Por Lúcia Costa
Semana passada, enquanto voltava do trabalho, vi uma cadela de uma raça que desconheço.
Ela usava brinco, tiara e uma coleira onde estava gravado seu nome. Era conduzida por uma mulher de óculos escuros e um terninho branco bem ajustado ao corpo. As duas entraram em um Pet Shop e a dona lhe comprou ração de variados sabores: carne, peixe, frango, legumes… Ainda comprou uma escova de dente e um creme dental especial para sua estimada companhia peluda. Depois, entraram em uma camionete. A cadela colocou a cabeça na janela do banco do passageiro e saiu sentindo o ar que batia em seus pelos devidamente tosados. Serenava levemente e a mulher fechou os vidros do veículo para não desmanchar o penteado canino.
Também vi, na semana passada, uma criança de uns cinco anos. Eu reconheço sua raça; é a minha raça.
Ela estava com a mãe em uma parada de ônibus. Falaram alguma coisa ao motorista, que as olhou com ternura e mandou que entrassem pela porta traseira. Era um menino e estava molhado pelo sereno leve que caía. Estava sujo, descalço e queria que a mãe lhe comprasse um cachorro-quente. Exigia. Gritava. A mãe pedia, quase cochichando, que falasse baixo, pois estava “me matando de vergonha, menino”.
A mulher pedia. Implorava. O pequeno se cansou. Entreteu-se lambendo o sal de um esgotado saco de pipoca. Rasgou-o, ferozmente, e percorreu com a língua todo o interior da embalagem. Depois pediu água. A mãe lhe segredou baixinho que esperasse chegar em casa. Ele chorava alto e pedia. Implorava.
Eu desci do ônibus e vi uma cadela de uma raça, que desconheço…