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A coragem de estar à deriva

Sentir-se à deriva na vida exige coragem, fé e desapego ao medo. Não espere não sentir medo para soltar as cordinhas que te prendem ao cais. Aceite que o medo está ali como um mecanismo de defesa muito antigo e enraizado. Entenda de onde vem seu medo. Respire e sinta-o agindo sobre você.

Normalmente, o medo vem da mente, que não é capaz de suportar o vazio da insegurança. A mente não suporta nem mesmo a falta de um plano B, quem dirá de um plano A. Mas, o que ela não sabe é que toda e qualquer segurança é pura ilusão. E não adianta tentar convencê-la do contrário.

A verdade é que, por mais seguro você pense estar, por mais bem amarradas que estejam suas cordas, quando se faz necessária a hora da mudança, com um simples sopro a vida te empurra e te muda completamente de direção. Não há corda e talvez não haja nem mesmo barco que possa impedi-la.

Seria a vida, então, cruel? Talvez, no primeiro susto, seja esta a sensação. Mas, cruel seria se ela nos poupasse de todo aprendizado inerente à mudança. A vida não nos surpreende para que soframos. Ela espera que possamos aprender algo com isso para sermos mais fortes, para liberarmos o que não nos serve mais, coisa que, às vezes, é tão difícil de ser percebida. Por mais seguro que o cais seja, nem sempre ele é abrigo da sua felicidade. A hora de partir chega quando a dor do vazio torna-se maior do que o medo do novo. 

E como saber se um desejo de mergulhar no desconhecido é puro impulso, fuga da realidade ou uma necessidade real da alma? Primeiro, é preciso garantir que, caso você decida ficar à deriva, poderá assumir e arcar com os riscos dessa mudança. Isto se chama maturidade. Claro que, se você tem o apoio voluntário daqueles que o ama, ótimo. Mas nunca solte suas cordinhas esperando ser salvo caso afogue-se. Se você estiver preparado conscientemente para lidar com qualquer consequência da sua escolha (o que não significa ausência de medo) e sentir que esse risco ainda vale mais a pena do que o vazio das suas cordinhas seguras, provavelmente trata-se de uma necessidade real.

E, finalmente, quando você se solta e vai, a dor que surge pela falta do concreto transforma-se, aos poucos, em liberdade e autodescoberta. Haverá momentos de escuridão, em que nem mesmo a lua se fará presente. Estes momentos poderão ser sombrios ou perfeitos para repousar a alma e se preparar para o dia que vem. Haverá tempestades e lindos pores-do-sol. E, então, você perceberá que tudo isso já existia antes, lá naquele cais, onde você tinha a ilusão de estar protegido. A diferença é que agora você não sabe onde e quando irá atracar seu barco outra vez. Talvez você nem queira mais deixar o mar. Enquanto isso, aproveite a viagem. Quem sabe nos cruzamos por ai.

Júlia H. G.

"Amante das exatas com coração de humanas. Descobrindo nas palavras uma válvula de escape para tanta reflexão guardada."

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