Quantas palavras e expressões nós usamos sem nos darmos conta de sua origem ou mesmo do sentimento que elas podem causar em determinadas pessoas?
Após nós mesmos, aqui da CONTI outra, sermos corrigidos pelo uso de palavras que não são mais bem vistas por sua conotação histórica pejorativa, como a expressão “lado negro” e a palavra “denegrir” (mesmo que usadas em um contexto não preconceituoso), optamos por selecionar e divulgar uma lista para propagar esse conhecimento e ajudar outras pessoas a também evitarem determinadas palavras e expressões que podem ser facilmente substituídas. Afinal, se usamos palavras que ferem alguém, o mínimo que podemos fazer é refletir sobre a necessidade de as continuar utilizando.
Segundo Viver Bem,”De acordo com pesquisa do Ibope, de cada 10 brasileiros, 7 admitem já ter feito alguma declaração discriminatória pelo menos uma vez na vida”. O Ibope ainda indica que, “De cada dez brasileiros e brasileiras, apenas dois assumem ser racistas, machistas ou homofóbicos, mas sete admitem já ter feito alguma declaração discriminatória pelo menos uma vez na vida. “Mulher tem de se dar ao respeito”, “não sou preconceituoso, tenho até um amigo negro” e “pode ser gay, mas não precisa beijar em público” são exemplos de comentários que expressam a reação da população diante da diversidade racial, de gênero, de orientação sexual ou estética. (…) ““Quando perguntamos diretamente se a pessoa tem preconceito, ela acha que não. Mas, quando apresentamos frases preconceituosas, o índice aumenta”. Entre os pesquisados, 73% admitiram ter falado frases como “mulher ao volante, perigo constante”, “ela tem cabelo ruim”, “isso é coisa de mulherzinha” e “ela é bonita, mas é gordinha”, entre outras.”
Guilherme Cavalcante, em artigo publicado no MidiaMAIS : “A formação das palavras e a inserção delas nos dicionários estão bastante relacionadas ao uso popular, principalmente em períodos em que a igualdade entre diversos segmentos da sociedade era ainda pior que atualmente. E como o uso dessas palavras podem atravessar gerações, o uso inconsequente de algumas acaba alimentando um ciclo de discriminação por meio da linguagem. Por exemplo, quando utilizamos a palavra ‘judiar’, como sinônimo de ‘maltratar’, sem termos a menor noção de que é um termo extremamente ofensivo para judeus.”
O próprio autor, mencionado acima, fez uma seleção de 10 palavras e expressões com essa conotação.
A palavra que significa ‘tornar negro ou impuro’ é claramente racista. Largamente utilizada desde o período em que o Brasil era escravocrata, ‘denegrir’ é uma palavra cujo sentido pode ser facilmente substituído por ‘desqualificar’ ou ‘caluniar’. Desta forma, mantém-se o sentido da frase e esquiva-se do racismo embutido.
A palavra que tem sentido de ‘atormentar’ ou ‘maltratar’ e até mesmo ‘zombar’ refere-se, na verdade, ao povo judeu, que historicamente foi vítima de perseguições, inclusive vítima de um holocausto e dizimado em câmaras de gás nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.
Expressão utilizada para desmerecer uma atividade, é extremamente machista, já que é empregada quando alguém tenta reduzir a importância de uma reação ou atividade (chorar e trocar a fralda de um bebê, por exemplo).
É uma forma pejorativa de referir-se à travestis e tem o mesmo sentido desdenhoso de quando usamos o sufixo ‘eco’ em ‘jornaleco’, por exemplo. Para referir-se corretamente a esta população, use o termo ‘travesti’ e sempre utilizando o artigo feminino (‘a’ travesti), nunca o masculino (‘o’ travesti).
Bicha, veado, veadinho… Todas as expressões que ridicularizam um homossexual não são ok de usar. É claro que esta população busca ressignificar a palavra (bichinha é quem é gay? Ok, eles têm orgulho de serem assim), mas estas expressões só podem ser utilizadas se houver intimidade entre os interlocutores.
“Gordo só faz gordice”, diz o ditado preconceituoso e gordofóbico, já que ‘gordice’ é o termo utilizado para referir-se a qualquer trapalhada cometida por uma pessoa gorda – que curiosamente costumam ser as mesmas trapalhadas de pessoas magras. ‘Gordice’ nem está no dicionário, deveria sair também das nossas expressões.
Nego, uma corruptela de negro, é usado costumeiramente numa expressão referencial do tipo “mas nego gosta de uma confusão” ou “neguinho ta achando que pode” e ainda “não sou tuas nega“. São expressões racistas, que são sempre utilizadas, na forma geral, para referenciar um mau comportamento. Risque da sua lista já!
A palavra, que para muitos em Mato Grosso do Sul é sinônimo de índio, tem teor altamente racista, já que foi inicialmente designada para referir-se a estrangeiros numa visão etnocêntrica, ou seja, do ponto de vista do colonizador (civilizado), que estava diante de um ‘primitivo’ (pagão, sem alma, sem educação, civilidade, um sub-humano, na visão dos portugueses). Tem a mesma origem que o termo usado para designar os búlgaros na Europa antiga que seguiam os preceitos de uma ramificação da Igreja Católica não alinhada a Roma.
Palavra utilizada como sinônimo de deslealdade, patifaria e até um ‘suposto’ comportamento típico de baianos. É claro que é uma expressão racista em relação a nordestinos, como se determinadas condutas tidas como impróprias fossem exclusividade de baianos ou nordestino. Retire do dicionário.
Esta expressão é utilizada como sinônimo de alguma atividade frustrante e cansativa, tais como ir a locais lotados, esperar muito tempo em filas, etc. Porém, para exprimir essa ideia, recorre a um comparativo desnecessário aos índios.
E você, conhece outras frases e expressões que devem ser evitadas? Ajude-nos a tornar essa lista ainda mais rica!
***PS- lembrem-se de explicar o significado a quem usa uma palavra ou expressão de forma equivocada. Talvez essa mesma pessoa nem tenha tido consciência do que está reproduzindo.
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Com informações de MidiaMAIS, Gazeta do Povo, Vírgula, Ah, Branco, dá um tempo!, IG
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