Todos temos dentro de nós uma criança interior adormecida. Muitas vezes crescemos e deixamos essa pequena criança isolada e nos esquecemos que para acordá-la não é preciso muito, em alguns casos basta apenas que a gente sorria com o coração.
Então eu poderia começar esse texto dizendo sobre os benefícios desse riso que em nós foi por tanto tempo reprimido, contudo julgo ser válido contar sobre a experiência do sorrir e do despertar de minha criança interior em um dia de sol, no qual um sorriso uniu, animou e embalou em festa todos que estavam em torno de uma piscina.
Naquele dia o calor era escaldante e eu a vesti com um macacão branco e fiz um coque no alto de sua cabeça. Ela tinha dois anos e não era de falar muito. Na verdade ela sabia falar bem poucas palavras. Então quando decidimos ir a aquela festa no campo eu fiquei apreensiva, pois sabia que muitos ali não eram conhecidos e que talvez existissem adultos que quisessem tirar palavras da boca dela.
Logo que chegamos ela quis ficar brincando na grama e depois cansada foi se sentar nos degraus que rodeavam uma grande piscina. Eu fiquei ao seu lado e mostrei que na água duas garotas estavam brincando de mergulho, subindo e descendo, como dois golfinhos dourados sob a luz diurna.
Ela ficou deslumbrada. Nunca tinha visto duas pré-adolescentes brincando de forma tão divertida. Elas subiam e desciam como em um balé aquático e pareciam quase mágicas.
Foi então que ela apontou com os pequenos dedinhos as duas meninas, como se dissesse “veja como isso é lindo mamãe!” e pôs-se a rir do bonito, da surpresa, da alegria que era ver aquilo. E o seu riso não se continha, era largo, se alastrava, era um riso puro e encantador como o de um bebê.
Não demorou muito para que as meninas viessem até a borda da piscina para perguntarem o nome daquela fã sorridente e ao voltarem para a água, animadas pelas risadas, elas passaram a fazer mais e mais acrobacias, sempre embaladas pela alegria que despertavam ou não. Notei a felicidade estampada no rosto delas ao provocarem o riso e dessa forma elas se empenharam mais e mais nesse intuito.
Logo, de forma surpreendente, outras pessoas vieram se sentar ao nosso lado e todas sorriam e diziam da criança feliz que ria efusivamente ao ver beleza naquilo que os olhos adultos já não enxergam mais.
Não tardou para que uma sinfonia de risos e sorrisos envolvesse a todos. E eu olhei para aquela piscina com degraus forrados de gente feliz e para aquelas duas meninas bonitas que se alinhavam em dança, girando de acordo com o acorde da música dos risos e risadas puras e pensei em como eu tinha sido boba ao crer que a falta de palavras pudesse ser um obstáculo.
Ri da beleza da cena e de mim ao tentar premeditar a vida e deixei qualquer receio meu morrer ali, embasbacado pelo tempo em que um sorriso expansivo, recheado de risadinhas doces, contagiou a todos, despertando a criança feliz que estava adormecida em nós. Despertando a beleza mansa de se deixar sorrir por tudo e por nada.
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