Por Patrícia Dantas
Ela é como a mulher que dobra a esquina sem saber com quem vai topar. Embora ela não espere dar de cara com um cafajeste, é o que às vezes acontece. Literalmente, quebrar a cara, para só assim aprender ou remediar da próxima vez que agir. É que não se tem escolha, ou faz, ou se adianta, ou se espraia por onde passa, ou nada.
O mais interessante é que tem gente que só se diz madura, quando passa por uns bons perrengues na vida. “Agora sim, tenho maturidade para escolher o que é melhor para mim.” Talvez nunca lhe falaram que, para muitas reentrâncias da vida, não existem fórmulas prontas, nem regras já experimentadas, tudo acontece num raio de segundos. E não há maturidade ou experiência que resolva o insustentável do inesperado.
Se é difícil encarar alguns acontecimentos trágicos e descaminhados quando já temos passado pelo rito de iniciação, imaginemos agora – quanto mais trágico ainda – quando estamos na posição de algo intocável e embebido pela doce vida – intocáveis como a eterna juventude! É com gastar a pele com o passar dos anos, atropelar o próximo ano quando não se tem vivido o atual. Para isso tudo não precisamos de maturidade, mas de calma e compreensão, para que nosso amadurecimento aconteça como o ciclo vital da natureza, que tudo permite, tudo deseja, tudo procria, tudo destrói, tudo recria; procria e recria com o zelo e dedicação de uma mãe.
Hoje não me vejo como uma pessoa madura ou em via de amadurecimento completo daqui a alguns anos – quase já caindo aos pés da vida. Imagino que, nem quando chegar lá, ao longe, bem velhinha, esteja preparada, por certo esboçando um sorriso feliz e gritando em meu interior: “Vivi e agora sou uma pessoa madura!” Não terei tanta prepotência e maturidade para tal artimanha. O melhor a fazer é preparar os trapinhos para ver se dou sorte e alguém não me azucrina para dar conselhos que não serviriam para mim – é que não fizeram parte das minhas experiências e dos momentos que foram só meus. Tá vendo que não existem fórmulas prontas?
Experimenta me perguntar, daqui a algum tempo, o que fazer: entre uma viagem de alguns meses, ou ficar ao lado da pessoa amada, para que não lhe escape de vista. Não terei a resposta, com certeza, porque não depende de um ciclo previsível, mas da combinação de tudo, da complexidade, do caos em mim, do desconexo, de você, da outra pessoa.
Pasme! Como muitas pessoas – você, eu – têm o dom de achar que pode resolver tudo das muitas coisas que se passam em nosso complexo e banal cotidiano – porque dele não tiramos a completude, ou não sabemos ainda, mas é nosso, parte das nossas mais sofisticadas entranhas. Estamos mal acostumados com tamanho desconhecimento, pois ralamos tanto pelo nível absoluto da compreensão que nem vemos as horas passarem tão apressadas.
Prefiro não me adiantar, mas costumo estar à frente de mim, como um binóculo refazendo e caricaturando cenas que poderiam passar mais lentamente, mas é o ritmo condensado e rijo que assume a postura do homem do tempo. “Siga, com pressa, assim chegará mais rápido, antes de você. Corra o risco, seja outra, assuma a irresponsabilidade de atropelar incansavelmente o fluxo dos seus dias. “
E assim, continuo pensando que o caminho certo é este que me sobressalta antes mesmo do amanhecer.