Em tempos de louvor ao sexo casual, essa invenção maravilhosa para juntar a gente com outra gente que naquele momento só quer isso mesmo, unir boca, pele e corpo numa dança sem compromisso, durante a qual partilha-se a urgência do desejo e atende-se o apetite físico, almejar o prazer da intimidade parece ser um sonho extremamente ambicioso.
Um bom encontro sexual entre duas pessoas depende apenas de que aconteça uma conexão química, tipo fogo sobre um campo de trigo que não vê chuva há meses. O incêndio é rápido, toma tudo, invade os espaços, queima, produz calor. Depois, de alguns minutos, ou horas (se tivermos bastante sorte), ele apaga. Deixa-nos apaziguados, indolentes, soltos.
A necessidade de sexo nos acompanha desde que ainda nem sabíamos nada de nada dessa vida e de nossas intrincadas relações com o outro. O tom afetivo de nossos pais, desde os nossos primeiros dias de vida, vai contribuir para nossa modulação emotiva e sexual. O nosso comportamento erótico, enquanto adultos, teve sua estrutura estabelecida em nossos primeiros anos de vida; e, é isso que vai configurar a nossa sexualidade.
Ainda bem pequenos, começamos a explorar o universo das sensações a partir do nosso corpo. Nossas primeiras experiências de prazer estão intimamente ligadas ao toque, ao cheiro, ao gosto, aos estímulos visuais e auditivos. É dessas experimentações que nasce o nosso comportamento sexual, nossas preferências nosso diálogo com as fontes de prazer.
Aqueles que cuidaram de nós lá atrás tiveram um papel fundamental e básico na constituição das formas de nos relacionarmos. A depender do vínculo que se estabeleceu, seremos mais ou menos sensíveis e receptivos aos toques, mais ou menos disponíveis para nos entregar e acolher, mais ou menos confortáveis em relação às nossas necessidades de afeto e prazer.
O aprendizado afetivo na infância define a origem da nossa capacidade de amar, quer sejam amores passageiros, temporários ou para a vida inteira. E, acredite, mesmo quando nos dispomos a um encontro de sexo casual, pode haver amor ali. Não se trata desse amor estereotipado que cabe em expressões absolutamente vazias do tipo “eternos namorados”.
Amor depende da disposição de despir-se de relacionamentos idealizados, para acomodar na pele e no peito algo de bonito que pode vir da partilha do nosso corpo, alma e sonhos, com alguém igualmente disposto a partilhar. Amor pode ser essa maravilhosa sensação de estar voltando para casa, depois de uma eternidade perambulando por aí. Amor pode ser a percepção de que aquele toque, em especial, era tudo o que precisávamos para nos reconectar de volta.
Descobrir uma conexão erótica e afetiva com alguém é uma experiência das mais avassaladoras. De repente, o som daquela voz nos tira do eixo das coisas desimportantes e nos lança num mundo cheio de horinhas descuidadas nas quais nos surpreendemos a sorrir absolutamente à toa. De repente, um riso que se mistura com o outro, é mais perfeita música que poderíamos ouvir para nos levar a um lugar de afetos que libertam, aquecem e curam. Sexo, apenas ele, já é uma espécie de comunhão. Sexo, com intimidade e afeto é dessas coisas que nos fazem acreditar na beleza inquestionável de estarmos vivos.
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