Não há dúvida de que a ansiedade é uma crise interna, que são aqueles momentos em que a mente se descontrola, desequilibrando parte do organismo: o coração acelera, a respiração torna-se ofegante, o intestino fica preso, dói o abdômen, dispara o suor, o corpo tem tremores e assim por diante. É como disse George Bernard Shaw: “A ansiedade e o medo envenenam o corpo e o espírito”.
vivemos em uma sociedade altamente estressante, que pressiona pela busca de melhores resultados, contudo, nem sempre é possível alcançá-los. A venda de ansiolíticos e antidepressivos quase dobrou em 5 anos no Brasil, entre julho de 2017 e junho de 2018, foram vendidos cerca de 71 milhões de comprimidos, aumentando os lucros da indústria farmacêutica.
Os dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, indicando que 9,3% dos brasileiros convivem com o transtorno. A OMS também aponta que 264 milhões de pessoas são diagnosticadas com ansiedade e 322 milhões com depressão no mundo.
A receita desses remédios não é errada, mas o seu uso indiscriminado, que desconsidera a capacidade da psicoterapia de analisar e tratar as origens da ansiedade. Foi Sigmund Freud o descobridor da cura da “ansiedade neurótica”, que retira dos sujeitos o controle de suas vidas. Para ele existem três tipos de ansiedade, que influência a nossa saúde mental, e a partir daí faremos uma releitura desse transtorno nos dias de hoje.
1. A ansiedade realista
A ansiedade é um sentimento normal, que pode ocorrer com qualquer pessoa. Ela surge como reação ao fato real, onde o medo aparece para alertar de algo, que põe em perigo ou agride a sobrevivência humana. Todos nós já experienciamos esse tipo de ansiedade, quando por exemplo: assistimos um prédio do lado da nossa residência pegar fogo ou no instante em que presenciamos atitudes suspeitas de alguém. Essa ansiedade é o “gatilho emocional”a ameaça iminente.
2. A ansiedade neurótica
A ansiedade neurótica nasce da antecipação ilusória dos fatos, que são reais apenas na psique, entretanto, não existem fora dela. Esse“falso gatilho” gera ações defensivas, como o nervosismo, a necessidade de fuga, o pânico, etc. Freud percebeu que nessa ansiedade, os desejos eram frustrados pelo “princípio da realidade”, uma vez que a origem disso é resultante de conflitos inconscientes, que vem à tona por meio de traumas, neuroses, preocupações exageradas, síndrome do pânico, transtorno obsessivo compulsivo, etc.
3. A ansiedade moral
Esse tipo de ansiedade produz constrangimentos, pois tem uma forte dependência da moralidade, que exerce pressão baseadas nos costumes ou nos valores advindos da família, do trabalho, da religião, da educação ou de outros modos de controle social. O superego é internalizado de tal forma que as obrigações, decepções, desprestígios, isolamentos, temores, desamores, etc., enquadram os indivíduos dentro do escopo da moral, disparando o gatilho da ansiedade. Aliás, algumas pessoas se sentem tão mal, que remoem pensamentos negativos ou têm comportamentos autodestrutivos.
4. Como enfrentar a ansiedade
A psicoterapia pode identificar os fatores que desencadeiam a ansiedade e buscar a maneira adequada para enfrentá-los. Além disso, o que ajuda a diminuir a ansiedade são os exercícios físicos, o descanso, a alimentação correta, a atenção plena no presente e as relações saudáveis. Porém, a ansiedade traz sintomas diferentes, porque cada pessoa sofre do seu jeito, então não devemos cair na generalização medicamentosa dessa instabilidade emocional.
***
Jackson César Buonocore é Sociólogo e Psicanalista
Foto de Andrew Neel no Pexels