Não são poucos os textos que discorrem sobre o descompromisso emocional das novas gerações, no sentido de que a nova ordem dita o desapego como norte a guiar os passos de quem quiser ser feliz e se livrar de decepções. Tudo está mais fácil, hoje, haja vista as quinquilharias tecnológicas que tornam tudo obsoleto de um dia para o outro. Descarta-se, assim, o que vier, desde objetos até pessoas.
É proibido demorar-se demais em lugares, em sentimentos, sensações, em pessoas. Tudo vai embora, ou seja, se tudo termina, nada deve permanecer como apego. Nessa direção, apenas o superficial se permite, pois aprofundar-se trará, fatalmente, dor. Pessoas vão embora, sentimentos acabam, carinho morre, nada é para sempre, portanto, o caminho mais fácil é seguir sem olhar fundo nos olhos de ninguém, sem acolher, sem aninhar nada nem ninguém dentro de seu coração.
Aconselham-nos a não nos preocuparmos com as dores que não são nossas, com as preocupações de vidas outras, com o que acontece fora de nosso mundinho. A regra é somente oferecermos na medida do que nos oferecem, contendo qualquer vontade de se doar para além do que nos retornam. Fechar a guarda, fechar as portas e as janelas, fechar-se. Afinal, dizem, quanto menos pessoas trouxermos para junto de nós, menos chances teremos de sermos passados para trás.
Nesse contexto, nada é profundo, tudo é superficial e passageiro. Não se aprofundam conhecimentos, amizades, sensações, emoções, sentimentos, relacionamento algum. Nivela-se por baixo tudo o que há, sem que sejam alçados voos que ultrapassem a parca zona de conforto em que incomodamente nos acomodamos. Ninguém parece querer saber, ter, conhecer, amar mais do que o mínimo. Medo de sofrer, medo de se ferrar, medo de viver de verdade.
E, assim, perdem-se oportunidades de se experenciar tudo como realmente é, de se conhecerem as coisas e as pessoas como elas são, de se viverem grandes amores, grandes histórias, grandes aventuras de vida. Porque o medo de sofrer acovarda, apequena, tolhe, restringe, tornando-nos menos amados, menos sábios, menos gente.
Como tão bem coloca Ruth Manus, tem-se uma geração que “trata tudo como descartável e que termina por ser, ela mesma, tão descartável quanto uma garrafa pet. Com a diferença de que a garrafa será reciclada e nós… Nós deixaremos algumas selfies como legado”.
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