Sob o véu alvo e impecável do que é correto repousa, algumas vezes, uma opressão característica de algumas pessoas que, no fundo, desejam um mundo sem quaisquer particularidades e diferenças. Um mundo, portanto, sem questionamentos. Contudo questionar é preciso, surpreender-se também; a diferença do outro é o que me torna único; a singularidade do outro é o que me torna diferente.
O apego exagerado à beleza, assim como o absolutismo do politicamente correto, são sintomas de uma doença chamada medo. Vivemos a era do temor. Temos medo de engordar, medo de não sermos aceitos, bem sucedidos e, por fim, temos medo do inevitável, envelhecer.
Vivemos a era do politicamente correto e esquecemos o humanamente correto. Somos politicamente esmerados e humanamente egoístas.
Vivemos uma tempo de padrões de beleza quase inatingíveis e preconceitos escondidos. Não se pode ser gordo; fumantes são indesejáveis, celulites nem pensar. Não se pode nada que não esteja na cartilha do imaculável. Há um padrão de peitos, cabelos, barriga, coxas e frases perfeitas. Um cárcere psíquico assassinando o prazer. Não fume, não beba, sorria com moderação para evitar rugas de expressão.
O mundo politicamente correto é chato, amplo, não enfoca a reavaliação verdadeira de conceitos pré estabelecidos e obtusos, assim como o mundo padronizado de belezas exatas também é chato, monótono, igual.
Invade-se armários, mentes e cama; educamos a língua, mas não educamos o coração e a mente. De que adianta educarmos a língua se ainda não aprendemos a aceitar as diferenças?
O lado mais bonito da liberdade é o poder da escolha sem culpas. Assim como o lado mais bonito do que deve ser correto e respeitoso é o entendimento, a aceitação do outro, seus limites e particularidades.
Nem tudo que está politicamente correto na linguagem está politicamente correto no coração e nos atos.
Imagem de capa: Syda Productions/shutterstock