Na última semana tive o privilégio de ver “Rosa e Momo”, o remake de “Madame Rosa”, de 1977, filme que inspirou a maravilhosa Sophia Loren a sair de sua aposentadoria no auge de seus 86 anos. Nele, Sophia é a “madame” que faz o papel de Rosa e o jovem ator Ibrahima Gueyee, faz o papel do órfão senegalês Momo. O longa contou com a direção de Edoardo Ponti, filho mais novo da atriz que já a dirigiu anteriormente, e foi produzido durante a pandemia de coronavírus de 2020. A estreia aconteceu em novembro deste ano na Netflix.
A história é rica, sensível e encantadora. Trata de questões ligadas a marginalidade, envelhecimento, diferenças culturais, traumas do passado, conflitos entre gerações, aceitação e, principalmente, da construção de vínculos verdadeiros que são aqueles que só acontecem quando enxergamos a pessoa, e a amamos, reconhecendo suas limitações e imperfeições.
O enredo descreve Rosa, uma profissional do sexo que, após envelhecer, passou a trabalhar cuidando de crianças que são filhas de outras mulheres que ganham a vida como ela ganhava. Após ser assaltada por uma criança na rua, Rosa recebe a visita do Dr. Coen (Renato Carpentieri), o então responsável por Momo, que descobriu o roubo e o faz devolver as coisas e pedir desculpas. Depois disso, motivada por uma recompensa financeira, Rosa aceita cuidar dele por alguns meses. A partir daí, presenciamos a construção dos laços afetivos entre “dois teimosos”, onde fica cada vez mais claro o quanto um precisa do outro. Até então poderia parecer um roteiro clichê, né!? Mas o filme tem bem mais do que isso, o que o diferencia dos “melodramas” que costumamos ver por aí!
Veja, abaixo, alguns dos motivos para assistir o filme:
Na cena, Sophia é chamada para uma dança com sua melhor amiga, Lola, a transexual (Abril Zamora), ao som de “Malandro”, música composta pelo músico Jorge Aragão e o parceiro Jotabê por volta de 1968 e lançada em 1976 na voz de Elza Soares. A beleza da cena mostra um momento de descontração entre as amigas e também é um ponto de virada que faz com que Momo lembre de sua mãe.
Rosa é uma judia sobrevivente do Holocausto, mas convive com uma melhor amiga chamada Lola, interpretada pela transgênero espanhola Abril Zamora. Na trama, ela é mãe de uma das crianças cuidadas por Rosa. Temos contato também com o Dr. Coen, um médico judeu que é responsável por crianças órfãs de refugiados e outro amigo de Madame Rosa, o dono da loja Hamil (Babak Karimi), um muçulmano que trata Momo com afeto e, inclusive, junto com “Madame Lola, lhe oferece alguma ideia sobre o que é ser um muçulmano, característica das origens de momo que ele perdeu com a mudança de país e a orfandade.
Um dos trechos de rara sensibilidade mostra um diálogo entre Momo e o senhor Hamil em que Momo pergunta ao “patrão” se ele já foi casado. O Sr Hamil, então, conta que foi, mas que hoje vive só, pois sua esposa faleceu. Momo, como toda criança, resolve, então, que ele e a Madame Rosa deveriam ficar juntos e ser um casal. Mas, para perplexidade de Momo, o Sr Hamil explica que ele não poderia ficar com Rosa, pois ela é judia e ele mulçumano.
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A fotografia da produção é impecável e recebeu a mais perfeita descrição pelas palavras de Pâmela Eurídice, do Cine Set.
“As cores são muito bem trabalhadas e expressam as relações propostas pela produção. Enquanto Momo se mantém isolado e fechado para um elo com Rosa, por exemplo, o azul permeia suas cenas. A iluminação sobre seu corpo negro é delicada e lembra bastante a utilizada em “Moonlight” e “Queen & Slim”, a fotografia comprime o menino, o deixando em quadros distantes dos outros personagens. Essa situação muda gradativamente, conforme ele permite que Rosa entre em sua vida, abrindo espaço para que o amarelo e o vermelho substituam o azul.”
Rosa, uma mulher forte e destemida, durante toda história, mostra como é, na verdade, uma sobrevivente. Ela não é “boazinha” e muito menos permissiva. Suas falas, muitas vezes, chegam a ser cruéis. Seus atos, entretanto, têm interesse e malícia, pois ela precisou disso para sobreviver nas ruas como profissional do sexo e, certamente, para escapar viva da perseguição durante o Holocausto.
Mas, se os traumas a fizeram forte, eles também são a área que mostra a vulnerabilidade de Rosa. E é justamente no porão do prédio onde mora que ela encontra seu refúgio interno e onde, de tempos em tempos, recarrega suas forças e se sente segura. O local, como é descrito por ela no filme, a faz lembrar do porão onde se escondia durante as perseguições da segunda guerra.
“Em Auschwitz, sempre me escondia debaixo dos barracões quando havia chamada”, relata ela ao jovem africano. “Aquele era o meu abrigo; lá eu me sentia segura. Eu tinha a mesma idade que você, Momo.”
Já momo, tem sonhos vívidos em que está em sua terra e é acarinhado e maternalmente protegido por uma grande leoa, que é uma mãe imaginária que substitui a mãe que, como ele mesmo diz, nunca o abandonou, mas que morreu e não pode mais cuidar dele
A atriz, que nasceu em Nápoles na década de 30, também teve uma origem pobre e vivenciou a escassez de alimentos e a guerra.
“A razão pela qual fiz este filme é que Madame Rosa me lembra muito a minha mãe: por dentro, era frágil e vulnerável, mas para os outros, passava uma imagem forte”, disse Loren durante uma entrevista para a TV no CBS-Morning-Show, programa matinal do canal americano. (Fonte)
Ver Sophia Loren idosa nos mostra o peso histórico que trazemos em cada ruga de nosso rosto. Ela, além de uma magnífica atriz, foi considerada uma das mulheres mais bonitas e sensuais do mundo. Ver o seu processo de envelhecimento no filme nos lembra da importância da vida em cada uma de suas fases. E, o que é mais incrível nisso, é que ela continua linda!
É Momo, o menino muçulmano refugiado do Senegal, o narrador da história. Ele, assim como Rosa, é um sobrevivente exposto a todos os perigos das ruas, mas ele pertence a uma outra época:
“Tenho 12 anos. Meu nome é Mohammed. Todos me chamam de Momo”, diz o rapaz africano em italiano. “Sou órfão. Quando era pequeno, o serviço de assistência a menores me entregou ao Dr. Coen.” (Fonte)
Não há um aprofundamento da temática, mas ela está lá, assim como os refugiados. E, temos que falar sobre isso.
“Rosa e Momo” é um filme que nos emociona sem esforço. As cenas que mostram a perda de lucidez de Madame Rosa são avassaladoras. A inversão de papeis dos protagonistas, entretanto, mostra a redenção de ambos. Encontrar Momo devolve humanidade a Rosa. É como se esse inusitado encontro no fim da vida fosse uma chance que ela teve para fazer as pazes consigo mesma antes de partir.
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