Ela é abordada em quase todas as conversas. É assunto de jornais, revistas, filmes, documentários, palestras, debates, conversas de botequim, novelas, livros, sites e outros meios de comunicação que se multiplicam de uma pessoa para a outra. É de Felicidade que todos querem falar e saber. Mas o que falta para que todos possam senti-la?
Ela passa por uma antecipação do nosso ser, uma projeção no agora, e ao mesmo tempo por uma busca fragmentada, porque é como se quiséssemos criar e pegar o futuro com as mãos, mas estamos atolados e esvaziados no presente, procurando, buscando e em voltas – com o quê, nem sabemos.
A sensação de utilidade e praticidade invade qualquer mortal e tantas vezes nos rotulamos como pós-modernos para entendermos alguma coisa. É lá mesmo que pode estar nossa Felicidade, no pós-tudo, no que sempre esperamos a partir de agora? Não, pode ter certeza que está nesse presente do exato momento que vivemos. Talvez nos falte o senso desse agora que nos toma por completo.
E o que é a Felicidade? Teremos muitas respostas. Mas, por ora, é algo profundo e verdadeiro; é a graça que se sente além do corpo material. É mais que uma mansão luxuosa, roupas de grife, carro do ano, joias finas e outros bens materiais que trabalhamos tanto para conseguir. Algumas vezes, é como se essa Felicidade caísse aos nossos pés, como se estivesse à nossa procura, como nosso objeto maior de desejo e possessão. Mas isso tudo não é medida para a Felicidade.
Algumas mudanças, por mínimas que sejam em nossa rotina, ajudam muito nessa busca pela Felicidade, ainda que seja para sair do caos rotineiro com o mesmo cheiro de sempre, mas experimentar o diferente. Experimentar o outro, a convivência com a natureza, o estar no mundo e o sentir com toda capacidade – seria como experimentar um tempero novo que explode em nossa boca.
É chocante como atos e comportamentos aparentemente simples ainda exigem grandes doses de desprendimento e fuga de uma prisão inventada para fugir de muitas coisas, inclusive da nossa mania de colocar eternidade em qualquer acontecimento. Parece até que não temos noção da finitude. É, às vezes não temos, realmente.
E nossa fuga pode ser para qualquer lugar, mas o melhor deles está dentro de nós, é lá que podemos nos acalmar e nos conhecer melhor, como um vizinho que ainda é estranho e aos poucos vai adentrando e participando da vida do outro, como se aquele fosse um paraíso para ser conhecido, mas que exige grandes responsabilidades, porque cativar existe sempre uma entrega nem sempre pacífica.
A Felicidade não é para poucos, é para qualquer um. Está na capacidade de cada indivíduo desenvolver habilidades que não podem ser medidas com uma moeda de troca, mas vividas com toda intensidade do mundo. E aqui eu deixaria algumas dessas habilidades que costumo observar nas pessoas: amor, humildade, generosidade, ternura e tantos outros sentimentos altruístas. Não precisamos de uma lista muito extensa, basta praticarmos qualquer uma, aleatoriamente, para notarmos grandes diferenças em nossos dias. Ela também pode estar num sorriso aberto, num abraço apertado, num olhar profundo que diz mais que palavras organizadas.
O desenrolar disso tudo é bem visível – não ousaria dizer previsível -, mas é a sensação do que podemos ver não só com os olhos. Está além de olhares, conversas, toques. É preciso muito mais agir, abraçar o mundo como se fosse o último ato.
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