Ansiedade e depressão: saiba como a campanha Janeiro Branco pode ajudar

Depois do sucesso de iniciativas como Outubro Rosa e Novembro Azul, psicólogos e profissionais de outras áreas da saúde se unem na criação de uma campanha para chamar a atenção da população para a importância de cuidar da saúde mental. Trata-se da Campanha Janeiro Branco, idealizada pelo psicólogo mineiro Leonardo Abrahão em Uberlândia (MG).

Segundo seu idealizador, ela está alinhada com as mais modernas discussões científicas, nas quais o ser humano é tido como um ser biopsicossocioespiritual – modelo transdisciplinar criado na década de 1970 pelo psiquiatra George L. Engel, que leva em consideração fatores psicológicos e sociais no desenvolvimento de doenças.

“Saúde Mental, em uma visão transdisciplinar, humanista e moderna, engloba tanto a ausência de transtornos mentais (ou doenças mentais) como, por exemplo, a Depressão, a Ansiedade Generalizada, a Esquizofrenia ou a Bipolaridade, como, também, a capacidade de o indivíduo reagir, equilibrada e adequadamente, às circunstâncias, condições e vicissitudes da vida”, explica Leonardo. “Inspirado pelo Outubro Rosa, idealizei a campanha em novembro de 2013, criei um grupo no WhatsApp nessa mesma época e comecei a chamar psicólogos de Uberlândia para me ajudarem a tirá-la do campo do desejo e a colocá-la em prática na virada de ano daquele 2013-2014.”

A principal estratégia do movimento consiste na realização de palestras de 20 minutos em espaços públicos ou privados como salas de espera de hospitais, clínicas médicas, terminais de ônibus, filas de casas lotéricas, pátios de escola, restaurantes populares e por aí vai. Nelas, os responsáveis abordam de maneira didática assuntos delicados como sexualidade, sentimento, depressão, infância e terceira idade. Todas as palestras são gratuitas.

Uma das influências para e escolha do nome e do mês em que acontece a campanha foi literária – o poema Receita de Ano Novo, de Carlos Drummond de Andrade.  “Neste poema Drummond aconselha que a pessoa, para ganhar um Ano Novo de verdade, tem que lutar por ele, merecê-lo, fazer por onde despertar o Ano Novo que existe adormecido dentro de cada um de nós. E essa é, justamente, a proposta do Janeiro Branco: uma campanha que busca mostrar às pessoas que elas podem se comprometer com a construção de uma vida mais feliz para si mesmas”, conta Leonardo, dando ênfase ao simbolismo da virada do ano.

Já o branco vem, entre outras coisas, por causa das suas possibilidades – como a de uma folha em branco, onde novas histórias podem ser escritas.

ENGAJAMENTO

A campanha vem ganhando cada vez mais a simpatia de pessoas que se identificam e levam a ideia adiante.

A psicóloga Anuska Alencar foi uma das conquistadas. Em 2015 ela organizou e realizou, com a ajuda de outros colegas de profissão, a campanha em algumas cidades do Rio Grande do Norte. Anuska afirma que, desde o início, teve ótima impressão do projeto e isso a motivou a participar. “Acho que, apesar da saúde mental ser algo complexo, a campanha é simples e pode sensibilizar as pessoas de forma que estas possam promover a própria saúde”, disse.

Após tomar conhecimento da existência da Janeiro Branco, a também psicóloga Patrícia Tribeck se propôs a levá-la para o Meio Oeste do país. Mesmo com o receio da população local, não se acanhou, botou a mão na massa e hoje tem planos concretos para a realização da primeira edição na região. Na agenda, ações confirmadas nas cidades de Fraiburgo (onde Patrícia reside), Videira, Tangará e Pinheiro Preto.

Os envolvidos argumentam que as ações servem igualmente para um melhor entendimento da população sobre a importância do trabalho do psicólogo. “Para você ter uma ideia, aqui na região ainda não se sabe direito qual o trabalho do psicólogo, não se sabe o que ele faz”, conta Patrícia.

Por estar relacionada diretamente com questões humanas, a Janeiro Branco tem colaboração de profissionais de diversas outras áreas. Entre eles advogados, juízes, promotores, engenheiros, arquitetos, enfermeiros, empresários e estudantes dos mais variados cursos.

AGORA É LEI

A edição de 2016 teve um grande número de colaboradores de outras cidades do país e isso despertou o interesse do poder público. A Câmara Municipal de Campinas recentemente aprovou uma lei que torna oficial a Campanha Janeiro Branco na cidade.

A psicóloga Rita Pereira foi responsável por encaminhar o trabalho até as bandas campineiras. “Minha proposta de trabalho sempre foi quebrar crenças negativas e preconceitos que impedem as pessoas de cuidar da sua saúde emocional, mostrar que a Psicologia pode beneficiar qualquer pessoa e que cuidar da saúde emocional é tão importante quanto cuidar da saúde física”, justificou.

Procurado pela reportagem, o vereador Carmo Luiz (PSC), criador da lei em questão, conta que tomou conhecimento da campanha através de pesquisas feitas por sua assessoria. “Elaborei esse projeto porque tenho vários clientes que têm familiares com problemas de saúde mental, e isso me sensibilizou, pelo sofrimento dessas pessoas e seus familiares”, informou.

Embora a Organização Mundial de Saúde (OMS) se empenhe cada vez mais em alertar sobre crescimento vertiginoso das taxas de suicídio, depressão e ansiedade em todo o mundo, a saúde mental continua a ser negligenciada no debate público.

Rita não se deixa desanimar e alega ter uma visão otimista. Acredita que a lei da Campanha Janeiro Branco pode ajudar a mudar essa realidade. “Espero que o vereador Carmo Luiz e o prefeito Jonas Donizette se comprometam no apoio as ações educativas em promoção da Saúde Mental”, concluiu.

De acordo com um comunicado enviado à CONTI pelo vereador Carmo Luiz, o mesmo pretende divulgar a lei em Janeiro, “fazendo uma ampla campanha em meu mandato de vereador”.

Iniciada assim, quase de maneira informal, a Janeiro Branco trilha caminhos sólidos para se tornar um grande movimento popular. A mesma já está com atividades programadas em estados como  MG, RN, PB, RJ, SP, RS, PE, AL, GO, TO, PR e BA. Além disso, países como Uruguai e Estados Unidos estão incluídos nos roteiros da próxima edição.







Editor, escritor e jornalista.