Por Elika Takimoto
Eu sou mulher, mas não tenho bundão, nem peito durinho nem coxas sem celulite. Eu sou mulher, mas não sirvo para embelezar estádios, para ser candidata a musa de torcida e aparecer em propaganda de cerveja. A minha sensualidade não pode ser vendida como atrativo porque ela está na minha inteligência. Entenda: não é a minha arquitetura que me define e sim a minha biblioteca. Sou mulher, mas a minha existência não gira ao redor da aprovação e da satisfação sexual masculina. Não deixo o mundo mais bonito quando uso uma roupa justa e sim quando falo, quando escrevo e quando trabalho.
Não vou negar que fico feliz quando alguém generosamente me acha bonita. Mas sei que a beleza enxergada o tempo já está levando e, em breve, pouco restará. Portanto, se me alegro quando elogiam a carcaça, regozijo-me quando enaltecem o que produzo intelectualmente: minhas aulas, meus textos e meus filhos.
Sou uma mulher madura pois gargalho por besteira. Sou delicada, não como um jarro de vidro mas tal e qual as manhãs: expulso a escuridão não somente ao colocar um salto alto e um vestido estampado de vez em quando, mas também – e principalmente – quando abro um livro ou a minha mente.
Sou mulher e não sou obrigada, por isso, a ter algum grau de parentesco com a Nossa Senhora. Sou dona de mim e rainha do meu Castelo. Não ostento jóias. Mereço mais profundidades. Sou o pássaro que canta não para comunicar-se e sim para permitir a primavera. De reta fiz-me curva ao olhar diariamente meu reflexo tão refratado e pleno de passados. Estou, paradoxalmente, cada vez mais presa aos que me libertam. Meu corpo carrega a história de tantas outras mulheres. Meu pretérito é imperfeito.
Meu tempo é hoje e ele não se mede por extenso. Mede-se pelas explosões e pela intensidade e complexidade dos momentos.
O meu lugar é onde eu quiser.