Foto Sebastião Salgado
As baleias francas sempre migram para Santa Catarina no inverno, em busca das temperaturas mais adequadas para dar à luz seus filhotes, amamentá-los e nadar lindamente na costa, encantando a todos. Biólogos de outros países, repórteres, estudiosos e turistas se reúnem para ver, ao menos, um pedacinho de suas caudas fluindo pelas águas. Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que, ao chegar por aqui, eram capturadas e mortas pelos pescadores. Seus imensos ossos serviam até mesmo para construir casas e móveis. O óleo de baleia era comercializado, e a matança era uma prática comum. Hoje, quem visita a paradisíaca Praia do Matadeiro, no Sul da Ilha, pode perguntar a um nativo e saberá sobre isso.
Os movimentos migratórios sempre existiram. De certa forma, somos todos frutos desses tortuosos caminhos. Pude ouvir histórias de meus ancestrais alemães que vieram para o Rio Grande do Sul. Os tempos eram outros, ainda puderam fugir da guerra em grandes navios, carregando baús com seus pertences e até mesmo materiais de construção para as novas casas. Trouxeram suas relíquias e sua cultura, mas sempre com medo. Aqui chegados, nem podiam falar em alemão, porque eram perseguidos. Mas construíram uma rica história e aqui estamos nós, brasileiros, com as raças europeias fluindo no sangue.
Sempre lembro-me do fantástico fotógrafo Sebastião Salgado, quando ouço notícias sobre movimentos migratórios. Na década de 90, ele registrou o fenômeno global de desalojamento em massa de pessoas, no trabalho que chamou de “Êxodos” e “Retratos de Crianças do Êxodo”, publicados em 2000 e aclamados internacionalmente. Com sua sensibilidade e rara dedicação, criou as imagens que mostraram o significado mais amplo do que ocorre nas migrações. “Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas…”, declarava o fotógrafo. “Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes”, escreveu, na introdução à obra.
Diante das notícias das migrações na atualidade, especialmente do povo sírio buscando melhor sorte na Europa, permito-me voltar a sonhar com meu mundo ideal. Algo que amenize a dor de ver estes seres à deriva, sem dignidade, vítimas de tamanha crueldade e injustiças. Nos meus sonhos, a Terra não tem fronteiras, os lugares não têm donos e todos compartilham o que têm, há um equilíbrio social, baseado unicamente na condição humana. Somos uma mesma raça, a humana, na mesma casa, o planeta. Temos os mesmos sonhos, necessidades, desejos e sentimentos. Um dia, nos meus sonhos, todos encontrarão seu lugar, sem precisar desses tortuosos e mortais caminhos para, então, florescer.