A dor do luto, seus estágios e o caminho para a superação

Com a proximidade das festas de final de ano, das comemorações em família e do inevitável balanço do ano que está acabando, é natural experimentar emoções como tristeza e saudade pela ausência de pessoas queridas, por estarem distantes ou, nos casos mais dolorosos, por morte. Em muitas famílias, junto com a alegria pelos reencontros e a comemoração de conquistas, pairam lembranças nostálgicas e um tanto de pesar pelo que se perdeu, sejam pessoas, lugares, oportunidades ou sonhos. Mas, se lugares podem ser revisitados, oportunidades e sonhos se renovam, a perda de cônjuge, parente ou amigo representa a dor por algo irrecuperável.

A morte é inevitável, faz parte do ciclo da vida, e nem por isso é um acontecimento fácil de superar, ao contrário, dependendo de vários fatores, como grau de proximidade, tipo de relacionamento, como o falecimento se deu (doença longa, acidente, suicídio), pode causar tamanho sofrimento que leva à depressão. A morte de um filho, por exemplo, é tão devastadora que, muitas vezes, a família se desestrutura de tal forma que os pais se separam. Pelo espírito gregário do ser humano, as mortes coletivas, causadas por catástrofes naturais ou não, também provocam os sintomas percebidos no luto particular e suas consequências emocionais.

O luto tem cinco estágios: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Na negação, há a incapacidade de aceitar o fato, a sensação de se estar vivendo um pesadelo do qual vai se despertar. Quando a realidade se impõe, emerge a raiva, e um senso de injustiça, acompanhado da pergunta Por quê? e suas variações. Quando a negação e a raiva mostram-se inúteis, passa-se à barganha, que consiste na tentativa de acordo para que as coisas voltem ao que eram, com promessas, negociação com a emoção ou em busca de achar um culpado, tudo feito, na maioria dos casos, em segredo. Na depressão, as pessoas enlutadas começam a ter real percepção da perda, costumam se isolar, ter crises de choro, problemas para dormir e dificuldade para exercer suas funções diárias, com diminuição da produtividade no trabalho, por exemplo. Na aceitação, o indivíduo enfrenta a situação conscientemente, as emoções já não estão à flor da pele, o desespero e a desesperança diminuíram e o processo de cura emocional se inicia.

A fase aguda do luto dura, geralmente, dois meses, podendo demorar um ano ou mais para que se vençam os sentimentos mais fortes. Superar uma perda não significa esquecer, mas aceitar o acontecido e prosseguir com a vida, inclusive pensando em quem ficou e compartilha conosco a falta e a saudade. É ser capaz de refletir e falar sobre a morte, acreditando que a transformação é necessária, e que há coisas que fogem ao nosso controle, porém, não devem nos aprisionar. É celebrar cada momento, amando e se alegrando sem se preocupar com a transitoriedade da existência, porque aquele instante é único.

O luto precisa ser vivido em todas as suas fases, mas quando a dor da perda permanece muito grande, a pessoa não manifesta sinais de reação e o sofrimento se prolonga indefinidamente, com claros sintomas de depressão, ou abuso de álcool e drogas, então é o caso de procurar psicoterapia.

Maria Cristina Ramos Britto

Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, trabalha com obesidade, compulsão alimentar e outras compulsões, depressão, transtornos de ansiedade e tudo o mais que provoca sofrimento psíquico. Acredita que a terapia tem por objetivo possibilitar que as pessoas sejam mais conscientes de si mesmas e felizes. Atende no Rio de Janeiro. CRP 05/34753. Contatos através do blog Saúde Mente e Corpo.

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