9 crianças de 9 religiões dizem o que pensam de Deus

Por Nara Rúbia Ribeiro

Eu sempre digo que criança não tem religião. A criança tem pais deste ou daquele grupo religioso. Pelo menos para mim, influenciar um filho ainda em formação para que siga esta ou aquela verdade religiosa é cerceá-lo, limitá-lo em sua livre escolha em matéria que poderá ser muito importante em sua vida.

Também não critico quem ensine a sua fé aos seus filhos. Acho que pode ser a forma encontrada  pelos pais para transmitir muitas das suas verdades.

A Folha de São Paulo ouviu, então, crianças que crescem no seio de nove grupos religiosos diversos. Eles disseram o que para eles é fundamental, no seu credo. Ou seja, a ideia do sagrado, da divindade. E disseram ainda o que esperam de seu Deus.

Foram ouvidas crianças de 6 a 11 anos de idade cujos pais são ligados ao: budismo, candomblé, judaísmo, rastafári, islamismo, cristianismo protestante, catolicismo, união do vegetal e espiritismo.

Manuella Araújo da Costa, 10 anos, candomblé, afirmou que para ela Deus é Oxum. “Oxum é a santa que me protege. Ela tá no mato, para curtir a vida”. A pequena ainda relatou um caso de intolerância religiosa que sofreu na escola: “Uma professora uma vez contou que um lobo ia na porta da criança que não é batizada [como cristã]. Fiquei com medo, chorando“.

Luke Saul Jospa, 9 anos, judeu, que deu sua visão sobre Deus de uma forma bem diferente.

Para nós não tem inferno, só céu. Assim: vamos fingir que você está no teatro. Se foi uma boa pessoa, ficaria na frente, mais perto de Deus. Se foi uma ruim pessoa, ficaria lá atrás”.

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Núbia Selassie Cestaria Granello, 6 anos, é da religião rastafári e fala no deus Jah se referindo à ele como sendo as batidas de seu coração. “Ele e o meu coração e fica batendo em todos os momentos. Peço a Jah que o mundo fique bem limpinho”

Núbia Selassie Cestaria Granello, 6 anos, é da religião rastafári e fala no deus Jah se referindo à ele como sendo as batidas de seu coração. “Ele e o meu coração e fica batendo em todos os momentos. Peço a Jah que o mundo fique bem limpinho”, disse Núbia.

Pertencente à religião União do Vegetal (dissidência do Santo Daime), Darah Cally Patrício, 8 anos, diz que é legal beber ayahuasca e que a bebida dá vontade de dar risada. “É muito legal beber. Tem gente que vomita, mas eu não sinto medo, sinto amor. E vontade de rir muito! Já vi árvores falando comigo“.

Para o  muçulmano Mohamed Hussein Abid Ali, 8 anos, deu uma resposta direta sobre o que Deus representa para ele. “Deus é tudo para mim”. O pedido mais comum do garoto nos últimos dias é para que chova.

Para Ariom Scheffler, 11 anos, budista, Deus não é um ser físico. “Não tem um Deus físico, Deus é tudo e tudo é Deus”, disse. “Ele é feito de luz. O arco-íris, no budismo, representa uma pessoa com coração iluminado“.

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Ariom Scheffler, 11 anos, budista, Deus não é um ser físico. “Não tem um Deus físico, Deus é tudo e tudo é Deus”, disse. “Ele é feito de luz. O arco-íris, no budismo, representa uma pessoa com coração iluminado”.

Pietra Hanna Castanho, 10 anos, é evangélica e definiu Deus como alguém que a ama e a ilumina. “Deus nos ama e nos ilumina. Ele me ajuda quando alguém briga comigo”, afirmou.

A católica Beatriz Dias Samuel, 8 anos, diz que “Deus estão no meio do coração de todo mundo e que para ela, Ele é um ser com cabelo longo porque “no antigo tempo não cortavam cabelo”.

Já a espírita Clara Veiga Carvalho, 10 anos, compara a reencarnação com a metamorfose da borboleta. “Deus criou a borboleta. Ela é bonita e feliz. Começa como se fosse um bicho horroroso, gosmento, e vira uma borboleta linda. É como o espírito que reencarna: você vai crescendo e evoluindo”.

Toda religião é boa quando os seus ensinamentos inspirarem os seguidores a serem pessoas melhores.

Que as nossas crianças, e nós adultos, meditemos nas palavras de Madre Teresa de Calcutá:

“Podemos nos tornar um Hindu melhor, um Muçulmano melhor, um Católico melhor.”  E que nisso esteja o nosso esforço. Ser um humano melhor.

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Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra

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Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
No Facebook: Escritos de Nara Rúbia Ribeiro
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