Dizem que existe uma simetria matemática que faz com que reconheçamos a beleza. E mesmo sem saber como esse cálculo funciona ao certo, somos incapazes de dispensar o deleite que o belo nos causa.
Admirar o belo é como se deixar levar por uma onda mansa, contudo defini-lo é bem mais complexo. Muitos o julgam de acordo com premissas dedilhadas por pensadores há mais de dois mil anos e tantos outros o tomam de forma subjetiva. Contudo, quase sempre, projetamos o belo para fora de nós e sabemos reconhecê-lo com mérito… nos outros.
Dessa forma quando nos pedem nomes de mulheres que estão no topo de nosso ideal de beleza, citamos sem hesitar Kim Kardashian, Taylor Swift, Gisele Bündchen e Beyoncé.
Muitas vezes, sendo mulheres, sequer constamos nessa nossa espevitada lista.
Em 2011 uma empresa cosmética internacional realizou uma pesquisa com mais de 6.400 mulheres em 20 países e concluiu que apenas 4% delas se consideravam bonitas. A pesquisa também apontou que para mais de 40% das entrevistadas o rigor em seguir padrões de beleza partia delas mesmas.
Dessa forma é inegável dizer que como mulheres estamos acreditando que características físicas externas definem a nossa beleza. E quando vamos para frente do espelho buscamos como dizem por ai “pelo em ovo”.
Se acordamos com uma espinha no rosto e alguém durante o dia nos olha e diz que estamos bonitas, uma voz grita dentro de nossa cabeça “Mentira! Você não viu que eu estou com uma espinha?”. Se vamos a uma loja de calçados e um vendedor gentilmente nos auxilia e elogia o nosso pé, a voz da autocrítica berra em nós “Cara, você é cego, não viu que estou com uma unha encravada?”
Dessa forma, analisando o reduto feminino da crítica, é bem provável que aquela mulher que achamos perfeita não se ache tão perfeita assim. Quando pequena ela pode ter recebido maldosamente o apelido de “saracura” por causa das pernas longas, e desde então, quando alguém fica na onda de admirar o belo que existe nela, ela pode pensar que esse alguém está reparando apenas em suas pernas.
Muitas vezes carregamos esse tipo de complexo em nós. Achamos nossa boca grande e nos esquecemos que com ela damos o sorriso mais encantador do mundo. Não gostamos de nossas sardas e ignoramos assim que muitos amam esses nossos pontinhos graciosos. Detestamos nossas pernas grossas e fingimos não perceber que elas são invejadas diariamente. Temos pavor de nossos seios pequenos, entretanto ignoramos que existem muitos marmanjos sonhando com eles de noite. Só fazemos sexo no escuro e nos negamos a aceitar que imaginar é bom, mas se deixar enxergar é ainda melhor.
O conceito de belo é muito amplo para que o toquemos aqui com profundidade, contudo certamente há nele um embolado de questões subjetivas que dizem respeito ao nosso amor próprio. É fácil enxergar a beleza no outro, pois somos levados a crer que o outro não tem defeitos. Em contraponto somos críticos demais conosco, rotulando como defeitos o que muitas vezes são qualidades
Aceitar a nossa beleza é fundamental para que possamos fluir pelo mundo, deixando por ai o melhor de nós. Pensar em nossas características como parte integrante do que somos é fundamental. Afinal, nossos traços contam uma história não apenas nossa, mas também daqueles que nos antecedem. Fisicamente somos um bocado de nós, um tanto de nossos pais, uma pitada de nossos avós e bisavós e os levamos conosco também nisso.
Cada beleza é singular e felizmente não existem no mundo duas pessoas iguais. Muitas vezes colocamos em nossa cabeça que determinada característica é a responsável por tudo de ruim que nos acomete, mas isso não é verdade. A verdade é que felizes e realizados exalamos beleza por todos os poros e quando deixamos de querer ter o cabelo da Taylor e as pernas da Beyoncé, assumimos para o mundo o quão maravilhoso é sermos, pura e simplesmente, nós mesmos.
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