Entre os livros, os seminários e os blogs, o estudo de como viver uma vida feliz é praticamente um gênero por si só. Mas será que toda essa caça à felicidade funciona de fato?
O psicólogo Todd Kashdan disse ao Huffington Post que a ideia de que deveríamos nos sentir bem sempre nos faz mal. Algumas pesquisas sugerem que os americanos estão ficando menos felizes, na realidade, à medida que os anos passam. E, segundo Kashdan, é justamente nossa busca incansável da felicidade que pode nos estar levando no rumo errado.
Mas, dada a cultura de positividade em torno das pesquisas e dos textos sobre felicidade, é fácil esquecer que os sentimentos “ruins” são saudáveis e, na realidade, essenciais para compor o espectro emocional total da experiência humana. “Os dados científicos são muito claros: quando tentamos esconder nosso sofrimento, somos menos produtivos e eficazes e acabamos nos sentindo emocionalmente pior”, disse Kashdan.
Em seu novo livro, The Upside of Your Dark Side: Why Being Your Whole Self — Not Just Your ‘Good’ Self — Drives Success And Fulfillment, escrito em co-autoria com Robert Biswas-Diener, Kashdan advoga o valor dos sentimentos negativos. (O título pode ser traduzido como “O lado positivo de seu lado sombrio: por que ser seu eu inteiro – não apenas seu eu ‘bom’ – alimenta o sucesso e a realização”.)
Kashdan acha que essa procura concentrada da felicidade anda de mãos dadas com uma tendência forte a buscar o conforto e evitar qualquer tipo de desconforto, e isso, ele argumenta no livro, nos está enfraquecendo psicologicamente.
Então qual seria a solução? Para começar, é hora de abraçar o que é incômodo, aprendendo a vivenciar e apreciar plenamente as emoções negativas, enxergando-as como um aspecto natural e até útil de nossas vidas. Segundo o psicólogo, também deveríamos cultivar o que ele chama de “agilidade emocional”: a habilidade de reconhecer e atrelar emoções apropriadas (positivas ou negativas) para qualquer situação em que nos encontremos.
A seguir, quatro ensinamentos importantes de The Upside of Your Dark Side.
O sentimento de culpa nos torna pessoas melhores.
“O sentimento de culpa fortalece nossa fibra moral, nos motiva a ser cidadãos mais socialmente sensíveis e conscientes do que seríamos de outro modo. Por exemplo, pesquisadores descobriram que adultos que tendem a sentir culpa têm menos probabilidade de dirigir embriagados, consumir drogas ilegais, roubar ou agredir outra pessoa. Se o caráter se reflete no que você faz quando ninguém está olhando, então a emoção moral chamada culpa é um dos blocos básicos dos quais o caráter é construído.”
Duvidar de si mesmo fortalece seu desempenho.
“Uma coisa que muitas pessoas não percebem é o fato de que a dúvida, em doses moderadas, exerce uma função salutar. A dúvida é um estado psicológico que nos leva a avaliar nossas habilidades e nos esforçar para melhorar em áreas onde podemos ser insuficientes. Karl Wheatley, pesquisador da universidade Cleveland State, argumenta que a dúvida pode ser benéfica, pelo menos no caso de professores escolares. Ele observa que, quando professores sentem incerteza quanto a seu desempenho, esses sentimentos incentivam a colaboração com outros, fomentam a reflexão pessoal, motivam o desenvolvimento pessoal e preparam a pessoa para aceitar mudanças.”
A ansiedade nos ajuda a encontrar soluções para problemas.
“Nas zonas de perigo, a ansiedade fala mais alto que a positividade. Em situações em que o perigo é uma possibilidade mas os indícios podem ser obscuros, complicados ou incertos, a ansiedade pesa mais que a positividade. Em tais casos, as pessoas ansiosas rapidamente descobrem soluções, e, quando há uma equipe em volta delas (amigos, família, colegas de trabalho), elas compartilham o problema e as soluções. Os grupos são mais bem-sucedidos quando incluem um misto de vários tipos de personalidade, com pontos fortes diferentes – e incluindo pelo menos uma sentinela ansiosa.”
Deixar a mente vagar à toa nos deixa mais criativos.
“A criatividade é associada há muito tempo à incubação inconsciente. Você provavelmente já conhece a ideia do ‘momento aha’, aquele insight repentino que de repente traz a solução de um problema ou apresenta uma ideia relevante, no momento mais inesperado. Parece que há algo de inventivo na atenção solta, não focada. As pesquisas fundamentam a ideia de que a criatividade nos pega de surpresa.”
Por Carolyn Gregoire
Fonte indicada Brasil Post
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