A fotógrafa belga Barbara Iweins maquinou um projeto notável intitulado 7AM/7PM, em que ela destaca, de forma simples, as diferenças na aparência de pessoas em dois momentos do dia: às 7h da manhã, quando normalmente acordam; e às 19h da noite, quando já passaram por boa parte do dia.
Os dois retratos comparativos são colocados lado a lado contra um fundo preto. Eles revelam mais informações juntos do que em separado.
Iweins simplesmente aborda as pessoas na rua, explica o propósito do projeto, oferece uma remuneração simbólica e recruta os interessados em participar. A fotógrafa convida essas pessoas para passar a noite em sua casa, ou, então, é convidada por elas.
Logo que ela e os participantes acordam, Iweins pede a eles que mantenham uma postura espontânea e, assim, ela capta suas feições recém-despertas. Doze horas depois, a fotógrafa retrata novamente os mesmos indivíduos, em condições diferentes.
Em alguns casos, são claras as distinções no rosto das pessoas; em outros, as distinções são muito sutis e quase irrisórias. Mas sempre há detalhes que destoam de um retrato para outro.
No começo, Iweins pensava que teria uns bons 20 minutos de folga para obter o foco ideal a partir das expressões dos participantes ao acordarem. Porém, ela logo notou que alguns desses indivíduos foram capazes de se recompor em menos de cinco minutos. As fotos tiveram que ser feitas com rapidez.
Numa entrevista concedida para o Business Insider, a fotógrafa declarou:
“Desde jovem sou fascinada por estranhos. Enquanto espero um ônibus, enquanto estou de pé em uma fila, meus olhos são sempre atraídos para uma pessoa específica e, naquele exato momento, não consigo parar de pensar no que ela está pensando, o que está fazendo, quais são seus medos e alegrias.”
Ela conta que, a partir de 2009, decidiu abraçar essa obsessão pelas particularidades de estranhos. Comprou uma câmera moderna, com lente de 50mm, a fim de solicitar registros às pessoas desconhecidas que a fascinavam. O projeto 7AM/7PM nasceu quando ela mesclou hobbie e trabalho profissional.
Por causa da cultura do status e da necessidade alarmante de interagir em mídias sociais, de ser reconhecidas, valorizadas e amadas, e também devido ao hábito de tirar selfies, as pessoas se acostumaram com a ideia de superexposição. Postam sucessivas fotos para quem quiser ver e, quanto mais verem, melhor. Mas às vezes elas não dizem nada.
Iweins prosseguiu com o 7AM/7PM porque acreditou (e ainda acredita) que a privacidade está fora de moda, principalmente para os heavy users digitais, que representam a amostra participante do projeto. Em essência, a belga quis mostrar um lado mais íntimo, vulgar e vulnerável desses indivíduos.
Curioso como um intervalo de tempo de 12 horas pode provocar mais transformações na aparência de alguém do que aconteceria em meses ou anos. Talvez por isso olhamos tanto no espelho: porque nunca temos total certeza do quê encontrar.
Logo ao acordar, poucos de nós sentimos confortáveis a ponto de mostrarmo-nos para o mundo. Mas Barbara Iweins queria saber por que há um estigma contra essa naturalidade. Com isso, ela explorou a imperfeição da beleza: a beleza em si.
A fase de despertar remete ao atravessamento de um véu. Em geral, o rosto fica inchado, os olhos deturpados, os cabelos desgovernados, a mente em ritmo mais lento, o metabolismo desacelerado e bocejamos para respirar, mesmo nas situações de urgência. Há uma espécie de auréola que rodeia, na claridade ou no escuro, da ciência do ser na origem do dia. Lutamos contra a consciência, mas ela nos força a enfrentar o que há de vir. Sobre isso, Iweins diz o seguinte:
“O único momento do dia em que uma pessoa não tem qualquer escudo é o momento em que abre os olhos pela primeira vez. Eu sempre adorei esse momento de luta, quando a nossa consciência sai do estado da irrealidade dos sonhos para o realismo, antes que o mundo nos machuque.”
O exato instante em que acordamos do sonho para a vida real é mitigador; parece que buscamos orientação em meio a uma neblina. Alguns, quando acordam, levantam da cama com disposição surpreendente. Outros, por sua vez, preferem ficar na cama pelo máximo de tempo que puderem, até que sua preguiça seja vencida. Nos dois casos, há alterações visíveis na fisionomia, e são essas que formam o escopo do projeto fotográfico de Iweins.
Algumas das pessoas fotografadas se mostraram obviamente irritadas, alienadas ou mal-humoradas. Outras demonstraram vitalidade, bom-humor e entusiasmo. Dependeu muito do biotipo de cada uma.
Iweins planeja fotografar essas mesmas pessoas mais uma vez em 2019, dez anos do início do projeto. Aí estão as fotos: