Jackson Cesar Buonocore

A era da ansiedade: “nada é tão lamentável e nocivo como antecipar desgraças”

O título deste artigo parece mais um clichê sobre o tema, mas na verdade vivemos uma “onda turbulenta” de ansiedade que atinge todas as dimensões da vida social, mesmo assim, é uma questão tratada de modo superficial. Por isso que precisamos entender os transtornos que ela pode desencadear em nossa mente e corpo.

A ansiedade é um estado emocional, que está associado aos sentimentos de insegurança e incerteza, que já sentimos em menor ou maior grau. Ela tem uma função adaptativa, que move os nossos recursos psíquicos e físicos, como forma de antecipar uma situação de perigo. Porém, a ansiedade se torna prejudicial, como afirmou Sêneca: “Nada é tão lamentável e nocivo como antecipar desgraças.”

Para Freud, nascemos propensos à ansiedade, que constitui a capacidade de reagir às ameaças que põem em risco a nossa sobrevivência. No entanto, quando ela se converte numa antecipação neurótica das circunstâncias, perde seu papel de autoproteção.

O psicanalista Rollo May disse que “muitas pessoas estão ocupadas só para disfarçar a ansiedade; seu ativismo é um modo de fugir de si mesmas. Elas obtêm um pseudo e temporário senso de vivacidade correndo de um lado para o outro, como se estivessem realizando algo só pelo fato de se movimentarem, ou como se estarem ocupadas fosse uma prova de sua importância.”

Na mesma perspectiva de May, o sociólogo Zygmunt Bauman alertou que a ansiedade é a marca da nossa modernidade líquida, onde as relações são cada vez mais descartáveis e permeadas dos sentimentos de rejeição, fracasso, desaprovação, perda de prestígio, etc.

Além disso, a violência, a pobreza, o desemprego e os trágicos efeitos da pandemia do coronavírus aumentaram os níveis de ansiedade, que tensionam os músculos do corpo, aceleram os batimentos cardíacos, apertam o peito, deixam a boca seca, geram desconfortos abdominais, entre outras sensações ruins.

A nossa era da ansiedade possui um intenso vínculo com a hiperconectividade, que se caracteriza pelo uso excessivo de tecnologias, que produz os sintomas da “nomofobia”, ou seja, o medo irracional de ficar sem utilizar os smartphones e as redes sociais por qualquer motivo.

Não há dúvida de que a ansiedade faz parte da vida, contudo, no momento em que ela superdimensiona os eventos dolorosos e tristes que pertencem à condição humana se transforma num transtorno de personalidade, que causa sofrimentos e afeta os relacionamentos pessoais.

Apesar disso, temos condições de enfrentar a ansiedade, pois existem recursos à nossa disposição, como a adoção de hábitos saudáveis, a prática espiritual e para os casos mais graves o uso de medicamentos ansiolíticos, sob a orientação médica.

***
Photo by Christopher Ott on Unsplash

Jackson César Buonocore

Jackson César Buonocore Sociólogo e Psicanalista

Share
Published by
Jackson César Buonocore

Recent Posts

Especialista em linguagem corporal desvenda significado de gesto do filho de Trump na posse

Barron Trump chamou atenção na cerimônia de posse do pai ao fazer um gesto curioso.…

6 horas ago

Filme romântico que chegou na Netflix vai aquecer seu coração e melhorar seu dia

Um filme doce, charmoso e divertido que oferece um descanso para o cérebro e faz…

7 horas ago

Pescadores se chocam ao descobrir restos mortais de criatura bizarra em pântano

Os pescadores dizem nunca terem visto nada parecido antes e descrevem o ser como "assustador"…

12 horas ago

Itens de luxo e viagens caríssimas: o que Fernanda Torres pode ganhar caso seja indicada ao Oscar

A atriz, que foi presenteada com mimos avaliados em até 1 milhão de dólares ao…

14 horas ago

Quem procurar quando você está desesperado e não sabe em quem confiar?

Quando enfrentamos momentos de desespero e não sabemos em quem confiar, a busca por ajuda…

1 dia ago

A importância da hidratação na rotina dos gatos

Você sabia que uma boa hidratação é fundamental para a saúde do seu gato? No…

2 dias ago