Por Josie Conti
Depois da morte de Cristiano Araújo e do desrespeito com seu corpo, da liberação do casamento gay e das bandeiras coloridas no Facebook, a sequência de polêmicas que dividem seriamente opiniões segue agora com a reação pública à crônica de Zeca Camargo (final da matéria) que retoma a morte do cantor de forma irônica e desrespeitosa, ao comparar a comoção pública que mobilizou a população e a mídia nacional com o fenômeno dos livros para colorir ocorrido há alguns meses.
Ele inicia sua crítica de maneira interessante ao identificar a necessidade de catarse que as pessoas carregam em si. A catarse seria aquele momento em que sentimentos reprimidos encontram vazão. Seria aquele momento em que, no luto de um conhecido, choramos os nossos mortos, as nossas próprias perdas. Por outro lado, também seria possível identificar a catarse quando nos orgulhamos de nossos ídolos que conquistam grandes vitórias nacionais, são campeões pelo Brasil e nós, como brasileiros, também nos sentimos um pouco vitoriosos. Explode em nós, nesses momentos, também sentimentos de vitória e, naquele dia, apesar de todas as mazelas da vida, nós somos os campeões.
Zeca Camargo questiona a qualidade dos ídolos atuais, o que também não seria exatamente um problema se, ao fazê-lo, não tivesse usado do momento mais inoportuno que se poderia imaginar: a morte do ídolo de alguém, o espaço do luto de milhares. Se não tivesse comparado com desrespeito um jovem que teve a vida abreviada por uma catástrofe e que, além de morto, teve as imagens de seu corpo divulgadas nas mídias.
Zeca Camargo não percebeu que, no tempo inadequado de sua fala, mais uma vez, o jovem cantor teve sua memória profanada. Não teve a sensibilidade de ouvir o choro da população que queria chorar a morte dos jovens e, mais do que isso, a morte de um jovem do interior que deu certo e fazia sucesso, que ganhava dinheiro e tinha centenas de milhares de fãs – sonho de um povo que, no fundo, também quer ser reconhecido.
Comparar uma morte recente, seja de quem for, a um livro de colorir, foi uma atitude fria e desumana. A crítica racional do jornalista desconsiderou o sentimento de uma nação que escolheu seu ídolo naquele momento e que, bom ou mau (isso não cabe a ele julgar), foi o luto que deu vazão aos sentimentos que precisavam ser expressos, foi o luto possível.
Penso que, se o jornalista quer ver a melhora da educação de um povo e de seus ídolos, talvez pudesse começar por respeitar os sentimentos daqueles que choram.
Abaixo a crônica para quem ainda não viu.