Quando recebi meu diagnóstico de câncer, estava sozinha no consultório médico. Tinha ido até lá apenas para conseguir medicamentos para a dor, já que pretendia trabalhar no dia seguinte.
Porém, quis o destino que o resultado da biópsia chegasse ao consultório minutos antes de mim e mudasse o rumo da minha conversa com o doutor (e também da minha vida). Ninguém estava esperando o resultado para aquele dia, muito menos para aquele momento.
Teoricamente, a resposta viria somente dois dias depois. Mas, enfim, estávamos ali meu médico, o exame e eu. O doutor sabia que o tempo, àquela altura do campeonato, era precioso e não teve dúvida: me deixou saber de tudo.
Depois do baque, tentei administrar a sensação de vazio dentro de mim. Queria que alguém me dissesse que tudo não passava de um pesadelo. Queria alguém da família comigo para que eu não lidasse com aquela dor sozinha. Queria alguém que estivesse sentindo o mesmo que eu para que pudéssemos nos confortar em um abraço. E o abraço veio, mas foi o próprio médico quem me ofertou.
Muito sensibilizado e, visivelmente, chateado com minha situação, ele me ofereceu seus braços, suas orientações e uma carona. Aceitei só os dois primeiros. Voltei para casa sozinha. Precisava de um tempo comigo mesma, mas, ao mesmo tempo, não via a hora de me jogar no colo de alguém.
Felizmente, daquele dia em diante, todos à minha volta se empenhavam em fazer com que eu me sentisse bem. Minha família se uniu ainda mais, cada um fazendo sua parte para me deixar confiante. Era tanto amor, tanto envolvimento, tanta doação…
Senti que aquela doença era nossa, apesar de estar em mim. E, assim, compartilhado, o problema parecia menor e menos pior. Encarei o medo das sequelas da cirurgia de frente, pois sabia que eu continuaria sendo amada, independente do que acontecesse com minha fala. Entrei no bloco cirúrgico levando um pouco de cada um que me queria bem. Havia tanta gente falando de mim para Deus, tantas pessoas me conectando a Ele…
Confesso que esse carinho todo que foi constantemente demonstrado, dito, gritado, fez com que eu tivesse forças para ir adiante. O fato de ver meu sofrimento estampado em outros olhos me mostrou o valor que tenho. Eu estava frágil demais para aceitar que o tumor que tentava me consumir era problema meu.
Precisava muito de companhia. Precisava dividir a carga que a vida acabava de largar em meus ombros. Só assim teria condições psicológicas para enfrentar o que estava por vir. Se minha mente não trabalhasse a favor do corpo, o tratamento poderia ser em vão.
Boa parte do sucesso depende da maneira que o paciente escolhe encarar as coisas. Eu escolhi me unir a boas vibrações, a pessoas queridas e seguir as orientações dos especialistas. E foi assim que minha família, meus amigos, meus conhecidos, meus médicos, Deus e eu derrotamos o câncer. Acho que sozinha, eu não teria conseguido.