Por Patrícia Dantas
Uns outros, é como ouso chamá-los! – já que não se mostram para minha profunda perplexidade e comoção.
Às vezes, vejo-os como tochas diante de um circo em algazarra, balançando as feras, com o intuito escancarado de arrancar risos inocentes de rostos que não pretendem se mostrar ao final da apresentação.
Preferem ser Uns Outros. Distantes. Intocáveis. Irreconhecíveis. Porque se mostrar conhecível e completo pode acarretar tremendas perdas. Difícil encontrá-los em seu estado líquido, filtrado, incomensurável.
Cruzamos com eles em todos os lugares, é você que está logo aí, sou eu que distribuo seu comportamento inexplicável em minha folha branca que pausa como uma insígnia secular, completando-se no correr das minhas forças.
É preciso mais que saber expressá-los, porque eles necessitam vir de um riso afoito e provocante – louco e esvoaçante, cheio de preferências pelo inusitado.
Também sou Uma Outra, desconhecida quando me olho ao longe, refletida no espelho que engana nossa percepção mais aguçada. O que ele quer com tamanha realidade jogada aos nossos olhos? poderia ser mais sutil, como o toque aveludado do amante que chega de máscaras para realizar a fantasia na sua noite dos mascarados.
Espera! Como ouso falar de algo que não entendo como posso descobrir? Essa questão de chocar a realidade como um surto de loucura que corre solta não pode sair dos palcos, do teatro, da fantasia, das inesquecíveis ficções, das tramas fragmentadas, dos personagens megalomaníacos e totalmente desprendidos de si.
É que bem lá no íntimo tenho algo de chocante e desproporcional, que luta, corre, devaneia, grita, que não suporta correntes nem meios-termos, que se eriça frente ao rosto vivo e visto todos os dias. É a roupa sempre nova. Um corpo leve e renovado. É o próprio palco armado cheio de personagens de mundos possíveis.
Às vezes mostro, outras vezes escondo o que me é essencial.