Então, em nome da “descontração”, uma escola do Rio Grande do Sul promoveu uma festa com a temática “Se nada der certo”.
Obviamente, não deu muito certo. Fotos de alunos fantasiados de vendedores de cosméticos, atendentes de fast-food, faxineiros, cozinheiros, mendigos, e assim por diante, foram divulgadas e o mundo virtual não perdoou.
Em resposta às duras críticas, a escola pediu desculpas à comunidade e se justificou dizendo que “atividades como essa auxiliam na sensibilização dos alunos quanto à conscientização da importância de pensar alternativas, no caso de insucesso no vestibular e também a lidar melhor com essa fase”.
Assunto encerrado? Não, não. O episódio abre discussão sobre incontáveis pautas que podem e devem ser debatidas, mas a que se evidencia mais fortemente é a influência da escola na educação de nossos jovens.
Que tipo de educação nossas instituições escolares têm promovido? Que tipo de valores têm pregado? Que tipo de pensamento elas têm disseminado?
Eu resumiria o ensino médio das escolas brasileiras – principalmente as particulares – em três palavras: disciplina, competição e sucesso. É tudo bem simples. Se você não tiver a disciplina necessária para competir por um lugar no vestibular, não terá sucesso na corrida por seu curso de Medicina/Direito/Engenharia – os únicos que podem lhe conceder uma vida confortável. Nesse mar de exigências, ansiedade e rivalidades (entre as próprias escolas inclusive), ficam esquecidos, como no exemplo da escola em questão, o respeito, a empatia e a própria consciência crítica.
Pois bem. Quem é educado de forma a respeitar todos, independentemente de classe social, etnia, religião, gênero e sexualidade, não contribui com “brincadeiras” como essa. Quem está em contato com o conceito de empatia não contribui para abusos assim. Quem tem um mínimo de consciência crítica pensa duas vezes antes de propagar e divulgar eventos como esse. Aonde fomos parar, não é?
A verdade é que não temos como apontar concretamente culpados. Nem com relação ao evento na escola do Rio Grande do Sul, nem com relação à educação brasileira no geral. Nossas escolas e os valores que elas pregam são um simples reflexo da sociedade na qual elas atuam: individualista, excludente e indiferente. Tal afirmação não encerra o assunto. Na realidade, ela nos leva a novos questionamentos.
São esses os valores que queremos que se propaguem em nossa sociedade? É esse o tipo de cidadão – individualista, superambicioso e alheio ao resto do mundo – que queremos formar? Aliás, é esse o conceito de “dar certo” que queremos levar adiante?
Educar pressupõe, para além de ensinar e moldar para o sucesso, humanizar. Nisto, temos – todos, no geral – falhado miseravelmente, a nível social, escolar e familiar. A festinha na Instituição Evangélica de Novo Hamburgo é só a ponta do iceberg. Por hora, o que nos resta é remar contra a corrente. Se o conceito de “dar certo” é isto tudo que o mundo tem nos imposto ultimamente, é melhor seguirmos dando errado mesmo.