix), o que é um bom sinal, pois mostra que o pessoal está gostando muito.
7- “Nada ortodoxa” permite que vistamos a pela de sua personagem, que sintamos sua dor, experienciemos com ela a primeira vez de muitas coisas. Esty encontra o prazer e a vida assim como nós, ao vê-la, também reencontramos o prazer de usufruirmos de nossa liberdade e de termos nascido em condições melhores para poder fazer escolhas. Através de seu corpo franzino, Esty, por quem nós facilmente nos apaixonamos, mostra como o nosso real poder está muito além das aparências.
Abaixo, o trailler:
Nota da página: é importante que tenhamos clareza que a série, mesmo que baseada em uma história real, reproduz um caso de uma comunidade ultraortodoxa e não representa a realidade da grande maioria das outras comunidades judaicas que existem pelo mundo.
Imagens reprodução/divulgação
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