Por Adriana Vitória
Outro dia chegando ao Rio, paramos em um sinal próximo a central, onde frequentemente há um grupo de cinco a sete pessoas, geralmente mal vestidas, que correm na direção dos carros com garrafas de plástico e sabão para limpar os vidros em busca de alguns trocados.
A cena é de fato ameaçadora, mas é de cortar o coração ver os motoristas se apressando em fechar suas janelas e fingir não vê-los. Ao mesmo tempo, ficar refém, por três eternos minutos, sem ter para onde correr.
Apesar de saber dos riscos, normalmente escolho manter minha janela ligeiramente aberta e até hoje não me arrependi, apesar de já ter sido assaltada algumas vezes em situações diversas.
Desta vez o homem se aproximou com uma mulher. Os dois aparentavam profunda exaustão. Separamos dois reais e, sorrindo, permitimos que limpassem os vidros.
Quando lhes demos o dinheiro os dois se voltaram, olharam bem pra nós e nos abençoaram. Estavam de fato gratos, não pelos dois reais, apesar de sempre ajudar, mas por não sermos apenas mais um, junto com o Estado, a lhes virar as costas indiferentes a sua real existência e necessidades.
O ser humano é um dos animais mais frágeis que existem. Necessita de muita atenção e amor para se construir e criar uma estrutura interna sólida para lidar com a vida.
Quando a carência prevalece, a sociedade cria anomalias. Seres cheios de rancor e revolta que sobrevivem à margem da sociedade em submundos que nenhum de nós poderia imaginar em nossos piores pesadelos.
No final das contas, nos tornamos todos reféns de um sistema sórdido e perverso. Triste.