O vocábulo hipocrisia vem do grego, “hupókrisis”, que significa “interpretar”, ou seja, encenar a respeito de sentimentos e crenças. Era também um termo utilizado na arte da retórica e nas atividades públicas da Grécia Antiga.
A palavra hipocrisia é nossa contemporânea, porém, como forma de simular falas, emoções e gestos que parecem verdadeiros. É fingir ser o que não é, um dos maiores males do comportamento humano, que causa mal-estar nas relações sociais e afetivas.
No entanto, a hipocrisia não se caracteriza como doença psíquica e sim num quadro de autoengano, que tem como origem uma enfermidade moral. É por isso que as pessoas hipócritas precisam criar uma identidade, a fim de aparentar que possuem “boas qualidades”, ocultando seus defeitos.
Assim, elas podem transitar livremente e não serem questionadas em seu falso moralismo. Um exemplo clássico de atos hipócritas é denunciar os outros por realizarem ações deploráveis enquanto praticam as mesmas atitudes.
Aliás, os indivíduos hipócritas são muito egoístas, que costumam exibir que têm amigos importantes na sociedade. Eles utilizam as redes sociais como “palco” para simular sinceridade e honestidade, contudo, o que fazem é falar mal da vida alheia, como um meio de descarregar seus recalques.
Sigmund Freud apresenta uma leitura atualizadíssima da hipocrisia do “homem civilizado”, que revela seus sentimentos obscuros e repletos de contradições e ambivalências, cujas origens estão repousadas sobre o recalcamento da sexualidade.
Para o pai da psicanálise, os sujeitos hipócritas desejam ser mais nobres do que os outros, porque sucumbiram à neurose. Entretanto, não querem renunciar suas cobiças sexuais, suas agressividades e não hesitam em prejudicar seus semelhantes por meio da mentira, do engano e da calúnia, contanto que fiquem impunes.
Em outras palavras, são aqueles que defendem o matrimônio, mas mantém relações extraconjugais, exaltam a importância da família, mas desprezam as novas configurações familiares, pregam a moral e os bons costumes, mas escondem sua perversidade, condenam a corrupção, mas praticam desvios de condutas, afirmam que são pessoas de Deus, mas desrespeitam a religião do próximo.
Essas contradições estão bem colocadas no ditado popular: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.” Elas ainda se encaixam no que disse o grande Marquês de Maricá: “A intolerância irracional de muitos escusa ou justifica a hipocrisia ou dissimulação de alguns”.
Portanto, devemos – ficar atentos – à hipocrisia dos dias atuais, pois ela circula descaradamente no mundo real e virtual, causando todos os tipos de prejuízos.
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Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista
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