Por Josie Conti
Ontem escrevi sobre como a repressão, a livre expressão do ser e a supressão dos valores pessoais são fonte de adoecimento e de auto-aniquilamento. Hoje continuo o raciocínio pensando sobre outro fator que nos desumaniza e entristece a sociedade atual: a falta de tempo.
Dormimos tarde, acordamos atrasados, perdemos tempo em locais que não nos agradam, como no trânsito, e sentimo-nos eternamente em débito com os amigos que não vemos, com os livros que não lemos e com o trabalho que está sempre acumulado apesar das horas extras.
Uma das coisas que julgo ser crucial num processo psicoterapêutico, por exemplo, é a pessoa ter um tempo para poder parar, falar e “se escutar“.
Enquanto alguém conta uma história ou fala sobre um sentimento, todo o seu raciocínio se organiza para que aquilo se torne inteligível, para que haja coerência dentro de si. Assim, enquanto fala- principalmente se essa fala sofrer o mínimo possível de interrupções- a pessoa poderá sentir e atribuir SENTIDOS ao que diz.
O ser humano é um ser simbólico, movido por sonhos e ideais. Para sentir-se feliz precisa de reconhecimento do outro e de si mesmo no mundo em que está inserido. Sem tempo, não há chance para reflexão e mantemo-nos reagindo automaticamente aos estímulos e demandas cotidianas.
Como alguém que não dorme e chega ao limite da exaustão, um homem que não sonha perde seu sentido no mundo. Adoece, então, por desumanização progressiva.
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