Marcel Camargo

A ausência de algumas pessoas dói bem menos do que a permanência delas em nossas vidas

Talvez poucas pessoas nessa vida consigam aprender a esperar. Na maioria das vezes, espera e desespero se tornam sinônimos. Aguardar a passagem do tempo é dificílimo, em todos os setores de nossa vida. E daí a ansiedade aumenta e acabamos por atropelar o andamento das coisas, que deveria ser natural.

Hoje, principalmente, com a rapidez que a tecnologia imprime em diversos aspectos do cotidiano, aprender a esperar é uma tarefa hercúlea. Não precisamos mais esperar fotos serem reveladas, não temos que aguardar o carteiro para receber mensagens, as notícias são transmitidas ao vivo e em cores, descongelamos as comidas em minutos, as músicas podem ser baixadas, virtualmente, assim que lançadas.

A pressa é parte da vida de todos, enquanto as tarefas se acumulam, por mais que a gente corra. É uma tarefa atrás da outra e o relógio não dá mais conta de todo o tempo de que precisamos. O ser humano já tem a tendência a querer o prazer imediato e, no contexto atual, isso só faz potencializar. Infelizmente, alguns prazeres demandam tempo e essa é uma das lições mais difíceis de se aprender.

Há um experimento com crianças, em que são colocados dois doces em frente a elas: um menor e outro bem maior. Para escolher o maior, elas teriam que esperar alguns minutos, já o menor elas poderiam comer de imediato. Pois todas elas escolhem comer o menor, para o prazer vir logo. E todos crescemos com essa ânsia pelo agora, mesmo que o prazer futuro seja bem melhor.

Por isso é que também acabamos por manter em nossas vidas muita coisa e muitas pessoas que não nos trazem benefício algum, em razão do medo de não conseguir ficar sem aquilo tudo. No fundo, a gente sabe que precisa se desvencilhar do que emperra nossas vidas, a gente sabe que o tempo vai nos acalmar e nos trazer serenidade, mas a gente não quer aguardar o tempo necessário de sofrimento, até ele cessar. Tudo passa, mas não de imediato, e isso assusta.

É preciso ter a consciência de que a ausência de certas pessoas vai machucar, mas bem menos do que a presença delas em nossas vidas. É assim com pessoas, é assim com sentimentos, com lembranças, com lugares. Desapegar-se do que faz mal parece simples, mas não é, simplesmente porque a gente se apega até ao que machuca. Discernir entre o que fica e o que sai de nossas vidas é essencial, para que possamos sofrer com hora marcada e depois ficar livre disso.

Duro é sofrer a vida toda por temer o sofrimento do recomeço. Duro é negligenciar a si mesmo as oportunidades de escrever uma nova história. Duro é paralisar no desconforto. Não seja essa pessoa.

Foto de Cleyton Ewerton no Pexels

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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