Isaias Costa

A gula não se resume a comer muito

Quando se fala em gula o primeiro pensamento que nos vem é comida não é mesmo? Mas uma coisa que a grande maioria das pessoas não sabe é que a gula não se resume apenas a comer muito, vai muito mais além, e quero nesse texto ampliar a reflexão.

A palavra gula é praticamente um derivado da palavra goela, que por sua vez é sinônimo de garganta, que faz conexão com o esôfago, canal que leva os alimentos até o estômago. É por isso também que tentemos a pensar na gula como o ato de comer em excesso.

Uma análise psicológica profunda necessariamente nos remete à infância e nossos primeiros anos de vida. A vontade de comer demais sempre está ligada a alguma carência afetiva. Até os 2 ou 3 anos a criança se encontra no que Sigmund Freud denominou de fase oral, na qual experimentamos o mundo e as sensações de prazer e desprazer através da boca.

Os estudos em Psicologia comprovam que as crianças cujas mães não amamentaram unindo a alimentação com o toque físico, o olhar, o cheiro e a atenção voltados para a criança, elas vão crescendo com uma sensação de rejeição, de falta de carinho, de escassez etc. Quando já na adolescência ou vida adulta a pessoa come em excesso, é como se ela inconscientemente estivesse buscando preencher essa lacuna de afeto com algo que dê um prazer semelhante à amamentação. Não aprofundarei nesse ponto porque é bem complexo e repleto de nuances!

A mente de uma pessoa que tem gula é repleta de medo do sofrimento, da escassez, da fome. E é aqui que quero aprofundar mais. Existem diversas facetas da gula que vale a pena ser citadas, inclusive há um ditado para o comportamento guloso: “Querer abarcar o mundo com as pernas”. Você sabia que aquelas pessoas que passam o dia inteiro buscando algo que preencha 100% do tempo têm gula em maior ou menor grau? Por exemplo. Ela olha sua agenda e horários livres e está sempre querendo colocar algo para preencher, como um esporte, uma aula de música, um curso de línguas estrangeiras, uma nova série no Netflix etc.

Existe um medo de se achar incompetente, ou preguiçosa, ou improdutiva nas pessoas com essa tendência. E quanto à questão de séries ou filmes pode ser um sentimento de estar desconectado ou desatualizado em relação aos amigos! E o sofrimento que tudo isso pode gerar muitas vezes é gigantesco. A ansiedade talvez seja o maior deles. O que tem de pessoas que hoje são diagnosticadas com a TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) é estarrecedor. Muitas delas têm essa gula e nem percebem…

Mas o que fazer para curar ou pelo menos melhorar nisso Isaias? A primeira coisa é identificar que tem essa gula psíquica. A leitura desse texto já pode ser esse primeiro insight! A segunda é investigar o passado e tentar entender onde e quando faltou afeto?

Como as carências afetivas começaram a se instalar? E a melhor maneira de identificar é buscando algum auxílio psicológico ou terapêutico. Eu sempre gosto de enfatizar que 100% das pessoas deveria fazer alguma terapia, porque viver nesse mundo repleto de desafios de todas as naturezas gera desarmonias e desequilíbrios até entre as famílias mais estruturadas e harmoniosas!

Um 3º ponto está ligado ao nosso EGO, que busca ser reconhecido, aplaudido, enaltecido. Uma pergunta que eu mesmo me fiz e foi transformadora é a seguinte: “Se eu fizer tal coisa um pouco mais pra frente qual será o prejuízo real para minha vida?”. Aqui entra a gula por preencher o tempo com “n”atividades. É preciso pensar nas prioridades. Por exemplo: eu farei um intercâmbio nos EUA em menos de 1 ano, então estudar inglês é uma prioridade, mas será que ao mesmo tempo fazer 8 cadeiras na faculdade seria também uma prioridade? Você poderia diminuir o número de cadeiras para se dedicar mais ao estudo do inglês.

Outro exemplo, estou assistindo a uma série no Netflix que tem 10 temporadas com mais de 20 episódios em cada uma. Por que assistir 5, 6, 7 episódios em sequência, podendo prejudicar outras atividades importantes ou o próprio sono? Seria mais inteligente se programar para assistir a 1 ou 2 episódios todos os dias.

São pequenas atitudes que podem nos ajudar a vencer essa gula, que como citei, se inicia na nossa mente que busca preencher alguma carência com algo que gere prazer imediato, mas junto com o prazer traz efeitos colaterais bem negativos como obesidade, ansiedade, sono excessivo, estafa, perfeccionismo etc. etc.

Siga essas dicas práticas que você rapidamente perceberá mudanças positivas acontecendo na sua vida…

Photo by Malcolm Garret from Pexels

Isaias Costa

Bacharel em Física. Mestre em Engenharia Mecânica e Psicanalista clínico. Trabalha como professor particular de Física e Matemática e nas consultas com Psicanálise em Fortaleza. Também escreve no seu blog "Para além do agora" compartilhando conteúdos voltados para o autoconhecimento e evolução pessoal. Contato: isaiaspsicanalista@gmail.com

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