A garota dinamarquesa (The danish girl)

A Garota Dinamarquesa (The Danish Girl) é um filme dirigido por Tom Hooper, baseado no romance homônimo de David Ebershoff, com atuações impecáveis de Eddie Redmayne e Alicia Vikander nos papéis dos artistas Einar Mogens Wegener/Lili Elbe e Gerda Wegener.

O filme conta a história do pintor dinamarquês Einar Wegener que, em 1931, foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de mudança de gênero.  A história gira em torno do relacionamento do pintor dinamarquês com sua esposa Gerda e o processo de transformação dele em Lili Elba.

Em Copenhague, Einar é um pintor em ascensão e sua esposa Gerda busca reconhecimento como pintora. Um dia, ela pede ao marido que pose vestido de mulher para concluir um dos seus quadros despertando em Einar sentimentos, até então, adormecidos. A partir daí, começa a luta do pintor para readequar o seu corpo ao seu gênero.

A beleza do filme está na história de amor, companheirismo e cumplicidade do casal protagonista e no desejo e coragem de Einar em se tornar o que ele acreditava já ser por dentro há muito tempo: mulher. Numa das passagens do filme ele afirma: “Eu penso como a Lili, tenho os sonhos dela. Ela esteve sempre lá.”

Einar vive os conflitos e dificuldades de ser transgênero e os médicos só pioravam o seu estado emocional, tratando-o como uma pessoa louca ou desviada, mas é em Gerda que ele encontra forças para seguir sempre em frente.

Ao mesmo tempo em que Gerda apoia Einar, ela precisa superar seus próprios conflitos diante da perda do marido, da própria solidão e, também, da dificuldade em se adaptar a situação que vive. Porém, o seu amor transcende o gênero, o preconceito e as dificuldades. A personagem nos mostra que muitas vezes amar é deixar o outro partir e é o que Gerda faz, ela deixa Einar partir para que Lili finalmente viva.

Lili, por sua vez, conquista pela sua delicadeza e inocência, numa belíssima atuação de Eddie Redmayne. Uma mulher frágil e ao mesmo tempo muito corajosa por buscar a sua verdadeira essência, numa época em que atitudes como a sua eram associadas à loucura.

O filme é tocante, seja pelo amor transformador dos protagonistas, seja pela coragem de Lili, seja por trazer um tema que precisa ser tratado na sociedade com menos preconceito e julgamento.


 

Muitos estudos médicos sobre o transexualismo defendem que a cirurgia de redesignação sexual é de natureza terapêutica, pois trata-se de uma situação irresistível ao indivíduo que reclama a readequação do seu sexo biológico ao psicológico. Como se vê, a medicina avança em uma velocidade maior do que a mentalidade de parte da sociedade que ainda se mostra altamente preconceituosa quanto ao assunto.

Isto porque, quase 90 anos depois da história de Lili, ainda há, por muitos, uma grande resistência em aceitar as diferenças e isso se expressa de modo intenso no campo da sexualidade, o que é lamentável.

O filme foi bem avaliado pela crítica, inclusive pelas atuações soberbas de Eddie Redmayne e Alicia Vikander. Ambos vão concorrer ao Oscar 2016.  Por outro lado, alguns censuraram o longa por não expor que Einar/Lili era intersexual e, por isso, já tinha características tanto masculinas como femininas, o que também explicaria grande parte dos seus conflitos e sofrimento.

Abaixo, imagens do verdadeiro Einar Wegener / Lili Elbe:

A questão é que independente das críticas positivas ou negativas, o filme é belo e nos faz pensar com um olhar mais humano sobre o assunto, pois numa sociedade com tanta complexidade como a nossa, que envolve a multiplicidade, a variedade, a pluralidade social, onde convivem vários grupos heterogêneos não deveria haver espaço para preconceitos de qualquer natureza.

Ana Vasconcelos

Não há limites para a arte, apenas liberdade.

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