Este ano foi difícil. Muitos problemas, muitas dificuldades, muitas angústias, muitas dores. Parece não ter havido aquele alívio cômico que os bons filmes de drama possuem. Em bom português, “foi dureza”, mas sobrevivi e acredito que algo de bom restou de tantas dificuldades.
Depois de quase três anos, de fins de semana inteiros estudando e do tempo que me preparei para ingressar na Universidade, abandonei o “maravilhoso” curso de Direito. As aspas não se direcionam ao curso propriamente dito, mas às pessoas que apenas enxergam valor nos cursos com maior reconhecimento social. Depois de pensar durante muito tempo, decidi que era a hora de abandonar o barco. Não gostava do curso, nunca gostei, não me via sendo um jurista e queria fazer parte de algo que fizesse parte de mim.
A bem da verdade, sempre soube que não era o que eu queria. Mas, infelizmente, não tive coragem para seguir o meu coração e, com excesso de racionalismo, o que, diga-se de passagem, não faz nem um pouco o meu tipo, optei pelo curso de Direito. Achei que era um bom curso, com várias possibilidades de trabalho, boa remuneração, enfim, tudo aquilo que o protocolo social exige. Mas quem me conhece sabe que eu não sou de seguir o protocolo e, logo eu, o indivíduo que melhor me conhece, deixei-me enganar, achando que me adaptaria a uma vidinha burocratizada.
É, não deu. Pela minha saúde mental e pela minha felicidade, resolvi buscar o que faz o meu coração ferver. Sei que abandonar um curso concorrido como o de Direito, em uma Universidade Pública, que é o sonho de muita gente, não é fácil, no entanto, preciso correr esse risco.
A decisão que tomei divide opiniões e, inclusive, entendo quem me diz que deveria ter terminado o curso. Todavia, estar em um lugar, fazendo algo que não traz a mínima alegria, é insuportável e chega um ponto em que, por mais que se queira continuar, fica insustentável. Passei um tempo me culpando pela situação, afinal, o tempo não volta para que possamos consertar as coisas. Até que percebi que me culpar só me faria ficar triste e me impediria de continuar.
Arrependo-me de não ter sido mais corajoso à época, mas também devo olhar a situação com a perspectiva de aprendizagem. Permitir-se o erro é importante para o crescimento, pois não sabemos de tudo, nem precisamos saber, de modo que, hora ou outra, uns mais que outros, todos caem. O importante é se levantar e tirar a lição necessária daquele erro. Essa aprendizagem faz com que cresçamos emocionalmente e lidemos com mais habilidade frente às vicissitudes da vida.
Outra coisa importante, nesse processo, é o autoconhecimento. Hoje, conheço-me muito mais do que quando entrei na Universidade. Obviamente, os anos trazem maturidade, mas isso só acontece quando permitimos que ela chegue e adentre nas nossas vidas. Aprendi que jamais devemos ir por caminhos ocultos ao nosso coração, pois, quando fazemos isso, deixamos de ser nós mesmos, para sermos representações brandas do que verdadeiramente somos.
Sei que, talvez, queira demais da vida, apesar de apenas exigir dela coisas simples. Entretanto, acredito que a nossa existência deve fazer sentido e não passar de qualquer forma. Nós estamos vivos, choramos, cantamos, dançamos, rimos, sentimos. Então, passar pela vida sem deixar a nossa marca significa uma existência pobre em si mesma e isso não quero pra mim.
O luto já passou e estou preparado para nadar contra a correnteza. Tenho plena consciência de que as dificuldades serão maiores do que as que enfrentei, mas não estou disposto a viver uma vida de silencioso desespero. Por isso, neste Natal, não quero pedir nada. Quero agradecer por ter, apesar de todas as tormentas, acordado de um sonho ridículo e ter me encontrado. A vida pode não ter sido do jeito que eu imaginei, mas foi do jeito que foi e isso não posso mudar.
Para que o meu futuro não seja pele morta de um passado obscuro, estou escrevendo-o com minhas próprias mãos. Borracha não apaga o que foi escrito a tinta, portanto, escreva as linhas da sua vida e lembre-se de que as melhores histórias não são necessariamente as mais bonitas e arrumadas, mas aquelas em que, a cada linha, conseguimos sentir a batida do coração de quem a escreveu.
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