Sobre o amor à primeira vista

Por Diego Caroli Orcajo

Muito se diz sobre o tal “amor à primeira vista”, porém pouco se questiona acerca de tal fenômeno. Será mesmo possível que de repente, como em um passe de mágica, tão grande sentimento surgisse? De onde viriam tais afetos, vidas passadas? Sem querer ser estraga prazeres, terei de negar as hipóteses mais românticas que poderiam ser ofertadas frente a esta questão.

Nenhum grande sentimento nasce do nada, tanto ódio quanto amor são afetos construídos sob muita frustração e/ou satisfação (não custa dizer que amor e ódio andam sempre juntos). O bebê, por exemplo, nasce sem compreender exatamente que existe algo que não seja extensão de seu próprio corpo. Ao perceber parcialmente a existência de um outro ser (no caso a mãe) ele começa a desenvolver seus afetos por esta. Tal fenômeno ocorre simplesmente por conta de uma carga filogenética? Negativo! A mãe irá oferecer muita segurança e satisfação (fisiológica e afetiva) para que o amor de seu filho seja conquistado.

Ok, já ultrapassamos a primeira parte da questão, agora resta-nos explicar algo de extrema relevância. Se tais sentimentos não surgem do nada, como é que se pode explicar aquele grande “amor” (ou ódio, por que não?) sentido ao ver uma pessoa pela primeira vez?

A resposta é simples: “Não existe amor à primeira vista, porém existe um mecanismo nomeado transferência”. Por meio deste, um afeto construido por um indivíduo é transferido para outro. Gosto de dizer que ocorre um deslocamento duplo. Primeiramente o deslocamento temporal, afinal, um sentimento do passado (mais ou menos remoto) ressurge agora, no presente. E em segundo, o deslocamento de objeto, neste momento o amor que foi construído para um indivíduo agora está sendo ofertado a outro.

Não seria nada adequado encerrar por aqui sem responder uma questão crucial: “E como é que se define para quem tais afetos serão transferidos?”.

Costumo trabalhar com duas hipóteses primordiais:

– Proximidade temporal: É muito comum e costuma ocorrer em alta frequência tanto no caso do amor quanto no do ódio. Proximidade temporal remete à curta distância de tempo entre uma construção afetiva e sua transferência. Como assim? Simples! Você nunca se estressou com alguém e descarregou seu ódio em outra pessoa que nada tinha a ver com a circunstância inicial? Então, eis um belo exemplo! E sobre o amor? Podemos citar os casos em que um casal se separa e rapidamente a garota (ou garoto) adentra um novo relacionamento com as mesmas características do anterior.

– Similaridade estética e/ou comportamental: Nestes casos o afeto irá surgir por conta de um indivíduo ter alguma característica que o conecte com uma figura afetiva importante do passado. Também ocorre com alta frequência e demoramos a perceber a quantia imensa de similaridades que o objeto atual de afeto tem se comparado ao anterior. Estes casos são bem demarcados pelo fato de que a pessoa que “ama” sempre espera que o indivíduo atual se comporte de maneira identica ao do passado, fazendo com que o afeto vá sendo desconstruído conforme a convivência força a pessoa a perceber as diferenças da pessoa real frente àquela idealizada inicialmente.

Agora, com tudo muito bem esclarecido resta-me apresentar um ponto positivo e um negativo acerca do que foi dito acima.

– Todos ganhamos uma maior compreensão acerca da psicologia humana e começaremos a perceber de forma muito mais adequada circunstâncias que antes nos passavam despercebidas;

– Continuaremos tão vulneráveis quanto antes aos explosivos sentimentos de amor e ódio que surgirão durante nossa existência.

Diego Caroli Orcajo, 23 anos. Estuda psicologia na Faculdade Municipal Professor Franco Montoro.

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Desde muito cedo interessado por todas aquelas histórias que mais ninguém desejava ouvir, sempre soube que todos poderiam ir muito mais longe do que acreditavam ser possível. Atua como Psicólogo Clínico na cidade de Águas de Lindóia, interior de São Paulo. Para mais informações e agendamentos entre em contato pelo email: [email protected]