Recentemente fui a uma exposição no centro da cidade e uma das instalações, a de um artista oriental, perguntava aos visitantes “Se você pudesse inventar uma máquina que resolvesse um problema da sua vida, que máquina seria?”, entre os milhares de papeizinhos coloridos, um chamou minha atenção. Nele dizia: uma máquina de abraços. A genialidade daquela pessoa que eu jamais conheceria na vida me tocou profundamente. Uma máquina de abraços.
E eu queria enviá-la programada com um abraço meu para minha mãe em seus dias tristes ou em todas as manhãs em que sinto sua falta, conversando pela casa. Mandaria outra para meu amigo de coração partido que liga chorando de madrugada. A vontade mesmo era atravessar a linha e agarrá-lo forte, acalmando o medo do seu coração, ao ritmo do meu. Como não posso, abraçaria minha máquina de abraços daqui e ele receberia de lá, bem apertado e demorado, do jeito que é só nosso de abraçar.
Enviaria algumas tantas de presente para as pessoas que já amei na vida, e o abraço, seria cheio de saudade e gratidão. E haveria uma máquina de abraços num cantinho da casa da minha melhor amiga para abraçá-la só pelo tempo de eu pegar um avião e ir me preencher da existência linda dela.
Haveria uma máquina dessas em cada estação de metrô ou de ônibus para garotas que choram sozinhas no meio da rua. Eu nunca sei se posso me aproximar ou se aquele choro é um pedido para permanecer calada, em sua dor. Então, eu só entregaria uma fichinha, um vale-abraço na máquina de abraços mais próxima. Faria isso na esperança de que ela ignorasse a ficha e me abraçasse, em carne, osso e dor. Abraçasse um estranho que sentiu a solidão dela dentro daquele vagão.
E a incrível máquina de abraços iria aonde eu não posso ir, estaria onde eu não posso estar em corpo, mas estou sempre por perto em afeto, saudade e amor, medidas que a distância desconhece. A saudade foi algo que alguém um dia inventou pra que a gente se lembre sempre daqueles abraços que nos levam de volta pra casa.