A falsidade, a inveja e outras drogas

Caso você nunca tenha levado uma esculhambação de graça, não se preocupe. Certamente vai chegar sua vez! E a explicação para este fenômeno é muito simples: o que não falta nesse mundo é gente que curte achar defeito no outro, julgar o que o outro faz e dar opinião na vida de algum pobre desavisado só para dar uma “lustradinha” no próprio ego. O que essa gente parece não saber é que opinião é coisa preciosa; e, como tal, deve ser oferecida a quem a solicitar. Caso contrário, é mais fino e delicado guardá-la para si e ir cuidar da própria vida.

Cuidar da vida alheia é uma tola estratégia usada para tirar o foco das próprias questões. Afinal, é muito mais fácil enxergar, apontar e tornar públicos os problemas de outrem do que sair da superfície da própria história, e tentar entrar em contato com suas profundezas e com tudo aquilo que apenas aparenta estar perfeito aos olhos do mundo. O culto às aparências costuma ser o álibi preferido daqueles que morrem de medo de visitar a real estrutura de sua trajetória.

Como são perigosas essas pessoas que batem no peito e fazem exibição explícita de suas almas imaculadas, fingindo ser ícones de virtude, franqueza e autenticidade! Verdadeiros buracos negros em forma de gente! Essa espécie é capaz de fazer você acreditar que não tem valor, que suas capacidades são insuficientes, que você não é digno de alcançar sucesso ou paz.

Gente que precisa diminuir o outro e alimentar-se de sua energia para aplacar os monstros de despeito que habitam suas carcaças. Gente que nunca fica satisfeita com o que possui; sempre vai querer mais e, de preferência, o que for seu. Gente embrulhada numa gentileza falsa para esconder sua verdadeira cara azeda, disfarçada em doces gestos artificiais. Gente que sorri com uma boca dura de arrogância, enquanto os olhos sagazes perscrutam cada mínimo movimento seu para, mais tarde, usar fragmentos da sua vida em comentários vazios e, não raras vezes, enfeitados com detalhes mentirosos, maldosos e cheios de malícia.

No entanto, verdade seja dita, pensada, vivida e posta em prática: Não há carrasco que sobreviva muito tempo se não houver vítimas disponíveis. Assim, não tente dourar a pílula do veneno que lhe oferecem tão gentilmente. Não caia na armadilha de acreditar que nada do que você faz é admirável, que seus erros (só os seus!), não têm perdão e que você não é digno de possuir cada mínima coisinha que conquistou ou tudo aquilo que a sorte lhe ofereceu.

Abra os olhos, ao mesmo tempo em que, ingenuamente alarga os braços à toda gente. Há quem não mereça o seu desarmado jeito de amar. Há quem não faça jus à sua confiança. Há maldade nesse mundo, pode acreditar. Há pessoas que, caso você não estabeleça limites, invadirão a sua vida, quebrarão a sua integridade emocional e contaminarão a sua mente e o seu espírito com um bichinho traiçoeiro que acabará devorando sua coragem e alegria.

Respire! Inspire! E, principalmente, expire toda e qualquer crença que tenha vindo encaixotada com uma etiqueta explícita de destruição. Jamais ofereça ao outro o direito de julgar suas condutas, a menos que esse outro conheça, respeite e tente compreender suas limitações, dificuldades e dores. Não desista de amar. Porque o amor ainda é o mais poderoso escudo contra a maldade alheia. Continue irradiando tranquilidade, generosidade e indiferença às ofensas. Mas, em último caso, se o seu silêncio não for suficiente para calar a acidez de quem se alimenta da sua tristeza; bote seu melhor sorriso no rosto, encha o coração da mais pura determinação de não se deixar contaminar e dê um BASTA nessa falta de noção. Depois disso, fique em paz e esteja certo de que, um dia, até o mais venenoso e ardiloso dos escorpiões acaba provando do próprio veneno.

Imagem de capa: Anetlanda/shutterstock







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"