Por Tatiana Nicz
Da mesma maneira que o governo brasileiro através de leis quase-utópicas nos obriga a viver na marginalidade, a sociedade nos empurra cada vez mais para a “marginalidade emocional”. Nós vivemos julgando e excluindo aqueles que demonstram sua incapacidade de amar incondicionalmente.
Ninguém ensina que sentimentos não brotam da noite para o dia. Então, uma mãe deve amar um filho, não importa seu caráter, um filho tem que amar um pai, independente das circunstâncias em que foi criado. Sim, temos que amar os “nossos”, “no matter what”.
Cobramos uns dos outros sermos as pessoas bondosas e espiritualmente elevadas que não somos. Ninguém nos ensina que o amor é condicional sim; ninguém se lembra de levar em consideração que o que vemos nas propagandas de margarina e filmes é mera ficção; e que os filmes repetem apenas um modelo muito engessado do que deveria ser um relacionamento ideal, porém “esquecemos de lembrar” que o ideal, em sua própria condição de ideal é nada mais que ilusório.
É tudo muito bonito de ver, esse acolhimento entre amantes, entre pais e filhos, entre amigos de longa data, mas aqui fora no mundo real, entre meros seres mortais que somos, amor é algo bem desafiador. É um sentimento construído em bases muito mais profundas daquelas que aprendemos e é apenas uma troca. Amor não é algo que brota em terreno onde há escassez de sentimentos. Amor não obedece julgamentos, nem raça, cor, credo ou grau de parentesco. A matemática é bem simples: assim como uma semente, se ele não for plantado, regado e cultivado ele simplesmente não nascerá.
Na era do “politicamente correto” todo mundo parece ser doutor de vida alheia enquanto é analfabeto de sua própria vida. Ditamos quem o outro deve amar, ditamos quem o outro deve perdoar. E por vivermos engessados nesses moldes utópicos de como um pai, uma mãe, um filho, um companheiro deveria ser e não é, vivemos frustrados.
Gostamos também de ditar o que o outro deveria fazer, sem pensar se nós mesmos conseguiríamos lograr tamanho ato. Enquanto cobramos amor entre pai e filho, companheiros, amigos, parentes, a realidade é que uma relação de troca saudável entre essas pessoas é a grande exceção e não a regra. Além do mais aqueles que mais amamos serão também aqueles que terão o maior poder para nos magoar. E assim é.
As palavras de Freud, Jung e demais estudiosos da psicologia reverberam e criam uma grande geração de “traumatizados” emocionais. Por nos basearmos nesses modelos vivemos frustrados, cobrados, julgados e julgando em uma busca incessante e utópica de transformar a exceção em regra. Nesse sentido nos tornamos marginais por não sermos capazes de amar a todo e qualquer custo. Oposto à marginal mora o essencial. É perdendo tanta energia em adicionar ao nosso vocabulário o futuro do pretérito (um passado que deveria ter sido mas não foi) e com tantos “e se’s” e “quem sabe’s” que deixamos de incluir. Aceitar nossas incapacidades; de quebrar paradigmas e adotar a diversidade que só existe fora dos moldes; que perdemos de enxergar a essencialidade que existe nas imperfeições; em sermos mais gentis com o outro e com nós mesmos; e principalmente em acolhermos os fatos e as pessoas apenas da maneira como elas se apresentam para nós.