Por Patrícia Dantas
É preciso enlouquecer um pouco para encontrar a comoção das palavras. Dito isto, elas já se encontram rendidas nas mãos, porque talvez esperassem por alguém que as entendessem na raiz de palavras que dão vida e também apagam vidas. É a necessidade exata de como gostariam de ser ditas e de como sairiam respingadas de pura saliva da existência da nossa boca. É fantasioso e urgente que se diga, passando por elas, arfando no seu ritmo de total desprendimento da consciência.
Tenho que enlouquecer mesmo para colocar os pingos no is. E quem não sente que tem que provar um pouco dessa loucura todos os dias, ao menos por algum instante na vida? Ou será que eles – esses pingos já tão arredios pelas tormentas da loucura que tenta libertá-los – já não são tão passivos assim e podem se espalhar a qualquer momento, num imprevisto, para se refazerem em casa alheia, não somente em seu solo sagrado recanto de sempre?
Elas, as santíssimas e ao mesmo tempo endemoniadas palavras, necessitam estar onde caminha nossa loucura – ora compulsiva, ora dormente, ora inconsciente, ora a parte nossa mais pueril e fiel conselheira esperta e invisível. Com essa forma breve de me expressar – um tanto sutil -, por falar de uma loucura quase acertada que se faz de infinitudes, incompletudes e impaciências – mas tão urgentemente necessária! Vou tecendo, tecendo não sei o quê de atos e ficções de uma vivência tão minha – e às vezes descubro que também é alheia – que permeia cada fio inventado, meras ilusões e labirintos que fazem sentido de vez em quando.
O quê, de mais proporcional dessa loucura já tão arraigada, é uma parte mínima completa de mim e dos outros, do meu semelhante que está por perto ou me toca sem o saber, mas não pode ser um toque leve, é que ele – esse toque um tanto revelador – não existiria, por ser de um instinto tão transitório, incoerente e absurdo em suas formas de expressão com todas as palavras que saem em reboliço do emaranhado mente-imaginação-mente. Nada das obviedades que estamos acostumados a nos equilibrar: para onde, para quê, não olhe, não pare, não toque!
Verdades doloridas e absurdas podem até nos tocar além do que podemos suportar, mas é de um tempo sublime para saber o que sentimos que estamos mais necessitados; de saber ao certo por que paramos, para onde vamos, o que devemos fazer a cada pausa, mesmo diante do mais desconcertante. Se as tais respostas não vierem até nós, persistirão as interrogações arredias querendo tomar um corpo demarcado pela tensão do não entendimento, do não saber para que serve tudo isso que está diante de nós, em que pode ser útil e verdadeiro em seu estado mais puro.
Tudo me parece aleatório, vindo tão intensamente, sem saber ser dito em uma linha lógica que separa e estrutura ideias num ato continuo. Parece também que, de alguma forma falou de algo que sabemos tocar bem intimamente, em seu jeito nada usual de me colocar em estado de expressar algo tão inexpressível. Diria que essa conversa meio torpe veio sobretudo do meu encantamento pelas invenções que se criam de mim por toda parte: minha loucura desacertada e sem hora marcada.
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